Enquanto a taxa de homicídio geral apresenta queda em todo Brasil, os homicídios femininos cresceram 0,3% de 2020 para 2021, como revela a edição 2023 do Relatório Atlas da Violência. Essa estatística sombria reflete a presença onipresente da violência no cotidiano das mulheres brasileiras, marcando suas vidas em diferentes dimensões.

O que temos para comemorar no Dia Internacional das Mulheres? Antes de refletirmos sobre as preocupantes estatísticas em nosso país, um breve recorte histórico sobre a criação da data no mundo.

Suas sementes foram plantadas em 1908, quando 15 mil mulheres marcharam pela cidade de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto. Um ano depois, o Partido Socialista da América declarou o primeiro Dia Nacional das Mulheres.

A proposta de tornar a data internacional veio de uma mulher chamada Clara Zetkin, ativista e defensora dos direitos das mulheres. Ela deu a ideia em 1910, durante uma Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague. Estavam presentes 100 mulheres, representantes de 17 países, e elas concordaram com a sugestão por unanimidade.

A data foi celebrada pela primeira vez em 1911, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Mas o Dia Internacional das Mulheres só foi oficializado em 1975, quando a ONU começou a comemorar a data. Tornou-se uma ocasião para celebrar os avanços das mulheres na sociedade, na política e na economia, e também para se expandir, de forma contínua, a conscientização social em relação à desigualdade de gênero.

A proposta da ativista Clara Zetkin de criar um Dia Internacional das Mulheres não tinha uma data fixa. A data só foi formalizada depois de uma greve em meio à guerra, em 1917, quando as mulheres russas exigiram “pão e paz”. Quatro dias depois dessa greve, o czar foi forçado a abdicar e o governo provisório concedeu às mulheres o direito ao voto.

 

A greve das mulheres começou em 23 de fevereiro, pelo calendário juliano, utilizado na Rússia na época. Este dia corresponde a 8 de março no calendário gregoriano — quando é comemorado hoje o Dia Internacional das Mulheres.

 

A VIOLÊNCIA NO BRASIL

Mesmo com avanços legais, como a Lei do Feminicídio de 2015, que reconhece a especificidade dessa forma de violência, o assédio moral, sexual, o feminicídio e outras agressões físicas e psicológicas continuam assolando as mulheres brasileiras.

Os números são alarmantes: somente em 2021, 3.858 mulheres foram assassinadas e, durante o período pandêmico, entre 2020 e 2021, 7.691 vidas femininas foram perdidas no país. E ainda mais chocante é o fato de que, durante esse período, 745 mulheres agredidas terem sido identificadas como Mortes Violentas com Causa Indeterminada. Desde 2011 até 2021, mais de 49 mil mulheres foram assassinadas no Brasil.

Os feminicídios, em particular, aumentaram significativamente, passando de 0,43 para 1,2 por 100 mil habitantes, a partir de 2019. Além disso, os homicídios de mulheres negras representam 67,4% do total de mulheres assassinadas, evidenciando a interseccionalidade da violência de gênero e a discriminação racial em nosso país.

A violência armada é uma preocupação central, com metade dos feminicídios ocorridos entre 2012 e 2020 envolvendo armas de fogo. E a situação é ainda mais alarmante com o crescimento de grupos neonazistas no Brasil, que promovem o ódio contra mulheres, negros, LGBTQIA+ e judeus.

Os impactos da violência na saúde e bem-estar das mulheres são devastadores, incluindo depressão, estresse pós-traumático, ansiedade, suicídios e transmissão de infecções e HIV/AIDS. A Organização Mundial da Saúde enfatiza a importância de se identificar e isolar os agressores para garantir um ambiente seguro para as mulheres.

Diante desse cenário avassalador, é essencial que a sociedade se mobilize para enfrentar o problema. A denúncia é o primeiro passo: o número 180 está disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana, para oferecer orientações e apoio às vítimas de violência. Além disso, a Lei Maria da Penha, criada em 2006, é uma importante ferramenta legal para combater a violência doméstica.

É hora de ação coletiva por parte do Estado, das empresas e da sociedade civil para garantir a vida e a segurança das mulheres brasileiras. Afinal, não podemos mais permitir que a violência continue ceifando vidas e perpetuando o sofrimento de tantas mulheres em nosso país.

Referência

https://ipea.gov.br/portal/

https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes/276/atlas-2023-violencia-contra-mulher

Núcleo de Disseminação de Pesquisa DIEST/Ipea: Camila Escudero (edição e planejamento), Raquel Tavares e Luciane Crippa (conteúdo e revisão) e Victor Gomes (design e diagramação)

https://forumseguranca.org.br/

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.