Em uma rápida passagem pela minha tela do Instagram, acabei de ver um atleta fornecendo dicas “matadoras” sobre nutrição, um outro influenciador compartilhando sete regras sobre liderança e, por fim, uma garota adolescente com tutoriais de “maquiagem das atrizes de Hollywood”…

As redes sociais nos possibilitaram um acesso à informação quase ilimitado e nos conectam com pessoas de todas as partes do mundo, proporcionando troca de experiências, conhecimentos e, claro, inspirações.

Acontece que, com essa facilidade, surgiram os chamados “gurus” das redes sociais: especialistas em nutrição, finanças, maquiagem, empreendedorismo, liderança, desenvolvimento pessoal e tudo o mais que se puder imaginar e que, muitas vezes, se autoproclamam autoridades em suas áreas.

Mas será que todos que carregam esses títulos usufruíram mesmo da vivência e do conhecimento profundo para se posicionarem como especialistas? Quantas vezes nos deparamos com vendedores de cursos de administração que nunca administraram uma empresa? Ou com “gurus” do empreendedorismo que jamais passaram pelas dores e desafios de fundar um negócio do zero?

A realidade é que o carisma e a habilidade de comunicação podem facilmente criar uma imagem de autoridade, mesmo que ela não encontre eco no mundo real. Um artigo da Harvard Business Review já ressaltava que “a percepção de autoridade na era digital pode ser alcançada sem a experiência tradicional, o que pode ser tanto uma oportunidade quanto um risco para o mercado” (HBR, 2022). Em outras palavras, a persuasão pode fazer de alguém uma referência, embora não tenha um histórico sólido.

O domínio das redes sociais se tornou tanto um fator decisivo para moldar a percepção pública, como para manipular e construir imagens. Dados da Social Media Examiner mostram que o engajamento nas redes sociais cresceu cerca de 66% entre 2019 e 2023, enquanto o número de influenciadores e “gurus” aumentou exponencialmente. Muitos deles são verdadeiros em suas especialidades, mas a questão é que, para muitos, a aparência de conhecimento tem sido construída sem a vivência necessária.

Assim, nos tornamos espectadores de uma série de figuras públicas que projetam segurança, autoridade e sucesso. Porém, será que essa é a verdade? O psicólogo norte-americano Albert Mehrabian, em seus estudos sobre comunicação, já indicava que a influência se apoia 55% na linguagem corporal, 38% no tom de voz e apenas 7% no conteúdo. Ou seja, é possível construir uma percepção de conhecimento sem um conteúdo substancial e, não raro, sem experiência concreta.

Eu acredito firmemente e aplico a minha crença de que uma marca pessoal deve ser construída com autenticidade. Em meu livro Brandformance abordo justamente a diferença entre uma marca pessoal verdadeira e a fabricada. Construir uma marca pessoal não é sinônimo de criar uma imagem idealizada ou perfeita mas de mostrar o verdadeiro eu – com nossas qualidades, forças e – por que não? – nossas vulnerabilidades. A autenticidade é o que cria uma conexão real, duradoura e verdadeiramente inspiradora.

Para avaliar a credibilidade de alguém, faça perguntas essenciais: Esse profissional ou influenciador realmente viveu o que prega? Apresenta histórias de conquistas e aprendizados em sua área de atuação? Ou se trata apenas de um excelente comunicador, que sabe usar o marketing digital para ganhar visibilidade?

Precisamos estar sempre atentos, porque em tempos de redes sociais, onde o palco está disponível a todos, a escolha de nossas referências deve ser cuidadosa. A autenticidade e a coerência entre discurso e prática são os diferenciais que revelam o verdadeiro valor de um líder, mentor ou especialista.

Inspirar-se é fundamental, mas é essencial buscar inspirações que nos levem a reflexões profundas e a mudanças concretas.

Portanto, questionar em quem temos nos inspirado e por que o fazemos é mais importante do que nunca. Ao escolhermos modelos de verdade, ampliamos nossas chances de construir uma trajetória sólida e consistente, pautada pela verdade e pela experiência. Afinal, o valor de uma marca pessoal é medido pela capacidade de revelar quem você é de verdade – e essa é uma mensagem que vale não somente para mim, mas também para cada um dos nossos mentores e influenciadores de hoje.

 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da IstoÉ