Dia Nacional da Mulher Empresária expõe desigualdade de renda e jornada dupla

Mesmo com mais qualificação, mulheres que atuam como MEI ainda ganham menos e enfrentam mais barreiras nos empreendimentos

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O Dia da Mulher Empresária expõe desigualdades enfrentadas por empreendedoras, como menor renda e jornada dupla. Foto: Envato

No próximo domingo (17), o Brasil celebra o Dia Nacional da Mulher Empresária – uma data recente, criada em 2023, para reconhecer o papel das mulheres no empreendedorismo e chamar atenção para as barreiras que ainda limitam seus negócios. A lei que instituiu a celebração foi proposta pela deputada Carmen Zanotto (Cidadania – SC) e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

A intenção é clara: valorizar o papel do empreendedorismo feminino, especialmente as que atuam como microempreendedoras individuais (MEI), mas também expor as desigualdades. Uma pesquisa realizada pela MaisMei, com mais de 5,6 mil microempreendedores, mostra que as mulheres continuam faturando menos, mesmo com maior nível de formação. Entre elas, 22,2% possuem o ensino superior completo, contra apenas 8,8% dos homens.

Apesar disso, só 16,3% das mulheres faturam acima de R$ 4 mil por mês, quase metade da proporção masculina (33,1%). Quando o recorte é de quem fatura acima de R$6 mil, o abismo aumenta: 4,9% das mulheres contra 11,3% dos homens. 

O perfil médio dessas empreendedoras também diz muito: a maioria se declara negra, com idade entre 35 e 44 anos, ensino médio completo e concentrada no setor de comércio e vendas (27,8%). A maior parte recebe até 4 mil reais mensais, sendo que quase um quarto  faturam menos que 2 mil reais. Atualmente, segundo a MaisMei, as mulheres representam cerca de 44% dos MEIs do país. 

“Considerando o número de profissionais brasileiros que atuam a partir de um CNPJ MEI, cerca de 16 milhões, percebemos que o nível de desigualdade de faturamento em termos de gênero também é grande fora das grandes empresas em que mulheres recebem menos realizando as mesmas funções. É possível encontrar algumas justificativas como as áreas de atuação predominantes entre homens e mulheres, mas ainda assim é uma proporção preocupante se pensarmos que as empreendedoras investem mais no preparo profissional”, explica Kályta Caetano, contadora especialista em MEI na MaisMei.

Jornada Dupla 

Além da desigualdade de renda, há o peso invisível da jornada dupla. Recentemente, a pesquisa “Panorama do Empreendedorismo Feminino no Brasil”, realizada pelo MEMP (Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), mostrou que as responsabilidades familiares reduzem em 17% o tempo que as mulheres podem dedicar aos seus negócios. 

“Quanto à dedicação ao MEI, os homens tendem a investir mais horas semanais em seus negócios do que as mulheres, que frequentemente cumprem jornadas mais curtas, pois não há igualdade na atribuição das tarefas domésticas. Ou seja, as mulheres são praticamente obrigadas a buscar o equilíbrio entre vida e trabalho, resultando em uma jornada dupla. Enquanto isso, os números indicam que homens têm mais tempo para buscar ambições pessoais, ou são atribuídos a prover o sustento familiar”, avalia a especialista.

Porém, o tempo encurtado não é o único obstáculo, o acesso ao crédito também é mais difícil: 42% das mulheres tiveram pedidos negados segundo o levantamento, muitas vezes por preconceito de gênero, falta de garantias ou histórico de crédito insuficiente.

Para Kályla, enfrentar esses desafios envolve a construção de um ecossistema mais inclusivo, onde a força da mulher empreendedora seja reconhecida e valorizada, mas também a necessidade urgente de políticas que apoiem seu desenvolvimento. “Esses dados evidenciam a importância de criar ambientes que facilitem o acesso a recursos como crédito e redes de apoio, com foco em capacitação e desburocratização. É fundamental que o mercado promova igualdade de oportunidades, valorizando o mérito individual e incentivando a competitividade, sem intervenções excessivas. Quebrar barreiras culturais passa também pela educação e pela ampliação da participação feminina em setores diversos, estimulando a livre iniciativa e a autonomia econômica”, ressalta.