Até quando posso ter um filho? Já passei da idade? Essas perguntas são cada vez mais frequentes, em função do grande número de mulheres que hoje adiam o momento de se tornarem mães. Algumas sentem necessidade de se dedicar primeiro à vida profissional, outras esperam o momento oportuno, que tanto pode depender de uma relação afetiva sólida quanto de melhores condições financeiras.

A questão da maternidade em mulheres com mais de 40 anos também envolve uma questão de gênero, já que existe toda uma discussão social quando mulheres com mais de 45 anos resolvem ser mães. “Está muito velha”, é o que dizem, enquanto homens com até mais de 70 anos, como recentemente aconteceu com Al Pacino e Robert de Niro, que aos 73 e 79 anos foram pais, só recebem elogios. 

É verdade que o primeiro parto pode ser trabalhoso quando acontece depois dos 35 anos, quando os tecidos musculares e as partes moles da bacia têm uma capacidade menor de descontração. Essa característica fisiológica cresce com o passar dos anos.

Os dados mostram que no Brasil, em 2022, tivemos 331.438 partos em grávidas acima dos 35 anos – e 102.644 em mulheres acima dos 40. Vejam, nós tivemos praticamente 434 mil casos de gestação em mulheres com mais de 35 anos. Isso mostra que realmente houve uma mudança no eixo das gestações em nosso país.

Em 2021, 5.297 mulheres entre 45 e 49 anos deram à luz, e 416 mulheres com 50 anos ou mais tiveram filhos, portanto mais de um parto por dia.

O número de mulheres que tiveram filhos entre 40 e 49 anos mais que dobrou no estado de São Paulo, e entre as de 30 a 39 anos houve um aumento de 18%.

Sabendo que no Brasil metade das mães estão sozinhas, viúvas ou solo, constatamos que uma parte muito grande da população está conseguindo assumir esta maternidade.

 Vamos pensar? Se eu sou uma mulher que quero engravidar após os 35 anos, que caminhos teria? Primeiro: anotar realmente meu ciclo em torno dos 30 a 34 anos. Por que? Quando houver um intervalo reduzido, menor que 21 dias, ou muito estendido, maior que 35 dias, entre a menstruação, a ovulação pode não estar ocorrendo. Então é necessário estar atenta para ver se, no meio do ciclo, existe algum sinal que indique ovulação, como muco espessado ou leve dor em alguns dos ovários.

Também existem testes de ovulação nas farmácias, que devem ser feitos na metade do ciclo, geralmente entre o 12º, 13º até o 16º dia. Outra indicação é a avaliação hormonal, onde conseguimos medir as taxas do FSH, LH, estrogênio e progesterona, determinantes para saber se a mulher está longe ou não da menopausa. Um outro exame importantíssimo afere a presença do hormônio antimulleriano, que indica nossa reserva de óvulos. 

O ultrassom vai mostrar se os ovários estão de tamanho normais e, caso a menstruação seja muito dolorosa, todos os meses, também seria necessário fazer exame de sangue e ressonância magnética, que podem apontar o início de uma endometriose – situação especial que dificulta a ovulação, pode causar trompas obstruídas e infertilidade.

Há uma série de outros exames, igualmente importantes, como a verificação do estado geral da mulher, se ela é ou não diabética, hipertensa, se tem alguma doença autoimune. O lúpus, por exemplo, pode antecipar a reserva ovariana.

As taxas de vitamina D, hoje associadas à infertilidade, também devem ser verificadas, assim como as de vitamina E, além dos hormônios da tireoide.

Avaliados esses parâmetros, podemos optar pelo congelamento de óvulos, que deve acontecer em torno dos 34 anos. Se todas as dosagens estiverem boas, o procedimento pode ser feito por volta dos 36 anos. O congelamento em torno dos 35 anos garante maior número de óvulos.

Além do congelamento de óvulos, uma alternativa cada vez mais pensada é a ovo-doação. Muitas mulheres escolhem esse caminho, além da fertilização assistida.

É bom lembrar que uma mulher na faixa dos 35 anos possui uma taxa de 25% de chance de engravidar mensalmente – porcentagem que cai para 8% aos 37, 38 anos.

O conhecimento do seu estado físico é fundamental para que você opte por esperar, e o congelamento de óvulos é uma grande segurança para as mulheres que decidem optar pela sua profissão e sua independência, antes de engravidar.

É possível, portanto, engravidar com mais de 35 anos? Sim. As chances diminuem depois dos 41 anos, embora o número de pacientes que engravidaram acima dos 40 tenha praticamente dobrado no estado de São Paulo, e crescido no Brasil também, nos últimos 20 anos.

Quais seriam os riscos? A pressão alta, que pode acontecer mas ser monitorada, assim como o diabetes, que hoje também pode ser controlado com mais segurança. O parto prematuro pode estar associado à gravidez acima de 40 anos, mas sabemos que está relacionado a vários fatores, inclusive à infecção urinária. O exame de urina mensal, nesse caso, não deve ser esquecido. 

O medo das más-formações também é frequente, mas hoje temos um exame chamado Nipt, feito na 10ª semana de gestação, que mostra claramente se existe ou não uma alteração de cromossomos 21, ou de outras alterações genéticas.

Além de tudo, a ultrassonografia feita na 12ª semana é indicada para que as mulheres tenham um conhecimento bem mais preciso sobre o bebê – feita na 20ª semana, associada aos exames cardíacos do feto, nos garantem ainda mais tranquilidade.

Mulheres com mais de 35 anos, quando ficam grávidas, costumam tomar essa decisão com consciência, principalmente quando é o primeiro filho. E, neste contexto, eu prefiro fazer o parto de uma paciente com mais de 40 anos do que de uma com menos de 15, pois na jovem a gravidez provavelmente aconteceu por acaso e, na mulher com mais de 35 anos, o acontecimento foi planejado.

Para demonstrar meu compromisso com as mulheres com mais de 35, 40 e até 45 anos que escolheram ser mães, decorei meu consultório com quadros que ganhei das pacientes que foram mães acima dos 40.

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.