Machista, eu? Como essa cultura ainda está enraizada em nossas vidas

Machista, eu? Como essa cultura ainda está enraizada em nossas vidas

Ainda na esteira das celebrações do Dia Internacional da Mulher, agora em março, realizamos uma palestra na Apsen com a advogada e professora universitária Ruth Manus, cujo trabalho aborda temas como empoderamento feminino, igualdade de gênero e a presença das mulheres no mercado de trabalho.

Fiquei tão impactada com a forma simples e clara com que ela abordou o tema do machismo, ainda tão presente em nosso dia a dia, que faço questão de usar o espaço de minha coluna para dividir com vocês alguns exemplos de como a cultura machista está enraizada em nossas vidas – e como, muitas vezes, nem nos damos conta disso.

Querem ver só? Quantas de nós, mulheres, já ouvimos (ou até mesmo formulamos) a seguinte frase:

“Ah, mas o meu marido me ajuda muito em casa! Ele até lava louça!”

Hum… percebem o erro da frase? Implicitamente, a colocação reforça a ideia de que a responsabilidade pelas tarefas domésticas é exclusivamente da mulher, enquanto o papel do homem é apenas “auxiliar”, como se não fosse uma obrigação compartilhada do casal.

Ainda no tema de desigualdade nas responsabilidades domésticas, vocês já repararam que, mesmo quando a mulher recebe ajuda externa de uma diarista, faxineira ou mensalista doméstica, é ela quem fica encarregada de coordenar as tarefas da funcionária? Desde passar a rotina da casa e dos filhos até gerenciar a despensa, as refeições, enquanto o homem se exime dessas responsabilidades, afinal:

“Eu já pago a funcionária.”

Vamos agora exemplificar com fatos no mercado de trabalho?

A mulher faz um trabalho maravilhoso dentro da empresa, gasta horas e horas estudando o tema, fazendo análises, consultas e, ao apresentar, um colega “bem-intencionado” exclama:

“Vocês viram? Ela veio até mais bonita para fazer a apresentação do projeto. Tá toda maquiada, cabelo arrumado…”

Sim, foca-se na aparência da mulher, ao invés de ressaltar sua competência para resolver determinado tema ou analisar um projeto importante. Como um hábito entranhado em todos nós, reduzimos a mulher a um objeto de admiração estética, ignorando suas habilidades e conquistas profissionais

Estou exagerando? Não, né? Vocês certamente já passaram ou viram alguma colega passar por isso.

E Ruth nos deu ainda outros exemplos tão comuns em nosso dia a dia, quando nem percebemos a carga machista que eles carregam! Querem ver só?

Já perceberam que, quando um homem no ambiente profissional está falando alto, de forma dura e incisiva, ele está bravo – mas quando uma mulher tem a mesma atitude, ela é louca e histérica?

Sim, homem decidido é focado, mulher decidida é mal-amada, maluca! E sabe o que é pior? Muitas vezes, as próprias mulheres fazem essa leitura!

Sim, a forma como as emoções são percebidas no ambiente de trabalho é reveladora. Enquanto um homem pode ser visto como assertivo, ao demonstrar indignação, uma mulher que expressa as mesmas emoções é frequentemente rotulada de forma pejorativa, perpetuando estereótipos de gênero.

Ainda no ambiente profissional, Ruth nos relatou fatos comuns que, infelizmente, observarmos todos os dias: reparem o quanto as mulheres são interrompidas com mais frequência do que os homens durante reuniões, uma manifestação clara do desequilíbrio de poder e da falta de respeito pelas contribuições femininas.

E há ainda outro comportamento lamentável: quando os homens se apropriam das ideias das mulheres e as apresentam como suas, usurpando o crédito pelo trabalho alheio e perpetuando a invisibilidade feminina no ambiente profissional.

Infelizmente, exemplos não faltam e não podemos mais fingir que o problema não existe ou que algumas mudanças superficiais na sociedade são suficientes para eliminá-lo.

A desconstrução do machismo e da chamada “masculinidade tóxica” é um processo complexo que requer a união de todos, homens e mulheres! Não é uma questão política, desta ou daquela ideologia, mas uma necessidade premente da nossa sociedade.

E como podemos mudar isso? Promovendo uma cultura de diálogo e aprendizado para levarmos essa compreensão a todos.

Como gestora, reconheço a importância de fornecer educação e sensibilização sobre esses temas, em nossa equipe na Apsen, e o fazemos de forma sistemática e constante. Testemunhar o processo de aprendizado e autoquestionamento dos membros da equipe é encorajador e reforça minha convicção de que a mudança é possível, tanto individualmente quanto por meio de ações corporativas e iniciativas educacionais.

Ao assistir a palestras como as da Ruth e ver nos olhos das pessoas a confirmação de que aqueles exemplos citados são, sim, ainda parte do nosso dia a dia, percebo o valor dessa educação e conscientização, fato que me motiva a continuar promovendo esse propósito como mulher, gestora, palestrante e escritora.

Embora a jornada seja longa, não podemos desanimar diante dos obstáculos. Temos o dever de honrar aqueles que vieram antes de nós e continuar avançando nessa trajetória de igualdade e justiça.

Vamos seguir juntas?

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.