Depois de abandonar o agro, ela criou marca de semijoias que fatura R$35 milhões

Com foco em conexão digital com o público, Brenda Piccirillo comanda a marca CUFF, que fundou há seis anos

Divulgação
Com investimento inicial de 3 mil, a CUFF soma mais de 100 mil acessórios vendidos apenas em 2024. Foto: Divulgação

Em apenas seis anos, Brenda Piccirillo fez com que a CUFF Jewelry, marca paranaense de semijoias, conquistasse seu espaço no mercado digital. Nascida em 2019, em Londrina (PR), e com investimento inicial de R$3 mil, a empresa hoje ultrapassa R$35 milhões em faturamento acumulado, soma mais de 100 mil acessórios vendidos apenas em 2024 e mantém uma comunidade digital de milhares de consumidoras.

Antes de mergulhar no universo do design e da estética, Brenda vivia uma rotina que parecia segura, mas na qual não se sentia realizada. Formada em administração, começou a carreira em uma grande multinacional do agronegócio, em um ambiente que ela descreve como “super tradicional e majoritariamente masculino”.

Durante cinco anos, foi ali que aprendeu sobre gestão, processos e negócios, mas também sobre o que não queria ser. “Foi uma decisão muito importante, muito difícil. Lá se vai salário, emprego, benefícios, mas uma perspectiva boa para empreender”, conta. 

Foi em meio a esse desencanto que, ao olhar para dentro, decidiu focar no trabalho que vinha realizando de modo paralelo desde 2013: vender semijoias, o que acabou por se tornar sua principal fonte de renda. “Tinha começado lá atrás por instinto, queria juntar um dinheiro para fazer um intercâmbio e nisso acabei gostando de lidar com mulheres, de atender, de ter esse olho no olho”, conta. 

O nascimento da marca

Em 2019, incentivada pelo namorado (hoje marido), Brenda decidiu transformar a revenda em negócio. “Sempre pensei na CUFF como sendo uma empresa grande, mesmo sendo só eu”, lembra. Com R$3 mil do 13º salário, abriu o CNPJ, criou um site e começou a desenhar a identidade da marca que viria a se tornar a CUFF Jewelry, um e-commerce 100% digital. 

Em poucos meses, o negócio que começou com um estoque limitado e peças consignadas se expandiu para todo o país. “Como eu já vendia aqui em Londrina, eu tinha uma cartela de clientes que queriam comprar comigo, mas o online foi tomando uma proporção muito maior do que no espaço físico”, relembra.

Hoje, 90% dos 10 mil acessórios fabricados mensalmente derivam de produção própria. “Era uma preocupação que eu tinha, porque eu comecei revendendo e não tinha a garantia de nada. Então, logo no começo eu já fui atrás de entender o processo de fundição e de banho para conseguir garantir a qualidade que eu queria entregar”, explica. 

Quando a pandemia chegou, em 2020, a marca, que atualmente possui 247 mil seguidores no Instagram, já estava preparada para atender a alta demanda de um público que migrava em massa para o online. “Eu já vendia mais da metade para São Paulo, então quando os shoppings fecharam, aumentou muito a demanda”, conta. 

E-commerce e crescimento da comunidade 

De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), as vendas online cresceram mais de 10% em 2024, movimentando R$ 185 bilhões, um cenário que favoreceu marcas digitais como a CUFF, que se estruturou desde o início para atender a falta do contato presencial. 

“Nós fomos estabelecendo certa autoridade, temos que de alguma forma compensar, porque a gente não tem o olho no olho, não tem o tom de voz para falar com a cliente, é tudo por mensagem. Então temos que ser impecáveis em todos os pontos de contato”, explica Brenda. 

Seis anos depois, a CUFF acumula R$35 milhões em faturamento, 540 produtos ativos, incluindo 175 novas peças lançadas em 2025. Em 2024, o volume de vendas atingiu 100 mil peças, número recorde para a empresa.

Uma marca composta por mulheres 

Com sede em Londrina, outro pilar da CUFF é o time 100% composto por mulheres. De criadoras a gestoras, muitas das 24 funcionárias já eram clientes antes de entrar na empresa, e todas compartilham da mesma visão: fortalecer o protagonismo feminino também nos bastidores. 

“Meu propósito pessoal é ver o negócio crescendo e criando oportunidades para novas lideranças femininas, o que eu não eu não via lá atrás. Muito do que me fez desencantar do agro é porque eu não conseguia me espelhar em pessoas que estavam lá em cima, então não conseguia imaginar fazendo aquilo”, ressalta.

A empreendedora também faz questão de liderar o processo criativo, validando cada novo modelo com a equipe. “A gente sempre se pergunta: “A gente usaria isso? Ah, então nós vamos vender, porque a nossa cliente também vai gostar”, conta.

O time é 100% composto por mulheres. Foto: Divulgação

CUFF, o terceiro filho 

“Eu falo que o Romeu nunca foi filho único, que a CUFF sempre foi o meu primeiro bebê. Dá trabalho igual ter uma criança, eu trabalho muito mais hoje do que quando eu tinha um emprego”, conta. 

Brenda, agora grávida de seu segundo filho, conta com a ajuda do time para gerir o negócio em um contexto de mudanças constantes no mercado e no comportamento do consumidor. “Sempre bati muito com as meninas de que o mais importante é o relacionamento que temos com as clientes. Nosso objetivo é fazer com que elas tenham a CUFF como a marca principal na cabeça delas”, comenta. 

Em meio a facilidade proveniente do digital, que possibilita o surgimento de novas lojas todos os dias, Brenda enfatiza a importância de permanecer fiel à sua essência para permanecer relevante no mercado “O papel da liderança feminina vem mudando ao longo do tempo, não tem o que mulher não consegue fazer e assim, a gente é capaz de gerar um ser humano… o que não conseguimos fazer?”.