O tempo cronológico é o maior inimigo das mulheres quando o assunto é fertilidade. A queda na capacidade de engravidar após os 30 anos, e de forma mais acentuada depois dos 35, é decorrente do fato da mulher já nascer com todo o estoque de óvulos que será utilizado durante a vida reprodutiva. Ao longo do tempo, com a diminuição da quantidade e qualidade dos óvulos, a gestação fica mais difícil e cresce o risco de abortos espontâneos.
Para mulheres que decidiram adiar a gestação, por motivos pessoais, emocionais, financeiros ou profissionais, a estratégia de congelamento de óvulos vem se tornando uma das melhores opções para diminuirmos esse risco e preservarmos a fertilidade.
As chances de uma mulher que, por exemplo, congelou os óvulos com 35 anos e deseja engravidar aos 40, permanece a mesma se ela tivesse de fato engravidado aos 35. A probabilidade de engravidar é de até 60% por tentativa de tratamento. Por outro lado, as chances de conseguir engravidar aos 40, através da fertilização in vitro e sem o congelamento de óvulos, é de apenas 20%.
Os avanços da reprodução humana assistida
Desde o nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978, mais de 10 milhões de bebês foram concebidos através da fertilização in vitro, e diversas novas técnicas foram estudadas, criadas e aperfeiçoadas.
Em 2013, a vitrificação de oócitos (nome dado ao gameta feminino, vulgarmente conhecido por ovo ou óvulo) para pacientes a serem submetidas à quimio, radioterapia, ou outros tratamentos gonadotróficos, deixou de ser considerada experimental pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e pela Sociedade de Tecnologia de Reprodução Assistida e passou a ser reconhecida como uma opção médica, isto também ocorrendo no Brasil.
Ao mesmo tempo, a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia já defendia, naquele momento, a possibilidade do uso da criopreservação de oócitos também para a preservação da fertilidade eletiva.
O procedimento ainda tem valor alto para a maioria da população brasileira, em breve esperamos que possa beneficiar um número maior de mulheres, expandindo-se para os convênios e redes de saúde pública. O congelamento de óvulos custa em média R$ 25.000,00 – sendo de R$ 7.000,00 a R$ 10.000,00 para o laboratório de criopreservação e medicação, de R$ 8.000,00 a R$ 10.000,00 para os honorários médicos e cerca de R$ 1.500,00 por ano para aluguel de manutenção dos óvulos.
O processo de congelamento
Também chamado de criopreservação, o congelamento é a técnica de preservação dos óvulos em nitrogênio líquido, por meio da vitrificação.
Antes de tudo, são feitos exames para flagrar ou afastar doenças que comprometem a qualidade dos óvulos. Depois, para aumentar o número deles, a mulher recebe remédios injetáveis, em geral na barriga. Essa estimulação dura cerca de duas semanas.
A coleta é feita em um centro cirúrgico, com sedação. O que é extraído, por meio de uma espécie de agulha acoplada a um aparelho de ultrassom, são os folículos dos ovários, dentro dos quais estão os óvulos. Podem ser realizadas várias coletas, em ciclos diferentes.
Os óvulos são retirados de dentro dos folículos por meio de uma agulha bem fina e permanecem cerca de duas horas no laboratório para uma maturação. Depois, são mergulhados em uma substância congelante, que irá proteger e diminuir a quantidade de líquido em seu interior para evitar a formação de cristais.
Começa então o processo conhecido como vitrificação. Os óvulos são colocados em nitrogênio líquido, o que reduz a temperatura a 196 graus negativos em minutos.
Os óvulos podem permanecer congelados por até dez anos. Quando a mulher decide engravidar, a amostra é retirada do nitrogênio líquido. Existe a possibilidade de recongelamento dos óvulos que não foram utilizados, mas o real impacto desse processo ainda não é conhecido.
A partir daqui a história segue igual à de uma fertilização in vitro convencional: os óvulos são fecundados com o espermatozoide do parceiro, em laboratório, e implantados no útero. Existe ainda a possibilidade de congelar os possíveis embriões excedentes.
Os óvulos podem ser mantidos congelados por tempo indeterminado. É possível, inclusive, que a gravidez aconteça durante a menopausa, após um preparo do útero através de hormônios. O Conselho Federal de Medicina aconselha, entretanto, que a fertilização in vitro seja realizada até os 50 anos, pois os riscos de complicações durante a gestação são mais altos em mulheres com a idade avançada, quando a gravidez é considerada de alto risco.
Muitas mulheres se questionam se realmente vale a pena fazer o tratamento e cada caso precisa ser avaliado individualmente. Por isso é imprescindível que você tenha um acompanhamento com um ginecologista de confiança, conversando sobre suas dúvidas e anseios para se decidir. É importante levar em consideração o seu desejo de ser mãe e entender as chances de engravidar caso você planeje fazer isso após os 40 anos.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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