Estudo mostra que caem presença feminina e diversidade nas séries mais vistas

Relatório da UCLA revela que mulheres e pessoas negras perderam espaço nas produções de maior audiência em 2024, especialmente em posições de protagonismo

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Entre as 222 séries roteirizadas analisadas, apenas 49 tinham uma mulher como criadora principal. Foto: Divulgação/ HBO

A diversidade que parecia ter se consolidado nas séries de streaming nos últimos anos sofreu um forte recuo. É o que revela a edição mais recente do Relatório de Diversidade de Hollywood, elaborado pela UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e divulgado na terça-feira, 16, que analisou as 250 séries mais populares exibidas em plataformas digitais em 2024.

Segundo o estudo, tanto a representatividade feminina quanto a diversidade racial diminuíram de forma significativa em relação ao ano anterior, especialmente nos cargos de criação e protagonismo. Quase 80% dos personagens principais das séries dramáticas e de comédia mais assistidas eram homens brancos, enquanto mulheres e pessoas negras enfrentaram menos oportunidades, sobretudo por trás das câmeras.

Os dados mostram que homens brancos ampliaram sua participação entre criadores, roteiristas e protagonistas. Entre as 222 séries roteirizadas analisadas, apenas 49 tinham uma mulher como criadora principal. Quando considerados todos os criadores e co-criadores, a participação delas cai ainda mais, chegando a apenas 15%.

Já pessoas negras, latinas, asiáticas e indígenas seguem amplamente sub-representadas: juntas, respondem por apenas 8,3% dos criadores, apesar de representarem mais de 44% da população dos Estados Unidos.

O papel das mulheres nas produções

As mulheres, que em 2023 ocupavam 39% dos papéis principais, passaram a responder por apenas 34,3% no último ano. Em relação à raça, apenas 8,3% das séries mais vistas tiveram mulheres negras, latinas ou asiáticas como protagonistas. Mulheres indígenas, por sua vez, seguem completamente ausentes dos papéis centrais analisados pelo relatório.

Nesse caso, mais de 70% das séries criadas por mulheres ou por pessoas não brancas incluíram histórias sub-representadas, contra apenas 32% das produções criadas exclusivamente por homens brancos.

Porém, em 2024, mesmo em séries protagonizadas por homens, cresceu a presença de tramas femininas relevantes. Um dos exemplos citados no relatório é O Pinguim, da HBO, que, apesar de ter um protagonista masculino, desenvolveu personagens femininas complexas e importantes para a narrativa, como Sofia Falcone, interpretada por Cristin Milioti.

Diversidade ainda gera audiência?

O relatório aponta que o cenário representa uma ruptura com o período iniciado após o assassinato de George Floyd, em 2020, quando plataformas de streaming e grandes estúdios anunciaram compromissos públicos com diversidade, equidade e inclusão. Naquele momento, houve um aumento expressivo de projetos liderados por pessoas negras e culturalmente sub-representadas.

Esse movimento, no entanto, perdeu força nos últimos anos, e praticamente se desfez após as eleições de 2024 nos Estados Unidos. Nesse cenário, empresas como Disney, Amazon, Paramount e Warner Bros. reduziram ou encerraram programas internos voltados à diversidade, acompanhando um ambiente político mais hostil a políticas de inclusão.

Apesar do recuo, os pesquisadores destacam que séries que apostam em narrativas com maior pluralidade continuam obtendo melhor desempenho com ao público. Séries com narrativas diversas registraram, em média, seis vezes mais interações digitais.

Produções que incluem histórias centradas em mulheres, personagens racializados, pessoas LGBTQIA+ e pessoas com deficiência também registraram médias de audiência superiores às daquelas que não apresentam nenhum tipo de representação.

Futuro incerto em Hollywood

Nesse caso, as possíveis fusões no setor, como a disputa envolvendo a aquisição da Warner Bros pela Netflix e Paramount, podem fazer com que haja ainda mais concentração de poder e redução da diversidade criativa, além de afetar empregos e condições de trabalho.

Em comunicado, o Sindicato dos Roteiristas da América (Leste e Oeste) pontuou que uma eventual fusão de grandes veículos do mercado ameaça não apenas a concorrência, mas também a pluralidade de vozes em Hollywood, justamente em um momento em que a indústria demonstra sinais de retrocesso.

“A maior empresa de streaming do mundo absorvendo uma de suas maiores concorrentes é exatamente o que as leis antitruste foram criadas para impedir. O resultado seria a eliminação de empregos, a redução dos salários, o agravamento das condições de trabalho de todos os profissionais do entretenimento, o aumento dos preços para os consumidores e a redução da quantidade e da diversidade de conteúdo para todos os espectadores. Os trabalhadores do setor, assim como o público em geral, já sofrem com o controle rígido exercido por poucas e poderosas empresas sobre o que os consumidores podem assistir na televisão, nos serviços de streaming e nos cinemas. Essa fusão precisa ser bloqueada.”