29/08/2023 - 17:55
Alguns momentos da vida nos fazem rever toda nossa história, nossas atitudes, relacionamentos. Para Renata Spallicci, o motivo veio recentemente, ao receber o diagnóstico de um câncer no intestino. Vice-presidente executiva da Apsen Farmacêutica, colunista da IstoÉ Mulher e apresentadora do podcast Pode, Rê?, a empresária, que também já foi rainha de bateria e fisiculturista, se viu numa situação de grande vulnerabilidade. Lutou para não perder a fé em momento algum, mas reforça: para que o tratamento seja bem sucedido como o dela, o diagnóstico precisa ser feito logo no início dos sintomas.
– Não temos histórico de câncer na família – ela conta. Na verdade, decidi fazer um check-up porque estava ficando doente com frequência desde a pandemia. Em março deste ano tive duas infecções intestinais e uma urinária ao mesmo tempo, que me gerou uma hepatite. Logo em seguida peguei Influenza B, com uma carga viral fortíssima. Foi então que decidi pedir uma bateria de exames: endoscopia, ecoendoscopia e colonoscopia. A suspeita, que era de micro litíase na vesícula, se concretizou em um tumor que tudo apontava ser maligno.
O câncer no intestino é um dos mais comuns, e cada vez mais é diagnosticado em pessoas mais jovens, a partir dos 25 anos – o que torna importante revisitarmos os protocolos brasileiros, que pedem a colonoscopia e a endoscopia apenas a partir dos 45 anos, mesmo quando não há presença de outros sintomas.
Não há dúvidas de que o diagnóstico de um câncer não é fácil de se receber, mesmo para uma mulher positiva. Renata assume que se sentiu muito fragilizada: “Num primeiro momento, a sensação de não compreender aquilo era enorme. Parecia um filme, ficou tudo mais lento ao meu redor e meu raciocínio parecia comprometido. Até que fui acolhida pelo Dr. Alberto Goldenberg, que me explicou que o câncer estava em estágio muito inicial e que isso era ótimo para o restante do tratamento. Marcamos a cirurgia para dali a seis dias. Vivi um mix de emoções que durou 11 dias”.
Para além da saúde mental, Renata viu sinais físicos daquele diagnóstico: “Meus braços não tinham mais veias, estavam todas muito finas de tanta medicação, antibióticos e morfina. Meu corpo inchou depois de sete dias de soro mas, mesmo assim, quem me conhece, consegue imaginar como eu estava no hospital, não reclamei, só gratidão. No dia seguinte à cirurgia, confesso que desabei: chorei o dia inteiro. A morte não passou pela minha cabeça, me agarrei com todas as forças na minha fé, e assim consegui prosseguir – todos os dias estava vestida, maquiada e fazendo minhas caminhadas. A vontade de viver e de celebrar cada conquista era enorme”.
Ela continua detalhando memórias dos dias de angústias: “Desde que recebi a notícia fui tomada por uma força descomunal e pela certeza de que Deus sempre tem um propósito em nossas vidas. Meus questionamentos desde então eram sobre o essencial, sobre o que eu preciso aprender, o que preciso mudar. Decidi aproveitar esses dias para refletir e desfrutar da minha companhia, pouquíssima TV, músicas para fluir as emoções e caminhadas para desinchar”.
Mesmo se tratando de uma situação grave, foi capaz de tirar lições para a vida: “Naqueles dias, escutei bastante a música Por onde andei, do Nando Reis, e percebi que todos os outros problemas ficaram pequenos, todos os compromissos se tornaram dispensáveis. Meu foco foi, e vai continuar sendo, me conectar profundamente com Deus e com a sua essência. Com certeza, essa foi a experiência mais profunda de autoconhecimento que eu vivi”, ela diz antes de completar: “Agora, além de cuidar do meu corpo, quero focar em nutrir a minha alma. Tive uma conversa muito importante com uma das minhas médicas sobre alimentos serotoninérgicos e, daqui para frente, pretendo seguir o hábito de tê-los em meus novos costumes, afinal, não dá para negar que cuidar da mente depois de uma situação como essa é extremamente necessário”.
Em tempo, “alimentos serotoninérgicos” são aqueles que, além de ajudar trazendo os nutrientes necessários ao corpo, também ajudam na produção de serotonina, o hormônio que é fundamental para nos causar boas sensações e felicidade.