Mulheres eram protagonistas da economia inglesa pré-industrial, revela estudo

Pesquisa da Universidade de Exeter mostra que o trabalho ia muito além das tarefas domésticas, abrangendo agricultura, comércio e cuidado profissional

Claez Jansz Visscher II, Farmyard scene, Amsterdam Rijksmuseum
A experiência de trabalho na Inglaterra Moderna Foto: Claez Jansz Visscher II, Farmyard scene, Amsterdam Rijksmuseum

Um estudo recente da Universidade de Exeter revela que, entre os séculos 16 e 18, as mulheres desempenhavam um papel muito mais central na economia inglesa do que se imaginava. Longe de se limitar ao trabalho doméstico, elas atuavam na agricultura, no comércio, no cuidado com pessoas e animais, e em atividades artesanais, muitas vezes de forma remunerada. Com informações de Exeter Today.

A pesquisa se baseou em milhares de registros judiciais, depoimentos e documentos de tribunais locais, permitindo mapear com precisão a divisão de tarefas entre homens e mulheres e entre diferentes ocupações. Os dados mostram que mais da metade do trabalho feminino ocorria fora de casa, enquanto grande parte das atividades domésticas e de cuidado, como enfermagem e obstetrícia, era realizada profissionalmente para outras famílias.

Segundo a professora Jane Whittle, líder do estudo e especialista em economia rural, as mulheres dominavam tarefas como ordenha, cuidados com o gado, participação na colheita e criação de ovelhas e cavalos. Apenas em atividades como aração e corte de madeira elas estavam pouco envolvidas, o que mostra que a ideia de certos trabalhos como “exclusivamente masculinos” não se sustenta.

“Entre os tipos mais comuns de trabalho agrícola, nossas evidências mostram que as mulheres dominavam a ordenha, realizavam mais de 40% das outras tarefas da criação de gado, realizavam um terço ou mais do trabalho de colheita e eram ativas na criação de ovelhas e no cuidado de cavalos.”, disse a pesquisadora à Universidade de Exeter. 

O levantamento também aponta que mulheres gerenciavam lojas, negociavam em mercados e lidavam com empréstimos e penhores. O estudo demonstra que a presença feminina era essencial não só para a produção agrícola, mas também para o funcionamento comercial e financeiro das comunidades.

O livro “The Experience of Work in Early Modern England”, publicado pela Cambridge University Press, compila os resultados de cinco anos da pesquisa, realizada pelo Conselho Europeu de Pesquisa, e está disponível para download na versão digital. Para Whittle, o estudo oferece uma nova perspectiva sobre a história econômica: “O objetivo desta pesquisa foi ir além das suposições vagas que moldaram os relatos sobre as mulheres no início da história moderna. Agora temos evidências de que elas realizaram uma variedade e quantidade de trabalho na economia muito maior do que imaginávamos”, afirmou.