Um branco quase transparente. Sim, era isso, sempre um pequeno corte em lugares impossíveis de ter batido ou esbarrado. Uma mancha roxa aqui e ali. Mas nada a deixava mais irritada do que ter que cuidar para não esbarrar em nada. Qualquer exagero era o suficiente e pronto, mais uma mancha.
Uma pele é só uma pele # É a seda que envolve # O tecido da vida # Da história contada # Da leitura do mundo # Do sólido, do líquido e do gasoso.
As unhas eram tão rosadas que pareciam de recém-nascido. Os olhos, ai os olhos, de um azul tão claro e brilhante que pareciam de vidro.
Primeiro dia na escola, seis anos e meio, mas já sabia ler. Lia e escrevia desde cinco anos. A mãe foi sua primeira professora. Aprendeu rápido, pois cada sílaba nova e cada palavra era só amor. Aquele amor que brotava das sílabas, formando as palavras. As palavras e frases flutuavam, compondo a melodia eterna que soluçava de felicidade, abrindo as portas do conhecimento e da paixão, perpetuada nos ganhos e perdas que teceriam seus sonhos. As lembranças estampadas nos passos que, um a um, construiriam a sua jornada de transformação. O saber, que uniu os retalhos de todo o amor, desvendado nas palavras do conhecimento, e que fez descobrir os segredos, da sopa servida, do café fumegante e do poder de dançar a coragem.
Parecia tudo muito fácil. Aquela saia azul pregueada, a blusa branca de gola redonda, os sapatos de verniz, a meia branca três quartos, tudo organizado. Os cabelos loiros quase brancos caindo em cachos nos ombros, emoldurando seu rosto rosado, e mesmo assim ela se sentia como o peixe de águas profundas, agora indo para a superfície. Um leve tremor invadiu seu peito. Seria medo? Mas do que tinha medo?
Estava bem-preparada, até já sabia ler e escrever. Estava bem-vestida, o uniforme novinho. Não entendia o porquê dessa aflição. A mãe delicadamente pegava a sua mão e dizia:
— Querida fique tranquila, as outras crianças são da sua idade e serão suas amiguinhas.
Luiza chegou diante do portão de ferro, a mãe deu-lhe um beijo, ajeitou o laço das tranças. A menina andou alguns passos, olhou para trás e sentiu todo seu corpo endurecer, como uma estátua de sal. Um nó na garganta conteve sua respiração e a deixou ofegante. O prédio, à sua frente, ficou imenso. No mesmo instante já estava no meio de um grupo de meninas que seriam as suas amiguinhas. Mas não foi bem assim…
Aos poucos Luiza foi tendo intimidade consigo mesma. Buscando sempre estar atenta aos seus passos, era um misto de lucidez e de instinto. Os seus olhos risonhos foram se tornando mais profundos. Aprendeu um tipo de choro sem lágrimas, que mesmo não passando pelos lábios, o gosto amargo da dor e fome, da amizade, do carinho e da atenção construíam a força interior nas horas mornas.
A mãe sempre perguntava:
– Como está na escola? Gostando? Muitas amiguinhas?
Luiza arrumava o laço de fita nos cabelos, alisava as pregas da saia, ía até a mãe, e sorria dizendo: “Gosto das coisas complicadas”.
Pernas bem torneadas, uma roupa discreta e muito elegante, os cabelos castanhos (tingidos), presos no alto da nuca, destacavam os traços delicados do seu rosto.
Entrou na sala e tirou o blaser, ajeitou a blusa de seda, refez o laço abaixo da gola redonda. Um espelho oval refletiu todas as lágrimas derramadas, os amores perdidos, os filhos que não nasceram.
Vestiu a toga, entrou na sala, era o seu primeiro dia.
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