O sexo é a maior força da natureza. E o prazer sexual existe porque, se não fosse imperativo, a espécie simplesmente não se perpetuaria. Essa cultura da moral sexual repressiva passou a pregar, diante da imposição da necessidade, que os machos teriam muito maior necessidade sexual do que as fêmeas, uma bobagem e uma mentira convenientes para a manutenção dessa cruel negação do prazer feminino, em nome da manutenção de uma moral real.

Sentir prazer é um direito de todos. O prazer é tão democrático que pode se manifestar de maneiras muito diferentes em cada corpo e ser influenciado por várias questões psicológicas, sociais e até históricas!

Até meados dos anos 1950, as meninas eram ensinadas a simplesmente não conhecer seu próprio corpo, nunca procurar descobrir o prazer sexual, fosse pela masturbação, fosse na troca das primeiras carícias com eventuais namorados. Sexo era palavrão. Coisa para se praticar no escuro, em poucos minutos, com o marido, para que esse, sim, alcançasse o seu prazer e engravidasse a esposa. O resto era coisa de gente sem-vergonha.

Foi a geração dos anos 1950-1960, no pós-guerra, que começou a dar voz às mulheres, a retomar as ideias das sufragistas das gerações anteriores, que lutavam pelo direito das mulheres ao voto e também tinham toda uma postura feminista, uma postura de luta que ia além, pregando a igualdade de oportunidades e de direitos sociais a homens e mulheres, respeitadas as óbvias diferenças entre os sexos.

A DITADURA DO ORGASMO

Exatamente a geração dos anos 1960 foi então brindada por uma conquista científica: o advento da pílula anticoncepcional, que permitia agora às mulheres fazer sexo sem correr o risco de engravidar. Por isso, criou-se um mito: o da liberdade sexual feminina. Assim surgiu a “ditadura do orgasmo”: se antes a mulher não podia ter prazer, agora o prazer era mandatório.

Além da ditadura do orgasmo (que a maioria das mulheres tinha dificuldade para alcançar, justamente por serem, elas, fruto dessa cultura repressiva), outros mitos foram criados e, até muito recentemente, era comum ouvir da boca feminina a frase: “Sexo pra mim, só com amor”, inverdade. Sexo é sexo. Pode ser até melhor se vier com amor, mas não depende absolutamente dele.

Incapazes de identificar a atração sexual pura e simples, as mulheres dos anos 1980-2000 se julgavam apaixonadas (amando) pelo homem que simplesmente as atraísse, atitude essa que só gera muita confusão, desilusão e relações destinadas ao fracasso.

Só agora, depois da primeira década dos anos 2000 e já criadas por mulheres, famílias e contextos sociais mais liberais, as jovens estão conseguindo assumir a sua real necessidade de sexo e o seu pleno direito ao prazer, ainda que solitário, ou homossexual, sem ilusão amorosa a “mascarar” o que é puro desejo.

SEXO PASSAGEIRO E GRATIFICANTE

É importante que, cada vez mais, o sexo feminino pare de confundir as coisas. Paixão e atração sexual são coisas passageiras. Mas podem ser altamente gratificantes, em termos de realização no sexo, para as mulheres, como sempre o foram para os homens. Amor é outra coisa.

São os direitos que garantem que toda e qualquer pessoa pode viver sua vida sexual com prazer e livre de discriminação:

* Direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem violência, discriminações e imposições e com respeito pleno pelo corpo do(a) parceiro(a);
* Direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual;
* Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças;
* Direito de escolher se quer ou não quer ter relação sexual;
* Direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil, idade ou condição física;
* Direito de ter relação sexual para fins reprodutivos ou não;
*Direito de expressar livremente sua orientação sexual: heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade, entre outras;
* Direito à informação e à educação sexual e reprodutiva;
* Direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e de IST/HIV/AIDS;
* Direito aos serviços de saúde com garantia de privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminação.

O VERDADEIRO EMPODERAMENTO

A sexualidade está relacionada à vida, sensações, sentimentos e emoções relacionados ao prazer. É essa necessidade de receber e expressar afeto e contato que todas as pessoas têm e que traz sensações prazerosas para cada uma.

Além disso, a sexualidade feminina é marcada por desinformação que frequentemente impede as mulheres de buscarem compreender melhor o seu próprio corpo, suas fases, emoções e tudo o que compreende esse universo.

O desconhecimento começa em casa, principalmente quando as mulheres chegam à puberdade, seguindo convenções sociais que ainda estão fortemente enraizadas em princípios patriarcais que reprimem a sexualidade feminina.

E daí a pressão social impondo padrões de beleza, padrões de comportamento, padrões de percepção do corpo e da subjetividade feminina, com toda a indústria da beleza, procedimentos estéticos e medicamentos criados em torno da insatisfação da mulher com o seu próprio corpo.

É comum as mulheres ouvirem uma lista incontável de mensagens de controle do corpo, que tem relação direta com o sexismo, o racismo e o padrão de beleza aceito pela sociedade. São várias as imposições, como: “fecha a perna”, “essa roupa está muito curta”, “você está muito velha ou muito gorda para usar essa roupa”, “alisa esse cabelo, porque o cabelo liso é mais bonito”.

Falar sobre liberdade sexual é também falar sobre empoderamento feminino. Essa palavra que ficou tão popular nos últimos anos significa ter a liberdade de escolher e agir sobre decisões que afetam nossas próprias vidas.

Empoderar-se é ser dona do seu corpo e das suas escolhas, sejam elas ligadas à roupa que vestimos, os lugares que frequentamos, à profissão que exercemos ou às pessoas com as quais nos relacionamos.

Foram muitas as mulheres que lutaram para que hoje nós possamos ter esse poder e, por isso, não podemos renunciar a eles. Mas, claro, com muita responsabilidade.

Sim, há várias formas de prazer e manutenção da nossa libido, mas não vamos deixar o sexo para segundo plano. Ele é tão importante quanto exercícios físicos. O tabu em torno do sexo não nos deixa vivenciar mais ainda este tipo de prazer.

Aqui, repito: Se toque! E caso você ainda não se masturbe, comece por um banho mais demorado tocando o seu corpo com carinho, tenha prazer no banho, descubra sua pele (o nosso maior órgão). Desbrave as zonas erógenas e descubra os lugares que você sente aquele arrepio gostoso ao se tocar.

Quanto mais você se conhecer e se permitir prazer, mais possibilidade de prazer terá, mais chances de ter uma vida sexual mais livre também. Ser feliz na cama é tão importante quanto qualquer outra conquista na vida. Permita-se a essa felicidade. Você merece!

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.