Pesquisas comprovam que a confiança fortalece a credibilidade das instituições, agrega valor à marca, potencializa o desempenho e o bem-estar das pessoas no ambiente de trabalho.

Mas qual o nível de confiança nas empresas brasileiras?

A pesquisa Índice de Confiança Social (ICS), realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (IPEC) em julho de 2023, revelou que a população tem confiança média nas empresas (62 numa escala de 0 a 100). Esse dado mostra grandes oportunidades.

Confiança é a chave para se construir um bom lugar para trabalhar. O selo GPTW (Great Place to Work), certificação criada nos anos 1980 com o objetivo de medir a percepção dos profissionais em relação ao lugar em que trabalham, reconhece empresas que se destacam nos processos de gestão de pessoas e cultura organizacional.

O certificado tem a confiança como um dos seus pilares fundamentais, reconhecendo a importância da qualidade das relações no bem-estar, na inclusão e no engajamento dos colaboradores. Empresas perfeitas não existem, mas instituições comprometidas com as pessoas e o impacto social, sim.

A liderança deve dar o primeiro passo, adotando comportamentos que inspirem confiança. Mas a missão de construir relações de confiança se aplica a todos da equipe.

A palavra confiança deriva do latim confidere, que significa “acreditar plenamente”. Confiar é nutrir um sentimento de segurança em relação a si mesmo, às outras pessoas e às instituições. Construir confiança é um processo complexo que vai além da boa intenção.

Para ilustrar, imagine a seguinte situação: um colega diz “você nem parece gay”, e mesmo sem intenção gera constrangimento em outras pessoas da equipe. Ao receber feedback, é comum reações defensivas como se a moral estivesse em xeque, constrangendo quem deu o feedback. Na relação baseada na confiança, essa situação seria abordada de forma aberta e construtiva, buscando soluções para evitar a repetição da agressão.

Quando há confiança, não há motivos para ficar na defensiva. Isso possibilita a construção de pontes de diálogos, a energia é direcionada para a resolução dos problemas e garante que desentendimentos não atrapalhem o fluxo do trabalho e os resultados coletivos.

Confiança não significa amizade. Amizades se baseiam em afinidades e intimidade enquanto confiança é a base do trabalho em equipe para alcançar objetivos em comum. Nem sempre será possível ter amizade com todas as pessoas com quem se tem interação, mas isso não deve impedir a colaboração.

O primeiro passo para cultivar confiança mútua é fortalecer a autoconfiança. Isso começa com o autoconhecimento, reconhecendo os pontos fortes e fracos, e identificando os comportamentos que não refletem a boa intenção e são obstáculos para o verdadeiro trabalho em equipe e a inclusão das pessoas no ambiente de trabalho.

Ser confiável para as outras pessoas também é fundamental. É crucial não cair na armadilha de que ser confiável é um pressuposto cristalizado. A realidade é que, em algum momento, todos podem ser uma pessoa não confiável. O que realmente importa é como lidamos com essa situação. Ofereça segurança para as pessoas se expressarem, especialmente aquelas que pertencem a grupos sub-representados.

Confiança é sobre coerência. O que está escrito nos materiais institucionais precisa refletir no dia a dia de trabalho. Atitudes inconsistentes geram desconfiança.

Construir a confiança leva tempo e exige constância. Seja paciente, persistente e esteja disposto a reconhecer e aprender com os erros. A recompensa é um ambiente de trabalho saudável.

O sucesso dessa missão está na capacidade de produzir reflexões verdadeiras e profundas sobre si, se reinventar e reposicionar em diferentes contextos. Afinal, a nossa liberdade individual termina onde começa o bem-estar do outro. Ao cultivar a confiança pavimentamos o caminho para um ambiente de trabalho onde as pessoas minimamente se sentem valorizadas e respeitadas e abrimos caminho para pensar num futuro do trabalho centrado na bem-estar das pessoas.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.