Com larga experiência em empresas de tecnologia e passagens por companhias como SAP e Oracle, Sandra Vaz assumiu a diretoria geral da Red Hat Brasil em janeiro deste ano e é a primeira mulher a comandar a empresa no País. A Red Hat é especializada em software para grandes companhias e, desde que foi comprada por US$ 34 bilhões em 2019, faz parte da IBM. Nesta entrevista, Sandra conta um pouco mais sobre sua carreira e comenta os desafios enfrentados por mulheres no ambiente corporativo.
Como é a sua visão sobre as mudanças do mercado, em relação à participação da mulher?
Tenho uma experiência de 25 anos e, realmente, lá atrás o mercado era muito masculino. E para entrar neste mercado tive que me esforçar muito. E para entrar neste mercado minhas maiores apostas foram duas.
A primeira foi o conhecimento. Desde cedo, já tinha muito incentivo em casa com relação a estudos. Era algo que sabia que ia me levar aonde eu quisesse e que ninguém me tiraria. Por isso, sempre procurei estudar muito, pós graduação, MBA etc.
A segunda aposta foi investir em conhecer o mundo masculino, a fim de ter uma comunicação melhor no ambiente de trabalho. Creio que nós mulheres somos múltiplas, plurais. Mas às vezes no universo masculino eu tinha que ser mais assertiva, mais objetiva.
Percebi que essa mudança foi fundamental e inclusive me trouxe muitas conexões profissionais, algo que acredito ser muito importante dentro das empresas.
E como vê a situação atualmente?
Vi essa transformação. Mais mulheres entrando no mercado de tecnologia, mas ainda não em cargos de liderança. Esse é um caminho que segue devagar no Brasil, impulsionado pelas multinacionais europeias e americanas. Mas ainda estamos em um momento que a mulher tem dificuldade em chegar a cargos mais altos.
Por que isso ainda acontece?
Porque há muitos obstáculos no caminho. Há a questão da maternidade, da licença. Ainda há preconceito em relação a isso. E no caso da maternidade é fundamental ter um parceiro ou parceira que colabora, que segura a casa quando você tem que viajar. Ou outro tipo de apoio. Então é uma questão estrutural.
Em minha carreira, tive gestoras que conseguiram lidar com essas situações. Eu pensei: “Se ela consegue ter filhos, ter família, também vou conseguir. Vai dar certo”.
Mas há algum progresso também, certo?
Sim, algo que melhorou muito é que a mulher hoje é muito mais ouvida. Essa questão do manterrupting, enfim. Isso melhorou. Até pouco tempo atrás a mulher começava a falar e logo era interrompida. Atualmente isso vem mudando muito. As mulheres têm voz, dão sugestões, e já são mais consideradas para cargos de liderança. Mas ainda há muito a ser feito. E não só do lado dos homens, mas também das mulheres, de apoiarem esse movimento.