Nunca me adaptei ao conceito de viver uma única história, uma única experiência, somos múltiplos e nossas experiências devem seguir essa premissa. O ser humano é explorador, turista nesse planeta chamado Terra. Viver é se movimentar… e o que é vida? É movimento. E compreendi isso desde muito nova.

Com oito anos eu já sabia o que queria, não exatamente como vivo hoje, mas sabia que seria ser atriz, interpretar diferentes papéis e ter uma vida com menos rotina.
A vida foi muito generosa comigo, me apresentando muitas oportunidades de me expressar em diversas áreas, ao longo desses 22 anos de carreira. Comecei como atriz em uma agência infantil, quando ainda não existia distinção entre modelos, apresentadoras e atrizes. As oportunidades apareciam e eu sempre estava disposta. Foram anos de estudos e dedicação nesses segmentos que naturalmente se correlacionam.

Aos 15 anos fui pega de surpresa com uma ligação do meu pai, perguntando se eu conhecia o passarinho azul, que estava na capa de uma revista. E aí começou a minha jornada no Twitter, por pura inspiração do meu pai. Fui acumulando uma certa audiência, compartilhando mais a minha carreira, o trabalho como atriz, e assim chamando atenção naquele mundo digital tão embrionário.

Era muito comum, naquela época, os perfis produzirem suas próprias lives, as famosas twitcams – e eu também produzia frequentemente. Comecei a fazer publicidade naquela rede social, criando as minhas próprias oportunidades em contato direto com clientes. Nós éramos chamados de twitteiros. O termo influenciador estava longe de ser lançado há 15 anos.

Foi quando as carreiras começaram a coincidir. A influência das redes sociais contribuía para o meu trabalho artístico e vice-versa. Aos 18 anos entrei para o elenco da novela “Malhação”, na Rede Globo. Era um trabalho diário, com folgas aos domingos, e pouco tinha tempo para exercer outras funções. Mas foi nessa época que a minha mente começou a se expandir, e eu comecei a exercer algumas funções de produtora.

Comecei a produzir alguns eventos, a escrever argumentos de projetos audiovisuais e entender um pouco mais sobre produção em diversas áreas. Fiz a minha primeira produção executiva aos 19 anos, um espetáculo teatral que rodou três estados brasileiros. Organizei e estruturei cada ponta, contratei os profissionais necessários e o espetáculo aconteceu. Quando a novela terminou, resolvi abrir uma empresa de produção audiovisual, a Young Republic Films, que hoje conta com nove anos de atuação ativa no mercado.

A cada nova área para a qual me dedicava – era perceptível a evolução nas outras. A carreira de produtora executiva me fez entender mais sobre a minha profissão de atriz. E a mesma coisa aconteceu com a profissionalização da carreira de influenciadora. Elas foram se encontrando e se somando ao longo desse caminho. Mas isso não descartava o fato de muitas pessoas me julgarem, apontarem o dedo, e me criticarem por “querer fazer tudo”.

A famosa crença enraizada no inconsciente coletivo há milhares de anos – “quem faz tudo, não faz nada bem” – já levou muitos seres humanos a limitarem sua própria expansão. E eu não queria ser mais uma. Eu fazia muitas coisas, mas me dedicava proporcionalmente a cada atividade e sempre estudei muito, antes de exercer qualquer função.

Através da constância aprendi que, fazendo um pouco a cada dia, em um ano de trabalho alcançaria muitos objetivos. E assim eu fiz. Lembro de ter 13 anos e já traçar planejamentos profissionais. Também me recordo de momentos em que tive que trabalhar com algo que não era o meu sonho, mas me ajudaria a chegar lá.

Trabalhei como monitora de buffet infantil, pintei rostos de crianças em festas infantis e me apresentava como Cinderela em um show de princesas em alguns aniversários. Não era o que eu queria fazer como trabalho para sempre, mas reconheço que foi importante para eu pagar um curso melhor de atuação para o cinema.

Aos 24 anos eu fui convidada para integrar o elenco do reality show “O Aprendiz”, exibido na Band. Quando o convite chegou, duvidei muito do meu potencial. Como uma jovem, tão jovem, poderia entrar em um programa de negócios, trabalhos, tarefas e poderia se dar bem? Eu não cursei nenhuma faculdade, por conta da correria profissional desde muito nova, e lembro do quanto fiquei insegura por não ter feito um curso universitário.

Mas aceitei o convite com medo mesmo. Recusei inicialmente, mas depois eu mesma liguei dizendo que tinha mudado de ideia. Foram 89 dias de confinamento morando em um hotel e saindo completamente da minha zona de conforto. Fui semifinalista. Nem eu acreditava em mim mesma. O programa me mostrou isso, e foi um momento divisor de águas na minha vida.

Por que não me considerar empresária se eu já tinha aberto duas empresas até aquele momento, e tocado as operações, feito as coisas acontecerem? Eu mesma me sabotava. No fundo existia uma certa insegurança e uma certa dose de crença na opinião das outras pessoas a respeito do meu trabalho em diversas áreas.

Foi aí que resolvi estudar e aceitar a multiplicidade de carreira. Quando percebi que não precisamos nos limitar, de fato, e podemos sim realizar todos os projetos que temos vontade de empreender, abrir todas as empresas que desejamos, e fechar se preciso – ao me dar conta disso, tudo ficou mais leve.

A gente está nesse mundo de passagem, o tempo corre de forma cada vez mais apressada, e a vida acontece no hoje. Por que não realizar nossas vontades, e claro, com muito planejamento estratégico e visão realista?

Quando eu olho para trás e começo a racionalizar toda a minha caminhada, me sinto muito orgulhosa daquela menina de oito anos que começou na carreira artística, e daquela de 15 anos que resolveu entrar para as redes sociais, e da de 18 que assumiu o seu lugar como empresária e produtora nesse mundo.

Foi preciso muita coragem para encarar esses desafios e opiniões. E é por isso que hoje um dos meus objetivos pessoais é falar sobre multiplicidade de carreira para o maior número de pessoas possível. Porque só quando estudei, compreendi e criei consciência sobre o tema, é que parei de me limitar e comecei a aceitar mais quem eu sou e todo o meu potencial completo.

Nós somos multipotencialistas por criação. Temos muitos dons, aptidões – e podemos desenvolvê-las ainda mais ao longo da jornada. Experimente aceitar todo o seu potencial e veja a mudança.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.