O universo das fintechs, empresas de tecnologia financeira, ainda reflete desigualdades antigas quando se fala em presença feminina. Para compreender melhor esse cenário, o relatório “Women in Fintech: Agora é a nossa vez”, produzido pelo escritório Silvia Lopes Advogados, traçou um retrato das mulheres no setor. O estudo reuniu respostas de 103 profissionais, entre agosto e setembro de 2025, além da análise de dados oficiais do BC (Banco Central).
Os números revelam avanços importantes. Hoje, mais de 40% das fintechs autorizadas pelo BC já contam com mulheres em cargos de diretoria e algumas, inclusive, têm diretorias inteiramente femininas.:Contudo, a maioria das cadeiras de decisão segue ocupada por homens. As entrevistadas relatam que, além da competência técnica, ainda enfrentam obstáculos como machismo, a necessidade constante de provar credibilidade, falta de referências femininas em posições de alta liderança e a sobrecarga das responsabilidades familiares.
O perfil traçado pelo estudo mostra mulheres jovens e altamente qualificadas. A maioria (52,9%) está na faixa dos 26 a 35 anos, 63,1% têm pós-graduação e 12,6% chegaram ao mestrado. As formações mais recorrentes são direito (50,5%) e administração (15,5%). Grande parte atua em empresas de médio porte, entre 51 e 500 funcionários, com destaque para os segmentos de pagamentos e infraestrutura (51,5%) e crédito, empréstimo e seguro (22,3%).
Quanto maior o cargo hierárquico, mais evidente a desigualdade se torna. Apenas 6,8% das entrevistadas ocupam posições de C-level, como CEO, CTO ou CMO. Outros 15,5% chegaram à diretoria, enquanto 23,3% são gerentes. A maior parte concentra-se nos cargos intermediários: analistas pleno e sênior (30,1%), seguidas por coordenadoras e especialistas (18,4%). Já a base da pirâmide, formada por assistentes e analistas júnior, reúne apenas 5,8%. Os dados mostram que, embora as mulheres estejam em áreas essenciais da operação, o caminho até o topo das empresas segue repleto de barreiras.
O retrato do Banco Central
O Banco Central também contribuiu com um panorama detalhado. Entre as 354 fintechs autorizadas, 146 (41,2%) possuem ao menos uma mulher na diretoria. Outras 208 (58,8%) ainda não contam com presença feminina nesse nível. Mesmo nas empresas que apresentam diversidade, a média de ocupação ainda é desigual: 1,46 mulheres contra 2,32 homens por diretoria, o que equivale a apenas 37,8% dos assentos. E, em cargos de maior poder, a presença feminina quase desaparece: apenas 8,3% das empresas têm mulheres como diretora presidente, CEO ou diretora executiva, um total de 14 profissionais em todo o setor.
Entre as empresas que mais se destacam em volume de diretoras, o Itaú aparece na liderança, com 10 mulheres em cargos de direção. Logo atrás, vêm Nu Pagamentos, Cielo, ACG e Credi-shop, cada uma com quatro mulheres em suas diretorias.