Quem se lembra do “vídeo da menina do bolo de cenoura”? Pois é: esta sou eu e a minha filha, em 2017. Esse vídeo viralizou com direito a reposts e novas viralizações, ano após ano. É muito engraçado, e dele tirei diversos ensinamentos.

Em agosto daquele ano resolvi criar uma missão de ficar 30 dias sem açúcar – e por que não fazer um vlog, já que, além de ser minha área, sempre fui uma formiga? E assim o fiz! Comecei a filmar minha rotina e os passos de uma nova vida sem açúcar.

Só que estava trabalhando demais, terminando o doutorado, cuidando das minhas empresas, segurando os pratos da casa, casamento, contas, compras – e vida de mãe. Minha filha Lorena estava com cinco anos, querendo atenção, com saudades minhas, me pedindo diariamente um bolo de cenoura. 

No dia do ocorrido, ela acordou, como de hábito, às 5h30min da manhã. Ao longo do dia me ligou pedindo que eu fizesse o tal bolo – e eu não neguei, é óbvio! Só que tive um imprevisto no trabalho e acabei atrasando demais. Cheguei às onze da noite em casa e a encontrei me esperando, com sono, mas pronta para que eu cumprisse o prometido.

 

 

Lá fomos nós fazer a receita de sempre, que era a receita infalível da minha sogra. Só sei que eu e Lolô estávamos exaustas. Na primeira tentativa, tirei o bolo cru e foi um fiasco. Já na segunda, ficou fofinho, mas na pressa e ansiedade em dormir acabei virando de qualquer jeito e deu no que deu.

Saldo: cansadas, com um bolo de cenoura gostoso (mas totalmente desconstruído), Lolô traumatizada… e eu tive a certeza de que saudade da comidinha da mamãe meus filhos nunca teriam!

Brincadeiras à parte, como esse vídeo roda mundo afora, todos os anos, não deixo de ver alguns comentários das pessoas sem rostos, na terra de ninguém das mídias sociais… Uns dizem que minha filha é parte de uma geração fraca, outros que ela é mimada e até os que ameaçam bater (daí para baixo). A verdade é que ninguém sabe a verdade sobre os fatos e, ainda por cima, como lidamos com a frustração aqui em casa.

Acredito muito mais no olhar diário e individual, na prática, do que em  teorias que não saem do papel. No vídeo mesmo tento levar a frustração de forma leve, dando risada. Entendi todos os fatores que contribuíram para aquele estopim da Lolô – por isso reforço que devemos construir um olhar intenso, frequente, identificando fatores que interferem no processo  (e isso dá trabalho, por isso muitos talvez prefiram deixar para lá).

Em todos os momentos do vídeo, ela trabalha a empatia. Acabei descobrindo mais sobre o significado da palavra, estudando sobre o tema em pesquisas científicas antigas. A palavra empatia vem de mímica e na reprodução do sentimento do outro em você. Existe um vídeo muito legal que elucida essa questão com as crianças e adultos, o chamado Profile of Nonverbal Sensitivity (PONS) de Richard Rosenthal, em que a criança assiste e, inconscientemente, imita expressões e deve explicar qual o sentimento das outras pessoas. 

Da mesma forma, no vídeo do bolo, a Lolô tenta imitar as minhas expressões para ser “empática” com algo que deu errado – mas com todo cansaço, vontade e frustração para uma criança de cinco anos, ela não consegue segurar o choro.

Em situações cotidianas, os meus dois filhos se frustram. E eu acho extremamente positivo, como faço com o meu marido, sentar  e conversar, estabelecendo limites e expectativas para o comportamento das crianças – existem também técnicas práticas como ativação de regiões cerebrais com o pensamento imersivo e automático relacionados à inteligência múltipla de Gardner de HARVARD. Quando deixamos claro o que é aceitável, e o que não é, podemos ajudar nossos filhos a desenvolverem um senso de autodisciplina e respeito pelos seus sentimentos e pelos outros. 

Além disso, ao demonstrar as consequências de ações negativas e reforçar as ações positivas, de forma consistente, ajudamos os pequenos a desenvolver um senso de autocontrole e responsabilidade.

Aqui na minha casa tudo parte do amor. Lembro de ver uma matéria com uma senhora do sertão, muito humilde, cujo filho passou em Medicina em uma universidade federal e lhe perguntaram qual era o segredo. Ela respondeu que a única coisa que sempre dizia era: “Você é fruto do meu amor, não me decepcione!” Foi um grande ensinamento, porque quando damos amor, quando damos base, nossos filhos sempre tentarão fazer o certo para não decepcionar e, também com amor e respeito, acolhemos as frustrações e temos paciência para entender aquele sentimento, e suas consequências, da melhor forma. 

 

E, para quem quiser fazer, segue a receita do bolo de Cenoura:

 

Bolo de Cenoura Tibum

Ingredientes

3 ovos
4 cenouras
2 xícaras de açúcar (sim, era com açúcar! Porque o objetivo era também ver como eu reagia)
1 xícara de óleo
3 xícaras de farinha de trigo
1 colher de sopa de fermento

Para cobertura

1 lata de leite condensado
Chocolate em pó

Como fazer

Bater bem os ovos no liquidificador. Acrescentar as cenouras picadas, o açúcar e o óleo. Depois misturar a farinha e o fermento. A calda você pode fazer como um brigadeiro normal. Colocar no forno a 180ºC e rezar para que ele saia inteiro – essa parte é essencial. E não esqueçam de esperar para esfriar para virar e colocar em um prato – mas se quiser desconstruído, faça como eu!

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.