Emmy destaca atrizes 50+, mas realidade nos cinemas e no mercado de trabalho é outra

Enquanto Hollywood celebra a vitória dessas atrizes, a presença feminina acima dos 50 anos segue restrita nas telas e ainda mais limitada nas empresas

AFP
Jean Smart, ganhadora do prêmio de melhor atriz por série de comédia no Emmy Foto: AFP

As vitórias do Emmy, que aconteceu no último domingo (14), em Los Angeles, celebraram a carreira de veteranas do cinema como Jean Smart (74), Jamie Lee Curtis (66) e Katherine LaNasa (58), que brilharam em papéis de destaque e mostraram que o talento não se dissipa com o passar dos anos. Contudo, essas conquistas, embora importantes, são exceções em uma indústria que insiste em valorizar a juventude, especialmente feminina, de forma desproporcional. 

Essa lacuna foi o tema de uma pesquisa divulgada pelo Geena Davis Institute, criado pela atriz Geena Davis há 20 anos, em parceria com a Next 50. Ao analisar a representatividade de mulheres com mais de 50 anos no audiovisual entre 2010 e 2020, o estudo constatou disparidades persistentes: elas representavam menos de 5% de todos os personagens em filmes de sucesso e programas de TV de grande audiência nos EUA nesse período. 

Quanto aos papéis que desempenham, personagens mais jovens têm duas a três vezes mais chances de vivenciar romances na tela, segundo a pesquisa. As mulheres mais velhas, nos casos em que aparecem, muitas vezes estão confinadas a papéis estereotipados, atuando como mães, avós ou cuidadoras, raramente como protagonistas. 

Para além do etarismo, a disparidade é ainda mais evidente quando se observa o gênero: personagens masculinos superam significativamente as mulheres nessa faixa etária (50+), correspondendo a aproximadamente 20% dos protagonistas tanto em filmes quanto em séries, porcentagem que diminui um pouco nos streamings, mas permanece mais do que o dobro do feminino. 

Reflexos no mercado de trabalho

O impacto dessa sub-representação transcende as telas, atingindo também o mercado de trabalho. No Brasil, 26,9% das mulheres têm entre 40 e 59 anos e 17,1% 60+, e representam a maior taxa de responsáveis pelo domicílio (38,2% e 26,7%, respectivamente), segundo a Raseam (Relatório Anual Socioeconômico da Mulher). Nesse cenário, por mais que tenham grande importância econômica, essas mulheres seguem enfrentando barreiras para contratação, promoção e reconhecimento no ambiente corporativo. 

Segundo levantamento do Ministério do Trabalho, mais de 13,4 milhões de brasileiros com mais de 50 anos estão empregados formalmente. O número é expressivo, mas a maioria desses profissionais ocupam postos de baixa escolaridade e remuneração. Eles estão inseridos, muitas vezes, por necessidade, e não por valorização de sua experiência.

A desigualdade de gênero, dentro de um cenário já excludente, torna a participação feminina ainda menor. Dados do FGV/Ibre mostram que a taxa de empregabilidade entre 40 e 59 anos passou de 58,6% em 2012 para 65,5% em 2024. O avanço é relevante, mas ainda deixa as mulheres 21 pontos percentuais atrás dos homens da mesma faixa etária (86,5%). Na prática, isso significa que, mesmo quando conseguem ingressar ou permanecer no mercado, elas ainda são minoria.

Apesar da visibilidade de Jean Smart, Jamie Lee Curtis e Katherine LaNasa no Emmy, uma pesquisa da Amarelo, em parceria com o Coletivo 45+, revelou que 64% das entrevistadas relatam enfrentar dificuldades para serem contratadas ou aprovadas em processos seletivos.

A barreira se torna ainda mais rígida por conta do preconceito nesses ambientes. A pesquisa mostra que 81% relataram sofrer com comentários sobre a idade, sendo que a maioria parte de mulheres mais jovens (61%). O envelhecimento, cada vez mais comum no mercado de trabalho, longe de ser tratado como acúmulo de experiência, ainda é visto como sinônimo de obsolescência.