Durante décadas, as novelas da TV Globo ajudaram a moldar o imaginário nacional. Essa vitrine, porém, ainda está longe de refletir a diversidade do país, especialmente quando o assunto é gênero e raça. Segundo o levantamento “Televisão em Cores? Raça e gênero dos atores das novelas da Rede Globo (1977–2023)”, do GEMAA/UERJ (Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa), mulheres negras ocupavam cerca de 18% dos papéis nas tramas da emissora em 2023.
Esse é o maior índice da história, mas ainda está muito distante dos 28,5% de brasileiras que se autodeclaram pretas ou pardas, segundo o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O contraste é ainda mais evidente quando se observa quem ocupa o centro das histórias nas tramas principais. Entre os protagonistas, apenas 4% são mulheres negras, enquanto nos núcleos secundários o número sobe para 8% ao longo do período analisado.
De acordo com o GEMAA, entre 1977 e 2023, 86,4% dos personagens da TV Globo foram brancos, enquanto apenas 12,9% eram pretos ou pardos. A sub-representação se agrava quando o recorte é de gênero: personagens masculinos brancos seguem como maioria absoluta, e as mulheres negras, embora em crescimento, continuam a ser as mais invisibilizadas.

Crédito: GEMAA/UERJ (Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa)
Apesar da lentidão, os avanços recentes são visíveis. Em 2023, elas representavam 16% do total de atrizes da Globo, o maior percentual alcançado. Produções como Vai na Fé e Amor Perfeito, ambas de 2023, atingiram recordes históricos de diversidade: 43% e 45% de elenco não branco, respectivamente.
As novelas Renascer (remake exibido de janeiro a setembro de 2024) e Volta por cima (no ar de setembro de 2024 a abril de 2025) também contaram com protagonistas negros e apresentam o maior índice de profissionais pretos e pardos em anos recentes.
Nesse sentido, a própria Globo traçou uma meta ambiciosa: até 2030, metade de todos os profissionais envolvidos em suas produções, das novelas aos conteúdos digitais, deverá ser formada por pessoas negras e por mulheres, conforme o novo relatório de ESG divulgado pela empresa.