A cada novo caso de violência contra a mulher noticiado, o sentimento de injustiça se intensifica. Diante dessa realidade, Sabrine Matos decidiu agir, criando a Plinq, uma plataforma que permite que mulheres consultem antecedentes criminais de possíveis parceiros antes de iniciar um relacionamento.
Em casa, em frente à televisão e ao lado da mãe, Sabrine percebeu que não poderia apenas assistir. Era mais uma notícia sobre feminicídio, uma jornalista morta por um homem com histórico de violência.
“Minha mãe comentou que se nós, mulheres, pudéssemos conhecer melhor com quem estamos nos relacionando, poderíamos estar mais seguras. E ela acreditou que eu pudesse transformar isso em algo real”, afirma.
Com histórico ligado ao empreendedorismo, Sabrine iniciou ainda na adolescência atividades independentes e, já na fase adulta, investiu na abertura de uma agência. “Sempre acreditei que empreender exige um propósito maior”, destaca.
Mas, sem experiência prévia em configuração de sites, ela encontrou na tecnologia um caminho possível. Atuando desde os 16 anos na área, com foco em marketing e consultorias, Sabrine passou a estruturar a plataforma ao lado de Felipe Bahia, hoje seu sócio.
Nos últimos anos, ela conciliou dois empregos diferentes. “Até o início deste mês, porque agora parei para me dedicar exclusivamente à captação de recursos para a plataforma”, diz.
Dê um Plinq
Em quatro meses, Sabrine tirou o projeto do papel e colocou a plataforma no ar. “Em março decidimos criar, em abril estruturamos o formato, em maio ficou pronto e, em junho, lançamos”, conta.
O nome Plinq foi escolhido pelo som semelhante ao fechamento de um cadeado, uma referência direta à ideia de segurança e proteção que orienta a proposta da plataforma.
Sabrine apostou em um formato simples e direto. “A mulher precisa apenas se cadastrar na plataforma e inserir dados básicos da pessoa a ser consultada, como nome completo, telefone, data de nascimento ou o CPF”, explica.
Em poucos minutos, o resultado é exibido na tela. “Oferecemos dois tipos de planos para as usuárias para que elas possam escolher entre uma única busca ou o acesso ilimitado”, diz.
Dados públicos
A partir do cruzamento de dados públicos disponíveis nos Tribunais de Justiça, a Plinq reorganiza e traduz informações jurídicas de forma acessível às mulheres cadastradas na plataforma. Para isso, a ferramenta também utiliza inteligência artificial, que agiliza a análise de registros como processos criminais e mandados de prisão.
“Nós usamos provedores de dados conectados ao Diário Oficial e aos Tribunais de Justiça de todo o Brasil. Desde o início, o nosso intuito não é expor ou ser vexatório, mas trazer um caráter de proteção”, afirma.
Segundo a idealizadora, as pesquisas não são indexadas em mecanismos de busca, como o Google, e ocorrem de forma anônima, justamente para garantir a segurança das usuárias: “Respeitamos todas as legislações presentes na Lei de Proteção de Dados, a LGPD.”
Milhões de usuárias
Sabrine também adotou um sistema visual de cores para indicar o nível de risco associado a cada processo. A cor vermelha sinaliza situações de maior perigo, enquanto o verde indica casos sem registros de ameaça imediata.
O sistema tem atraído o interesse de mulheres em diferentes regiões do país. Apenas nos últimos meses, a plataforma já registrou mais de 30 mil usuárias. “A cada dia, esse número aumenta mais”, diz.
Nomes conhecidos do público também passaram a apoiar a iniciativa. A chef de cozinha e empresária Paola Carosella e a atriz Paolla Oliveira incentivaram o uso da plataforma nas suas redes sociais.
“Elas publicaram sem nenhum pedido ou publicidade, prova de que estamos construindo uma canal de segurança direto”, destaca.
Para 2026, o objetivo de Sabrine é lançar uma versão da Plinq em aplicativo, com novos recursos que vão além da verificação de antecedentes criminais e ampliam a proteção das mulheres. “Estamos negociando com órgãos públicos e estudando novas possibilidades, com destaque para recursos próprios e feitos para leitura de mulheres.”
Empreender com propósito
Desde o lançamento da plataforma, Sabrine tem enfrentado ataques virtuais, uma situação que ela já imaginava enfrentar e que reflete a postura de uma sociedade ainda marcada pelo machismo.
“Quanto mais a Plinq ganha relevância, mais reações eu recebo. Sempre de homens, com justificativas infundadas e sem conhecimento da plataforma. Ainda assim, desde o primeiro dia, mantenho firme meu propósito de empreender e de promover a segurança das mulheres”, conclui.