Empreendedora cria roteiros culturais em Paris voltados a turistas brasileiros

Edis Lima transformou o próprio conhecimento e paixão pela arte em um negócio voltado a apresentar Paris sob um olhar cultural para visitantes do Brasil

Higor Blanco
À frente da ‘Bem In Paris’, criada há 13 anos, Edis Lima apresenta viajantes a roteiros que revelam uma Paris histórica, artística e diversa Foto: Higor Blanco

Empreendedora, guia cultural e apaixonada por arte, Edis Lima transformou o próprio conhecimento e trajetória em uma empresa dedicada a mostrar o lado cultural de Paris para brasileiros. À frente da ‘Bem In Paris’, criada há 13 anos, ela apresenta viajantes a roteiros que revelam uma Paris histórica, artística e diversa. “Abro a cidade como se fosse um livro para cada turista que chega, porque Paris é uma arte a céu aberto”, afirma.

Dos corredores do Museu do Louvre às ruelas do bairro boêmio de Montmartre, cada canto da cidade se transforma em um cenário durante os tours acompanhados por Edis ou pela sua equipe. “Trabalho com públicos diversos, incluindo famílias com crianças, empresas, grupos de amigos ou até uma única pessoa. Mas, em todos os casos, ofereço roteiros temáticos que podem durar de horas a dias”, destaca a empresária.

Em 2024, Edis lançou o seu próprio ‘Guia de Museus de Paris’, reunindo 46 museus da cidade, além de recomendações práticas e dicas exclusivas. Entre os brasileiros que já foram guiados por Edis, estão nomes como Adriane Galisteu, Luiza Trajano, Maria Fernanda Cândido e a inesquecível Glória Maria, personalidade de grande importância na trajetória pessoal e profissional da empresária. “Meu pai tinha uma forte admiração pela jornalista que ela era e esse sentimento também passou a viver em mim. Cresci em um tempo em que quase não havia mulheres negras na mídia. Glória era uma exceção: uma mulher negra destemida, inteligente e inspiradora”, afirma Edis.

Mais do que uma referência na televisão, Edis teve a chance de compartilhar pessoalmente o carinho que sentia pela jornalista, durante os dois encontros que tiveram. “Guiei a Glória por Paris e, no fim do nosso primeiro tour, ainda a acompanhei ao supermercado. Tomamos um café e conversamos bastante. No segundo passeio guiado, tive o prazer de conhecer as filhas dela e de levá-las para uma atividade nos arredores da cidade, o que tornou a experiência ainda mais especial”, lembra.

A arte imita a vida

Filha de pequenos comerciantes, Edis nasceu em Araguaína, no norte do Tocantins. Cresceu ao lado dos irmãos em uma casa onde o estudo era visto como oportunidade. “Meus pais não tiveram acesso à educação formal, então sempre nos incentivaram a buscar o que eles não puderam ter.”

Encantada por desenhos e pinturas desde menina, Edis participou, aos 15 anos, de um curso ministrado por um professor do Rio de Janeiro que estava temporariamente em sua região. “Esse foi o meu primeiro contato com grandes artistas internacionais”, relembra.

Durante uma das aulas, ao folhear as páginas de um livro de artes, ela se deparou com uma imagem de uma das obras do pintor francês Pierre-Auguste Renoir. Era o quadro ‘Baile no Moulin de la Galette’, de 1876.

A pintura, feita com a técnica de óleo sobre tela, retrata uma tarde de domingo animada no Moulin de la Galette, no bairro de Montmartre, em Paris. “Por ser uma obra impressionista, tive a sensação de ouvir aquelas pessoas conversando em francês”, conta.

A imagem do quadro ficou por dias na mente da empresária, que decidiu aprender mais um idioma para conhecer melhor as obras do artista. Sem condições financeiras para pagar um curso de francês na época, encontrou um jeito de começar por conta própria. “Passei a estudar com fitas cassete de um programa da Editora Globo”, lembra.

O ponto de partida

Aos poucos, Edis passou a compreender o francês e a repetir algumas frases. O tempo passou, ela entrou na faculdade, mudou de estado, mas continuou estudando o idioma. Formada em administração de empresas, em São Paulo, trabalhou durante anos no antigo Banco Nacional e também como professora particular de inglês.
“Quando saí da casa dos meus pais, aos 17 anos, já dominava o inglês e comecei a dar aulas em Ribeirão Preto para complementar a minha renda e conseguir pagar as aulas de francês com uma professora”, relembra.

Longe da família e com saudades de casa, Edis deixou o banco e voltou para o Tocantins. Mas a sua habilidade em outros idiomas logo chamou a atenção do governo estadual. Dias depois, Edis recebeu um convite para trabalhar no gabinete do Governador. Contratada como tradutora e intérprete, fundou, ao lado de um colega de trabalho, o Departamento de Relações Internacionais.
O contato direto com outras nacionalidades, especialmente com os franceses, despertou na empresária o desejo de conhecer Paris. “Na primeira oportunidade, fui fazer um curso de verão na cidade. Estudava o idioma pela manhã e à tarde visitava os museus. Fiz isso por dois anos seguidos, em 1996 e 1997”, conta.

Mas desde a primeira visita a Paris, Edis sabia que aquela cidade faria parte de sua vida: “Foi um encontro de almas, porque senti que havia encontrado o meu lugar [no mundo], mesmo com todo o afeto que tenho pelo Brasil”.

Trilhando o próprio caminho

A guia cultural iniciou uma longa jornada de estudos e tentativas para conquistar um estágio remunerado em Paris. A resposta veio quatro anos depois, quando um empresário belga intermediou para ela uma vaga em uma empresa de importação e exportação de carnes.

Edis ocupou o cargo temporário e foi efetivada. Depois, seguiu atuando no setor privado até conseguir uma vaga no governo, onde passou a integrar a equipe de um programa de cooperação bilateral França-Brasil, do Ministério Francês das Relações Exteriores.

Com o tempo, a empresária decidiu deixar o último emprego para atuar na área do turismo cultural, atendendo o público brasileiro em visita à França. Edis se preparou, durante nove meses, para ser aprovada no concurso de guia conferencista nacional.

“Fiz a prova sem imaginar que teria uma empresa e que meu propósito seria guiar com alma. A Bem In Paris começou de forma despretensiosa, atendendo primeiro os meus amigos do Facebook, mas logo ganhou projeção entre brasileiros que buscam experiência cultural na cidade”, finaliza.