Eu trilhei minha carreira na área de qualidade na indústria farmacêutica, troquei de empresa algumas vezes e, em todas elas, no momento da entrevista com o diretor ou outra autoridade máxima da empresa, o discurso era o mesmo: Queremos uma qualidade efetiva, alguém que implemente de fato as ferramentas de qualidade, que conscientize as pessoas, que eleve a qualidade de nossos produtos. Pois bem, estou aqui para isso!

Curioso que também, na maioria delas, vários profissionais haviam assumido essa cadeira aparentemente “sem sucesso”.
Bastavam três ou quatro meses para eu entender o motivo: Queremos mudança, mas não queremos o incômodo que ela traz, é o que na verdade deveriam dizer. Não queriam sair da zona de conforto, e eu não conseguia o suporte da mesma direção que trouxe o desafio, quando um gerente de outra área era resistente aquela mudança.

Quantas vezes em reunião eu mesma dizia: Pessoal, estamos agindo exatamente igual ao que estavam criticando outro dia, assim não teremos a evolução que fui contratada para realizar. Naquele momento, caía a ficha e davam um passo atrás, mas logo voltavam ao status quo.

Essas experiências me trouxeram alguns aprendizados:

  • Nunca entre em uma nova empresa julgando as pessoas que eram “donas” daquela posição no passado: elas podem ter muito mais semelhanças do que diferenças com você. Procure entender o motivo do colaborador anterior não ter conseguido performar, pois você pode cair na mesma armadilha.
  •  Muitas vezes a empresa troca os jogadores, mas não as regras do jogo e, nesse caso, o resultado não vai ser muito diferente do passado.
  • As pessoas de uma forma geral querem a mudança, mas não querem mudar. Mudar dói, dá trabalho, tira da zona de conforto e no final o “sempre foi assim” é uma frase que você vai ouvir bastante.
  • Uma andorinha sozinha não faz verão! Já diziam os meus queridos Chitãozinho e Xororó. Se você não consegue o apoio dos pares e da sua equipe, que já deve ter visto esse filme tantas vezes, dificilmente você vai conseguir fazer a transformação necessária.
  • Trabalhando numa empresa assim, você será a próxima a ser citada na entrevista com um novo colaborador que vai assumir seu cargo, e podem repetir exatamente o que você ouviu de outros…

Chega um momento que você entende que o jogo é esse mesmo, se adapta a ele ou simplesmente muda de carreira, como eu fiz. Desconfie de empresas que estão sempre se reestruturando e que não conseguem manter profissionais por muito tempo no cargo. Não pense que você é mais competente que os outros, talvez eles tenham sido competentes e o problema está num lugar mais alto e muitas vezes intocável como a diretoria ou até mesmo os donos da empresa. A mudança precisa vir de cima!

Você já viveu ou viu algo assim?

 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da IstoÉ