Como Suellen Ingrid transformou identidade em negócio de moda

Designer criou a Afroish, marca que une ancestralidade, sustentabilidade e inovação no mercado fashion

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Suellen Ingrid, criadora da Afroish, marca de moda afro contemporânea que alia identidade e sustentabilidade Foto: Divulgação

Quando criança, Suellen Ingrid passava horas vendo a mãe transformar tecidos em roupas na máquina de costura. Daquele convívio nasceu a paixão pela criação manual, que se consolidou na Afroish, sua própria grife. Hoje, suas peças unem identidade, ancestralidade e sustentabilidade à moda urbana do dia a dia.

Inspirada na cultura, Suellen escolheu se dedicar à moda afro contemporânea ao notar a ausência de marcas que representassem essa identidade. “Há seis anos, adicionei o sufixo em inglês ‘-ish’ ao ‘Afro’, que remete à afrocentricidade, e criei uma empresa em que o negro é o centro das criações”, detalha.

No início, ela mesma desenhava e costurava cada peça. Com o crescimento da grife, passou a contar com o apoio de uma confecção e hoje se dedica exclusivamente a criar os modelos. Paralelamente às coleções fixas, também desenvolve peças sob demanda, sempre preservando a estética e os símbolos africanos. “Aceito encomendas, no entanto, toda criação é feita de forma consciente, com zero resíduo”, diz.

Cada sobra de tecido tem destino certo, as peças são armazenadas até que surja a oportunidade de reaproveitá-las. “Minha responsabilidade social começa na produção, segue no comércio e se estende à pós-produção”, afirma.

Atualmente, as vendas das peças são realizadas online, com atendimento individualizado, e algumas criações também estão disponíveis em lojas colaborativas, no entanto, o desejo da designer é abrir uma loja física, um espaço que expresse a identidade da marca. “Quero que os clientes tenham a experiência completa, sentindo de perto a essência da Afroish e conhecendo todo o processo por trás de cada produção.”

A marca aposta no conceito de athleisure, desenvolvendo modelos que unem conforto e estilo casual com estampas inspiradas na referência africana. O lançamento mais recente foi uma coleção fitness com estampas autorais, patrocinada pelo Instituto C&A.

Suellen optou por uma malha biodegradável e sustentável, feita à base de água e livre de agentes poluentes, para criar as peças da coleção. “Desenhei um conjunto com top e bermuda, um macaquinho, uma regata estruturada e uma bermuda modelo soltinho”, explica.

Além de chamar atenção pela criatividade das estampas, os modelos foram feitos para vestir diferentes corpos e estilos. “Recebi muitos feedbacks, mas a maioria dos clientes reforçou que não usaria as roupas apenas na academia”, revela.

Arte-educadora

Com o objetivo de empoderar e gerar renda a outras pessoas, a estilista abriu um ateliê colaborativo em parceria com a Fábrica de Cultura, um programa da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerenciado pela Poiesis. Localizado na Brasilândia, zona periférica da capital paulista, o espaço serviu como ponto de encontro para ensinar técnicas de moda circular e design a moradores da comunidade.

Durante um ano, Suellen ministrou aulas gratuitas e formou 20 alunos na primeira turma. “Foi um período de muito aprendizado e troca, afinal, o curso foi pensado para pessoas de diversos gêneros”, destaca.

Como arte-educadora, aplicou a própria didática e organizou uma exposição com as peças criadas pelos alunos no encerramento do curso. “Acompanhar a evolução deles foi um momento especial, principalmente porque estruturei todo o conteúdo pensando nas necessidades de cada participante, incluindo um aluno com deficiência.”

Após concluir o período, Suellen indicou uma amiga, também arte-educadora, para assumir as aulas e seguiu atuando na área, com novos trabalhos que incluem campanhas e palestras.

A designer foi convidada para participar da Feira do Empreendedor do Sebrae, na Arena de Economia Criativa, onde falou sobre moda sustentável, inovação e impacto ambiental, temas que aborda com frequência em sua rotina profissional.

Outro projeto que conseguiu tirar do papel foi o videocast Papo de Vestir, uma produção independente na qual recebe convidados do universo da moda para conversar sobre o setor. “É uma forma de trazer ainda mais a Afroish para a vida real, porque acredito muito na força da comunicação, encerrei a primeira temporada agora, e estou pensando nas próximas”, conclui.