O acesso ao financiamento bancário é essencial para a abertura de negócios no país, mas muitas mulheres ainda esbarram em barreiras invisíveis para conseguirem crédito. A nova pesquisa “Empreendedoras e Seus Negócios 2025”, do IRME (Instituto Rede Mulher Empreendedora), revela que o setor segue marcado pela informalidade, pela desigualdade e por um sistema financeiro que ainda olha com desconfiança para as mulheres, principalmente às negras.
Embora 57,3% das empreendedoras afirmem estar sem dívidas, o estudo mostra que a maioria evita novas operações por medo do endividamento e pela dificuldade de conseguir crédito e apenas 14,6% têm atrasos nos pagamentos. Quase três em cada quatro mulheres (74,5%) recorrem a empréstimos como pessoa física e apenas 35,3% via pessoa jurídica, de modo a resguardar o CNPJ.
A desigualdade racial, porém, é evidente. Entre as mulheres brancas, 23% tiveram pedidos negados, enquanto entre as negras, o índice sobe para 29%. E mesmo quando o crédito é aprovado, ele não chega da mesma forma: 37% das empreendedoras negras receberam até R$2 mil, enquanto apenas 6% acessaram valores superiores a R$20 mil, crédito dado a 20% das mulheres brancas.
O impacto da negação de crédito
A pesquisa também mostra que entre as que tiveram o pedido negado, 30,5% relataram algum tipo de discriminação, seja por gênero, raça, classe social ou território. A principal justificativa formal é a negativação do nome, condição que atinge 72,1% das empreendedoras, sinal de que muitas se endividam para manter o próprio negócio de pé.
Essas recusas não afetam apenas o caixa: 23,4% das mulheres disseram que a negativa impactou diretamente o planejamento do negócio, e 5,3% afirmaram que a renda familiar foi comprometida.
Ainda assim, o levantamento também revela que 55,3% das mulheres que conseguiram crédito destinaram os recursos à compra de equipamentos e 24,8% à expansão da produção. Entre as fontes, bancos privados lideram as concessões (52,4%), seguidos por fintechs (39,6%) e bancos públicos (33,2%). As fintechs, em especial, têm papel relevante na liberação rápida de pequenos valores, com 60% dos casos tendo aprovação imediata.
O perfil das empreendedoras e a pesquisa
Ao analisar o perfil das empreendedoras em 2025, a maioria possui entre 30 e 59 anos,, renda média de R$2.400 e 58,3% chefiam famílias, das quais 69,4% sustentam outras pessoas. E, pela primeira vez, o desemprego superou a busca por independência financeira como principal motivação para empreender.
O setor de alimentação e gastronomia concentra 19,6% das empreendedoras, seguido por beleza, estética e bem-estar (16,7%). Áreas como tecnologia (2,4%), transporte (1,8%) e turismo (1,5%) ainda apresentam baixa presença feminina.
Realizada em agosto de 2025, com 1.043 mulheres respondentes de todo o país, a pesquisa marca a 10ª edição do levantamento, conduzido pelo Laboratório de Gênero e Empreendedorismo do IRME, com execução da Ideafix.