Como profissional que já atuava em marketing e publicidade há mais de 10 anos, eu não poderia deixar passar a oportunidade de participar de um experimento social como aquele:

Que tal expor sua forma de ser e agir para milhões de pessoas, 24 horas por dia?

Diante dessa pergunta, a resposta lógica talvez fosse “estou fora” – mas algo me intrigava profundamente na proposta de integrar um dos reality shows mais famosos do mundo, que além de ser uma máquina de entretenimento já se consagrara também como verdadeiro espetáculo do comportamento humano.

Pensava no BBB como um objeto de autoconhecimento e sabia que, para alcançar público e alavancar minha carreira, precisava de uma vitrine. E por que não a maior do Brasil?

E foi assim, em 2020: em meio ao caos da pandemia que o mundo enfrentava, resolvi me inscrever na casa mais vigiada do Brasil. Foram cinco meses participando de um processo seletivo cheio de fases e entrevistas, conversando com diversos profissionais em busca de uma vaga na casa.

O processo se parece ao que vivemos quando nos inscrevemos em uma vaga de trabalho muito cobiçada – a diferença é que, em um trabalho convencional, você não olha para os antigos profissionais, ao contrário, muitas vezes nem sabe quem passou por ali, você aposta em você, na sua história e no que pode proporcionar aquela empresa ou experiência.

Em janeiro de 2021, quando finalmente recebi o convite para entrar no universo do reality, experimentei uma mistura avassaladora de medo e insegurança. Contudo, movida pela coragem e determinação, decidi abraçar aquela oportunidade única de autoconhecimento e crescimento.

Adentrar na casa do Big Brother Brasil foi um mergulho nas nuances e desafios do comportamento humano em um ambiente intensamente vigiado. Dentro daqueles muros, entre 19 desconhecidos e mais de 80 câmeras, cada abraço, sorriso ou lágrima se tornavam capítulos inesperados de uma história coletiva.

Antes mesmo do programa começar somos submetidos a um confinamento silencioso de 10 dias em um hotel, sem contato com o mundo externo, sem relógio, sem rádio, TV ou internet, inclusive sem poder ver a luz do sol nos primeiros dias. Até termos nossa identidade revelada, não podemos abrir as cortinas das janelas, para proteger nossas identidades e, claro, segurar ainda mais a expectativa de quem assiste o programa, provocando uma audiência incrível logo no primeiro dia de jogo.
Ao arrumar minhas malas para aquela aventura, eu pensava: “o que além de todo meu conhecimento de vida pode me ajudar dentro do jogo?”

Foi então que decidi levar para o hotel o livro “Desvendando os segredos da linguagem corporal”, de Allan e Barbara Pease, sobre comportamento humano e linguagem corporal. Se na publicidade e no marketing aquele conhecimento sempre foi capaz de me ajudar com clientes e parceiros de negócios, também poderia ser útil para eu entender melhor o comportamento e jogo dos meus adversários. E eu estava certa.

O livro que me acompanhou nessa jornada se revelou uma ferramenta poderosa, um guia para decifrar emoções e intenções por trás de gestos e olhares não ditos. É importante ressaltar que ler, estudar e aprender é algo que devemos fazer constantemente, independente da idade ou cargo que ocupamos. No lugar que ocupa hoje, você tem lido e aprendido sobre sua própria função? Tem buscado conhecimento que possa te conduzir ao próximo passo, ou ao entendimento para lidar com seus colegas de trabalho e equipe? Eu escolhi esse livro justamente pensando nisso.

Imagina você conseguir interpretar colegas e parceiros através do comportamento deles? A arte de ler pessoas através de gestos, expressões e posturas tornou-se minha aliada silenciosa – como por exemplo no dia da famosa cena em que Lumena partiu para cima de Juliette apontando o dedo em sua direção. Não só naquele momento, mas em diversos outros, a participante tinha o vício gestual de apontar os dedos na hora de dar sua opinião, o que caracteriza uma imposição, sugere uma ideia de que ela queria se sentir superior, e portanto repetir aquele tipo de gesto com frequência transmite uma imagem de arrogância.

E quem não se lembra do gestual marcante de Gil do Vigor, em suas brigas na casa, mãos na cintura, três palminhas, olhos arregalados, e tom de voz alterado? Esse descontrole corporal pode ser visto como algo espontâneo, você percebe verdade no comportamento, mas não necessariamente algo positivo – afinal de contas em momentos como aqueles é que acabamos agindo pelo impulso e muitas vezes nos colocamos em situações de desvantagem diante de um adversário. Mas o gesto mais comum entre todos os participantes era o de cruzar os braços diante de conversas, o que pode nos sugerir uma teimosia ou dificuldade de escutar a opinião do outro.

Durante as provas e jogos de convivência eu fazia o possível para analisar cada movimento, tom de voz e outros diversos sinais que meus companheiros de confinamento mostravam. Uma estratégia usada por mim constantemente era a de passar confiança através do meu corpo, com uma postura ereta, contato visual direcionado, queixo elevado, mãos sempre visíveis e maneira de falar firme.

Me lembro como se fosse hoje quando, em um dos jogos da discórdia que aconteciam todas as segundas-feiras, falei em frente de todos: “quem não ganha o jogo é o Nego Di, porque ele vai sair amanhã”. Naquele momento a verdade era que minhas pernas tremiam e eu estava com muito medo, mas sabia que, dependendo de como eu falasse, poderia sugerir que eu estava confiante no jogo. Inclusive foi por causa desse jeito estratégico e observador que recebi dos telespectadores o carinhoso título de “Espiã”… como se de fato eu conseguisse escutar o que o público falava fora da casa.

No turbilhão de dramas, amizades e reviravoltas que marcaram minha jornada naquela casa, aprendi que, por trás das câmeras e sorrisos ensaiados, residem verdades profundas sobre quem somos e o que podemos nos tornar sob pressão. Engraçado como o jogo se assimila à vida real… relações profissionais e pessoais podem definir nossa trajetória, assim como alianças erradas podem nos tirar do jogo.

Confesso que, à medida em que as semanas se desenrolavam, a análise racional cedia espaço a um intenso diálogo interno emocional. Imagina você brigar com uma pessoa em uma noite e, no dia seguinte pela manhã, escovar os dentes ao lado dela, ou sentar-se na mesma mesa para tomar café da manhã… Isso mexia muito com meu psicológico, não ter o meu próprio tempo. Fora de uma disputa como aquela podemos ir para nossa casa, nos distanciar e acalmar, mas naquele jogo de convivência a realidade é outra.

A dinâmica do reality show, apesar de seu caráter lúdico e superficial, revela verdades profundas sobre a natureza humana. Os embates, alianças e rompimentos são reflexos de nossas próprias interações na vida real, evidenciando facetas obscuras e luminosas de quem somos e do que somos capazes quando colocados à prova.

No momento em que fechei a porta ao sair do jogo percebi que, assim como na casa mais vigiada do Brasil, onde cada ação é julgada por milhões de olhares atentos, na vida real somos constantemente avaliados, seja como vilões ou mocinhos de nossas próprias narrativas. O verdadeiro jogo da vida transcende paredes e platôs televisivos. Estratégia, empatia, resiliência e autoconhecimento se revelam como pilares essenciais para navegar com sabedoria e autenticidade nas ondas turbulentas e serenas do nosso cotidiano.

Não fui a vencedora do programa, mas conquistei grandes amizades que surgiram dentro da casa. E as cicatrizes e risos daqueles dias de confinamento se transformaram em lembranças de superação, aprendizado e humanidade. O confinamento nos revela, mas é fora das paredes da casa que verdadeiramente moldamos nosso destino e deixamos nossa marca no mundo.

 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.