Ativista brasileira vence principal prêmio de direitos humanos do mundo

Ana Paula Oliveira recebe o Prêmio Martin Ennals, transformando luto em mobilização e denuncia a política de segurança pública brasileira em cenário internacional

Tomaz Silva/Agência Brasil
Apelidado de “Nobel dos direitos humanos” pela relevância global, o prêmio é entregue a defensores que enfrentam riscos extremos em suas lutas por justiça. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A ativista Ana Paula Gomes de Oliveira, uma das fundadoras do grupo Mães de Manguinhos, será homenageada na quarta-feira, 26, com o Prêmio Martin Ennals, considerada a maior premiação mundial de direitos humanos. A cerimônia ocorreu em Genebra, na Suíça, com transmissão ao vivo às 14h30.

Apelidado de “Nobel dos direitos humanos” pela relevância global, o prêmio é entregue a defensores que enfrentam riscos extremos em suas lutas por justiça. Ana Paula se tornou uma das principais lideranças brasileiras ao transformar uma tragédia pessoal em mobilização pública. 

Ela é cofundadora do movimento Mães de Manguinhos, um coletivo de mulheres negras que denuncia o racismo institucional e cobra a responsabilização do Estado em casos de homicídios, prisões ilegais e outras violações. O coletivo integra a Raave (Rede de Assistência às Vítimas da Violência de Estado) e oferece apoio psicossocial às famílias e articula propostas de reformas legislativas.

Luta coletiva e denúncia internacional

Em 2014, seu filho, Johnatha de Oliveira, jovem negro de 19 anos, foi morto com um tiro nas costas por um policial militar na favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro. O caso de Johnatha segue em desdobramentos judiciais: o policial acusado, Alessandro Marcelino de Souza, foi inicialmente enviado à Justiça Militar, mas a decisão foi anulada após recurso.

Em 2014, ano em que Johnatha foi morto, houve 580 mortes decorrentes de intervenção policial, e 79% das vítimas eram jovens negros como ele. Segundo o Fórum de Justiça, entre 2011 e 2021, 91% dos inquéritos sobre mortes causadas pela polícia no Rio foram arquivados sem denúncia.

Desde então, ela atua na defesa da memória do filho e por justiça para outras vítimas, denunciando a política de segurança pública.

Além dela, o prêmio contempla duas finalistas: a estudante ugandesa Aloikin Prais Opoloje, presa e perseguida após mobilizar protestos contra injustiças sociais, e a tunisiana Saadia Mosbah, que se destaca por denunciar o racismo em seu país.