Estudo aponta que mulheres são menos de 25% das fontes no Brasil

Dados preliminares do Global Media Monitoring Project apresentados na ECA revelam que elas aparecem como entrevistadas em menos de 25% das notícias

Envato
Os dados são da Global Media Monitoring Project e apontam que, na internet, esse índice caí para 19% Foto: Envato

A presença feminina no noticiário brasileiro continua tímida e desigual. Dados preliminares da edição 2025 do GMMP (Global Media Monitoring Project), apresentados nesta quarta-feira (24) na abertura do evento Fazendo e Desfazendo Gênero na ECA, mostram que mulheres aparecem como fontes, quando são entrevistadas para alguma matéria jornalística, em apenas 19% a 24% das notícias, dependendo do meio analisado.

A pesquisa, realizada a cada cinco anos, foi feita a partir de 683 matérias publicadas no país e aponta que nos jornais impressos a participação feminina alcança 24%, enquanto na internet cai para 19%. “A presença de mulheres como fontes é infinitamente menor, terrivelmente pequena e desigual”, destaca a jornalista Elizângela Carvalho Noronha, coordenadora do GMMP no Brasil e responsável pela apresentação dos dados.

Vozes limitadas

Criado em 1995, o GMMP acompanha, a cada cinco anos, como o gênero é representado no jornalismo ao redor do mundo. Apesar de alguns avanços pontuais, o panorama global se manteve praticamente estagnado nos últimos 15 anos. No Brasil, a pesquisa mostra que mulheres aparecem mais frequentemente em matérias sobre violência de gênero (42%) e, na internet, em editorias de celebridades, artes e mídia (67%).

Nos grandes temas da vida pública, como política, economia, polícia e esportes, elas permanecem em minoria: aparecem em apenas 22% das matérias e, nas notícias políticas online, a participação cai para 15%. O levantamento também evidencia a ausência de mulheres LGBTQ+ em matérias sobre violência de gênero, reforçando sua exclusão na cobertura jornalística.

O estudo não se detém apenas à presença. Ele também analisa como as mulheres são retratadas. A maioria é chamada a falar sobre experiências pessoais, raramente como especialistas ou porta-vozes: apenas 21% aparecem como especialistas, 22% como representantes institucionais e 35% como testemunhas oculares. Enquanto homens dominam os papéis de políticos, atletas ou líderes religiosos, mulheres continuam sendo enquadradas principalmente como cuidadoras, segundo a pesquisa.

Para Elisângela, a responsabilidade não recai apenas sobre jornalistas: “Podemos sensibilizar repórteres, professores e sindicatos, mas nada disso será suficiente se a indústria jornalística não se comprometer de fato com a equidade. Muitas vezes, é ela quem impõe barreiras ao avanço das mulheres nas notícias”, afirma a pesquisadora.