A falta de oportunidades e a ausência de espaços reais para mulheres negras em cargos de liderança motivaram Alcione Balbino a reescrever a própria trajetória. Fundadora da consultoria Pretas Pardas Potentes, ela lidera iniciativas voltadas à capacitação e projeção de pessoas no mercado de trabalho.
Em apenas um ano, Alcione lançou a própria empresa, consolidou uma marca e desenvolveu um programa de mentoria para o setor corporativo, ampliando o alcance para além do público feminino e impactando pessoas de diferentes perfis.
Por meio da Pretas Pardas Potentes, ela já orientou mais de 80 pessoas e também tem gerado empregos diretos e indiretos, através de ações, palestras e eventos que coordena. “Uma escolha guiada pelo propósito de ampliar vozes e gerar oportunidades”, afirma.
Como palestrante, Alcione compartilha os aprendizados acumulados ao longo de 20 anos de atuação em grandes empresas e as transformações que tem experimentado nessa nova jornada como empreendedora. “Acordo, todos os dias, apaixonada pelo que faço e disposta a fazer acontecer”, diz.
Entre os temas abordados por ela, estão o empoderamento empresarial, a diversidade, a equidade, a inclusão e a saúde mental da população negra. Pautas que refletem a sua própria trajetória e reforçam os seus objetivos. “Nunca me imaginei ocupando este lugar como mulher preta, mãe e empreendedora, mas estar aqui tem muito significado”, destaca.
Alcione incentiva outras pessoas a ocuparem espaços de protagonismo, seja em cargos de liderança ou à frente dos próprios negócios. “Acredito que quando você sabe quem você é, ninguém te derruba”, diz.
Mas até construir essa visão, a empresária precisou enfrentar desafios internos, incluindo episódios de esgotamento mental que marcaram sua vida.
O diagnóstico
Diagnosticada com burnout em 2021, ela sentiu os primeiros sintomas três anos antes, quando ainda ocupava um cargo na área comercial de uma multinacional. Sem saber identificar exatamente o que sentia, Alcione continuou trabalhando normalmente até sofrer a primeira paralisia facial, causada pela síndrome de Bell.
Internada, a empresária passou quatro dias no hospital e lembra do momento em que acordou: “Me sentia muito cansada, a minha vontade era continuar dormindo por longas horas.”
Após receber alta médica, Alcione retomou a rotina intensa de compromissos, sem acompanhamento profissional ou uso de medicação. “Estava enfrentando um período delicado dentro e fora do trabalho, incluindo um divórcio, o que mexeu com os meus sentimentos”, diz.
Mesmo assim, a empresária buscou uma nova vaga de emprego em outra empresa do segmento, ainda no setor comercial, mas agora com um diferencial: ela passou a integrar um grupo de afinidades dentro da organização. Apesar da mudança, Alcione enfrentou dificuldades para ser reconhecida nos espaços de decisão.
Durante essa fase, a empresária foi convidada por uma amiga e ex-cliente para participar de uma live nas redes sociais. O objetivo da conversa era simples: trocar experiências e compartilhar vivências. “O quadro se chamava Mulheres que Inspiram”, conta.
Mas o que era para ser apenas um bate-papo despretensioso ganhou proporções inesperadas. A publicação alcançou um número expressivo de pessoas, gerando identificação e, principalmente, reconhecimento. “No dia seguinte, o meu celular não parava de tocar.”
Entre um contato e outro, Alcione recebeu uma ligação com o convite para ministrar uma palestra em outra empresa. “Foi uma oportunidade incrível, que me fez repensar a minha própria carreira.”
A experiência despertou na empresária o desejo de trilhar um novo caminho, apesar das crises de exaustão. “Uma amiga me alertou para abrir um CNPJ, porque não dava para falar de graça. Naquele momento, com o coração acelerado, senti que era hora de criar minha própria consultoria e o nome veio de imediato: Pretas Pardas Potentes.”
Nos meses seguintes, Alcione tentou equilibrar o novo projeto com a rotina do emprego formal. Mas o corpo não aguentou, em um dia comum, enquanto caminhava pela rua, desmaiou.
Internada pela segunda vez, a empresária insistiu em retornar ao trabalho, mas foi afastada pelo médico por dois meses. Nesse período em casa, ela repensou a carreira e começou a considerar uma transição para a área da diversidade, equidade e inclusão – tema, inclusive, da sua segunda pós-graduação, que estava em fase de conclusão.
“Nessa época, eu já era uma pessoa ativa nas redes sociais e produzia muitos conteúdos por meio das Pretas Pardas Potentes, era um canal de comunicação direto e a minha gestora sabia disso”, destaca.
Seis meses depois, em meio a uma demissão em massa, Alcione foi dispensada da empresa, mesmo com experiências internacionais e diversos cursos acadêmicos no currículo. “Tentei me recolocar no mercado, na área desejada que era de diversidade e inclusão. Fiz 11 entrevistas e não fui contratada.”
A falta de oportunidades acendeu o desejo da empresária de empreender. “Cresci em uma casa onde ter um propósito sempre foi algo de valor. Meu pai construiu um orfanato, e nós, como família, sempre estivemos envolvidos”, conta.
Inspirada por esse exemplo e outros impactos sociais, Alcione encarou o novo momento. “No primeiro mês como empreendedora, realizei duas palestras como empresária para grandes empresas. Hoje, tenho o privilégio de trabalhar com marcas de renome no país”, afirma.