Privação de sono, dores nos mamilos e nas cicatrizes do pós-parto, dificuldades com o início da amamentação – estes são apenas alguns dos desconfortos que sobrecarregam o bem-estar das mães de recém-nascidos.
Não restam dúvidas: elas precisarão de todo o apoio para doar ao filho o carinho necessário para o seu desenvolvimento.

Que a logística da casa esteja azeitada sem que ela precise se preocupar com o abastecimento da geladeira, com o preparo das refeições, com a higienização dos utensílios básicos de cuidado do bebê.

Que ela tenha silêncio para descansar quando o bebê dorme, um copo d’água sempre à mão enquanto amamenta, um colo se precisar desabafar. Que disponha de momentos só para ela, de autocuidado, relaxamento e diversão para que possa, nem que seja de vez em quando, se lembrar de seus desejos próprios. Sim, ela tem desejos próprios!

No meu consultório, quando recebo as mulheres na primeira consulta pós-parto, especialmente depois do primeiro parto, costumo ver justamente esses primeiros efeitos de uma mudança de vida. A falta de tempo para dormir, comer ou para se dedicar a si mesma são uma constante.

Em paralelo, vemos surgir um amor inexplicável. Elas me perguntam sobre como ter coragem de ter o segundo filho e eu costumo explicar que o primeiro mês do primeiro filho costuma ser o mais desafiador da vida. Com frequência surgem memes ou figurinhas no whatsapp sobre como vai a vida de mãe e a resposta é quase sempre a mesma. Uma mulher pálida e com olheiras respondendo: “maravilhosa”.

É preciso ficar atenta aos sinais de depressão pós-parto – ela pode aparecer de repente, e para qualquer uma. Nos primeiros dias depois do nascimento, existe quase sempre uma condição conhecida como baby blues. Ela é caracterizada por tristeza, irritabilidade, choro fácil e maior sensibilidade, mas são sentimentos transitórios e tendem a desaparecer espontaneamente em até 21 dias. É causada principalmente pelo descompasso hormonal que acontece logo depois que a placenta é expelida pelo corpo.

Já a depressão pós-parto é um quadro mais complexo e duradouro. Normalmente se inicia algumas semanas após o parto, com sintomas parecidos com o baby blues, porém são mais persistentes e duradouros. Pode ser mais grave também e precisa de tratamento e acompanhamento médico e psicológico especializado.

Pacientes com histórico de depressão e ansiedade anteriores à gestação são um grupo de risco para essa condição, que pode afetar cerca de 20% das puérperas e muitas vezes passa subdiagnosticada.

Não é vergonha nenhuma estar passando por isso, é preciso falar a respeito para que o melhor tratamento seja instaurado e se tenha ganho de qualidade de vida e mais leveza e tranquilidade para atravessar esse período tão turbulento.
Sentir-se sobrecarregada ou inadequada às vezes faz parte. Mas também é uma boa hora para se libertar do peso extra das expectativas alheias (e de si mesma), sobre o que uma mãe deve ou não ser.

Nos últimos anos, as mulheres têm colocado a boca no megafone para desbancar o romantismo da maternidade e colocá-la num âmbito mais terreno. Isso traz acolhimento para que expressem não apenas o maravilhamento, mas também suas dores e tristezas. Mãe é um pouco santa (pero no mucho) e um pouco insana (às vezes demais). E tudo bem.

Viver o contato pele com pele e olho no olho com o bebê, celebrar as pequenas e grandes vitórias do dia-a-dia, mergulhar com presença todas as matizes nesse momento especial. E quando tudo passar, a mistura de alívio e de saudades.
E tantas vezes o prazer da maternidade é tão potente que tomamos coragem e começamos tudo de novo com o segundo filho – e às vezes o terceiro, o quarto…

 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.