Acordei às 7 horas da manhã com o desafio de não entrar no Instagram.
Às 07:19 falhei quando na primeira ida ao banheiro automaticamente levei comigo o celular e de pronto me deparei com a foto de um inseto chamado Phasmatodea. Em seguida li a seguinte frase: adoro a internet porque com ela aprendo coisas que jamais imaginei.
Pensando bem segundos antes também me fisgara a atenção um vídeo de uma pessoa indo trabalhar onde reluzia um lindo sol maravilhoso nascendo em uma beira-mar repleta de coqueiros e uma brisa suave, meio quente, meio úmida e perfeita, o que imediatamente me deu a ponta de um sentimento de inveja por estar nessa mesma hora me preparando para ir trabalhar durante o feriado em uma sala fria e fechada no centro de São Paulo e com a pele pálida que não vê um raio de sol/sal/brisa/mar perfeito e sem resquícios de areia colada no corpo há pelo menos 4 meses.
Depois disso também vi uma sequência de memes que uma pessoa anda recebendo aleatoriamente do seu algoritmo sobre cocaína, sim, a droga ou melhor que droga ver isso, penso eu, tenho pavor… Foi nessa sequência interminável de memes lendo a análise escrita nos stories que acabei caindo no nome científico do bicho-pau e na declaração de que a internet é uma fonte impressionante de conhecimento.
Ao mesmo tempo em que tudo isso acontece o aplicativo de meditação manda um alerta sobre a medição do meu nível de stress. Está atrasada há mais de uma semana, preciso urgentemente medir meu stress, penso.
Perambulo como um zumbi cansado dentro de casa e vou preparar um café. Sento para ver meus emails e ler o jornal no computador e a primeira página que está aberta no meu desktop é a do maledeto. Navego novamente, quase inconscientemente, e dessa vez vejo a imagem de uma mulher grávida que está prestando uma homenagem ao filho perdido. Fico profundamente triste com isso e logo lembro do pacto comigo mesma. Fecho a guia do Chrome na mesma hora com um sentimento de pavor e culpa pela minha tentativa frustrada.
Abro a página do jornal e vou ler uma colunista de que gosto muito… logo nas primeiras frases ela diz… recebi mais de 600 mensagens, comentários, relatos via Instagram… sobre a coluna anterior que escrevi. Clico para voltar para a home do jornal e a matéria que segue é sobre o boom das maternidades nas redes sociais e a influencer que, ao postar no Instagram sobre sua gestação, viu que chamava muito mais a atenção das seguidoras e então resolveu postar tudo sobre seu futuro bebê, que a essa altura também já é um influencer, antes mesmo de nascer e/ou escolher ser.
Logo que paro de ler essa des-matéria pego o celular para verificar que horas são e sem querer meus dedos clicam no aplicativo magnético. Nesse instante dou um pulo de dedo para trás e rolo o feed pra cima num alívio da minha culpa com as imagens passando num scroll interminável formando um borrão irreconhecível resgatando na minha mente algumas cenas do filme Baraka.
Seria a quinta vez que abro o dito cujo e veja bem não são nem 8 horas da manhã, ou melhor, são 7:57 e tanta coisa já deixou de acontecer.
Agora, conformada depois de falhar todas essas vezes, recebo a notificação do limite diário do aplicativo e me deparo com um post de alguém falando que leu 2 jornais internacionais e mais 2 nacionais, tem palestra e texto para decorar, uma pequena tese sobre as novas variantes do coronavírus e uma possível nova pandemia e que tudo isso é o apocalipse etc, etc…. mas os boletos vai deixar para depois. Vejo que isso foi escrito num post às 6 horas da manhã… O algoritmo não respeita cronologias…e informa que a hiperprodutividade bateu forte na porta do vizinho, tem alguém do clube da 5am já na luta, campeão.
Recebo uma nova notificação sobre a medição do meu nível de estresse e o alerta da meditação que também está atrasada. Por fim, meu telefone toca e o ringtone entoa a canção da Gloria Gaynor, I Will Survive! Assim espero.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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