Nas mãos da risoterapeuta Gabriela Roncatti, um nariz de borracha azul deixa de ser um simples acessório e se transforma em instrumento de alegria. Vestida com jaleco branco e maquiagem divertida, ela circula por ambientes onde a rotina é desafiadora e distribui sorrisos sinceros. “Esse nariz azul abre portas e corações também”, afirma.
Criadora do Rumo ao Riso, Gabriela coordena desde 2024 um grupo de voluntários que leva atividades interativas a hospitais, lares de idosos e escolas públicas. Mas sua relação com a arte e com o humor começou muito antes do projeto ganhar nome e estrutura.
Natural de São Paulo, a risoterapeuta costuma dizer que ‘nasceu trabalhando’. Na maternidade, no dia 16 de abril de 1980, ela era a única menina entre os recém-nascidos e acabou sendo escolhida para ser fotografada. “Fui conhecida como a bebê mais bonita do dia”, recorda.
O episódio marcou o início de uma trajetória que transita entre o entretenimento e a comunicação. Ainda criança, Gabriela fez fotos, publicidades e encontrou no teatro um caminho natural.
“Sonhava em ser atriz, queria fazer papéis dramáticos, até conseguir interpretar a Julieta, no entanto, quando subia no palco, arrancava risadas da plateia. A professora dizia que eu era engraçada por natureza”, detalha.
E assim ela seguiu, entre papéis e personagens, Gabriela se formou como atriz, participou de programas de TV, apresentou shows de stand-up e, em paralelo, continuou atuando em projetos de forma totalmente voluntária.
O riso como terapia
Grande entusiasta da felicidade, a atriz começou a atuar como palhaça por meio da palhaçaria terapêutica, uma prática artística voltada ao estímulo do bem-estar. “Me encantei pela atividade e senti a necessidade de estudar cada vez mais, porque envolvia saúde e ciência”, conta.
Sem encontrar cursos profissionalizantes no Brasil, Gabriela buscou formação na Argentina. “Eu e a Jaqueline Conessa somos as primeiras risoterapeutas formadas no país, então sabemos que estamos abrindo caminho por aqui”, diz.
Unindo conhecimento e alegria, ela colocou em prática o desejo de transformar a vida de outras pessoas. Para Gabriela, o palhaço é um personagem imperfeito e cheio de pureza. “Sei que entrar em um lugar no qual não conheço ninguém pode ser difícil para criar vínculos, mas, como palhaça e com meu nariz azul, tudo fica mais fácil.”
Aos poucos, a atriz foi abraçando novos projetos solidários e ampliando o trabalho voluntário. “Foi uma transição natural. Mesmo com minhas atividades artísticas, eu visitava hospitais, lares de idosos e orfanatos”, relembra.
Rock + Humor
Ao lado do marido, o produtor musical Landau, Gabriela criou o espetáculo Rock + Humor, combinação de diálogos bem-humorados com performances musicais. Com o projeto, o casal rodou o Brasil levando arte, leveza e uma boa dose de felicidade ao público. “Um projeto que amamos realizar juntos”, descreve.
Mas foi justamente durante essa fase que a risoterapeuta decidiu abrir espaço para um novo sonho, a criação de um grupo de voluntários. Gabriela buscou parceiros e, há um ano, passou a levar o Rumo ao Riso de forma profissional, transformando a iniciativa em um lugar de impacto social.
“Eu já tinha o hábito de escrever músicas. Com o apoio do Landau e também do meu irmão, que é DJ, eu fiz as letras e eles criam as melodias”, afirma.
Rumo ao Riso
As canções se tornaram a base para Gabriela e os outros dez voluntários visitarem hospitais, lares de idosos, orfanatos e escolas. “Estamos concentrados em São Paulo e na Bahia, estados que fazem parte da nossa rota, mas queremos expandir os atendimentos”, reforça.
Com o objetivo de levar acolhimento e momentos de alegria, o Rumo ao Riso combina técnica, sensibilidade, presença e escuta ativa. “São as nossas ferramentas, e a ciência comprova que quanto mais o riso é trabalhado, mais benefícios ele traz para o corpo e a mente.”
Gabriela também presenteia os pacientes com o livro que escreveu. Lançado no início deste ano, a obra conta a história de afeto vivida junto ao seu animal de estimação. “Di, o cachorro pula-pula, é um retrato do amor que senti por ele e que me inspirou.”
Disponível em formato físico e audiobook, o conteúdo é entregue de forma gratuita. Um dos motivos que leva a idealizadora do grupo a reforçar a iniciativa é o apoio cultural por meio da Lei de Incentivo. “É um suporte totalmente necessário, afinal, todo o nosso trabalho é voluntário. Sem o apoio de patrocinadores e leis, não seria possível alcançar tantas pessoas”, finaliza.