Por aqui já se vão três anos e um mês de aleitamento, trabalhando um ano em casa e trabalhando fora em tempo integral há dois anos. Amamentar é um trabalho coletivo e o meu processo de aleitamento não chegaria até aqui se não fosse pelo apoio de muitas pessoas – como o do pai da minha filha nos primeiros meses, da minha comadre, da consultora de aleitamento, da pediatra especializada em amamentação, da odontopediatra e por aí vai. Depois do primeiro ano, precisamos da Fernanda, quem cuidou da minha filha de um até quase os três anos para que eu pudesse trabalhar, um trabalho que me ampara neste processo, respeitando tudo que envolve cuidar de uma criança pequena. São muitas variáveis a serem equilibradas para que a amamentação seja preservada. É triste saber que sou uma exceção e que quase ninguém consegue garantir a informação, o suporte e o acolhimento que eu tive.

O tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno deste ano, divulgado em junho pela Aliança Mundial para Ação de Aleitamento Materno (WABA, em inglês), é “Possibilitando a amamentação: fazendo a diferença para mães e pais que trabalham” (Enabling breastfeeding: Making a difference for working parents). Amamentar, ao contrário do que as pessoas pensam, não é um ato de amor, é um trabalho. Amor se expressa com afetos, carinhos, palavras e sorrisos. Amamentar é uma atividade que exige preparo psicológico, emocional, físico e intelectual.   

Precisamos aprender como funcionam os hormônios, as mamas, o corpo do bebê…  Se tudo vai bem, ficamos exaustas. Quando surgem problemas na amamentação, como a mastite, freio de língua que atrapalha a sucção, ou intervenção médica para desestimular o vínculo de aleitamento, as coisas podem se complicar. Só nos primeiros seis meses de vida da criança, gastamos cerca de 650 horas nesse processo, segundo o Think Olga, ONG que atua junto à sociedade civil. Se fosse um curso, ao final, receberíamos um diploma, tipo uma pós-graduação. Mas com a amamentação não recebemos nada. Além de julgadas, somos desestimuladas o tempo inteiro.

Para conseguir amamentar e trabalhar precisamos buscar muita informação sobre a extração e conservação do leite, sobre a oferta do alimento para o bebê, que não pode ser feito com mamadeira e sim com copinhos ou colheres dosadoras. Precisamos do suporte das empresas que devem tomar medidas e implantar salas de apoio à amamentação, das políticas públicas que ampliem as licenças e que garantam distribuição de renda direta para lactantes. Precisamos das nossas famílias, que procurem aprender mais sobre como podem auxiliar, dos profissionais de saúde, que devem se atualizar para não prejudicar e sim promover a amamentação enquanto um direito das mulheres e crianças. Amamentar é sustentável, é saudável, protege o desenvolvimento integral das crianças e é imprescindível para o futuro da sociedade. 

 

Conheça a cartilha do Ministério da Saúde para a mulher trabalhadora que amamenta

 

Links úteis para aprender mais sobre amamentação

IBFAN

FIOCRUZ – rblh

FIOCRUZ – portal

MINISTÉRIO DA SAÚDE – GOV

UNICEF

MINISTÉRIO DA SAÚDE – BVS

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.