Grupos de afinidade fortalecem empreendedorismo feminino

Iniciativas unem mulheres para abrir portas e transformar realidades no ambiente profissional

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Silvia Coelho, fundadora do projeto Elas Programam, em Foto: Divulgação

Com o avanço das políticas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão), muita coisa mudou no mundo corporativo. Mas, quando o assunto é representatividade feminina, especialmente em setores dominados por homens, ainda há um longo caminho pela frente.

Foi pensando em encurtar essa distância que grupos de afinidade começaram a ganhar espaço. São redes formadas por pessoas que compartilham características ou interesses em comum, como gênero, raça, orientação sexual ou área de atuação, para trocar experiências, criar oportunidades e, principalmente, abrir portas com capacitações e maior visibilidade no mercado.

Essas iniciativas podem surgir dentro de empresas, voltadas a seus colaboradores, ou funcionar de maneira independente, abertas a todos que se identificam com a causa. Segundo a Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), 46% das empresas brasileiras com programas de diversidade também criaram grupos de afinidade internos. No cenário internacional, 90% das companhias listadas na Fortune 500 já adotam ações desse tipo, de acordo com a Forbes.

No universo da tecnologia, por exemplo, quem conhece bem a importância dessas conexões é a Silvia Coelho, criadora do grupo Elas Programam. “Criei a Elas Programam em 2017, quando estava tentando voltar para o mercado de tecnologia. Eu tinha ficado dez anos fora, dedicada à maternidade, e me sentia sozinha, sem contatos e achando que a tecnologia não era mais meu lugar”, conta.

Foi justamente essa percepção da solidão e da falta de conexões que impulsionou a criação da iniciativa. “Esses grupos são justamente essa rede, eu nem chamo de apoio, é rede de aceleração mesmo. Porque a carreira realmente dá um salto, por conta das indicações, das pontes, das oportunidades”, afirma a fundadora.

Com o objetivo de ampliar a presença feminina em uma área historicamente dominada por homens, hoje Silvia publica diariamente vagas e oportunidades em canais do Telegram e do Whatsapp. “Quando a mulher participa ativamente da comunidade, ela é lembrada. Se estiver em recolocação ou fora do mercado, será ajudada pela rede”, explica.

Mas o cenário não é fácil. “Hoje as portas estão fechadas para esses programas afirmativos. Então, as mulheres acabam tendo que disputar vagas não afirmativas e aí a dificuldade no processo de seleção. Muitas das vezes os processos eletivos são compostos por homens, 100% das vezes, e as mulheres são muito mais sabatinadas e cobradas”.

Conexões que transformam 

No empreendedorismo feminino, essas redes fazem muito mais do que juntar pessoas: elas orientam, capacitam tecnicamente e abrem portas para oportunidades que, muitas vezes, seriam inalcançáveis sozinhas. E isso é essencial em um ambiente ainda marcado pela desigualdade de gênero.

Mesmo quando atuam fora do ambiente corporativo, essas comunidades têm reflexos dentro das empresas. Elas ajudam a abrir os olhos para algo que passa despercebido: muitas mulheres, mesmo inseridas nesses espaços, não se percebem como minoria. Ao promover reconhecimento e senso de pertencimento, os grupos de afinidade fortalecem a autoestima e a confiança para buscar mais espaço.

“A importância de ter grupos como Elas Programam externamente é aumentar essa visibilidade, aumentar a conscientização do mercado e incentivar esses movimentos de iniciativas e ações que são realmente de impacto, porque o movimento precisa ser de dentro para fora para poder ter mudanças”, diz Silvia.

Diante de barreiras como dificuldade de acesso a crédito, escassez de investimentos e redes de contato limitadas, esses coletivos vêm ganhando força ao oferecer suporte prático, emocional e profissional. Mais do que espaços de acolhimento, eles se tornam ferramentas de aceleração de carreira.

Diversas iniciativas têm se destacado no país por promover apoio, visibilidade e oportunidades para mulheres em diferentes áreas:

  • Women in Finance Brasil – Rede que aproxima e fortalece mulheres no mercado financeiro, promovendo trocas, eventos e oportunidades de crescimento na carreira.

  • Black Sisters in Law – Grupo formado por advogadas negras que oferece apoio jurídico, promove a troca de experiências e amplia o acesso a oportunidades na área do Direito.

  • Rede Mulher Empreendedora (RME) – Maior rede de apoio a empreendedoras do país, oferecendo capacitações, mentorias e acesso a crédito para impulsionar negócios liderados por mulheres.

  • IEEE Women in Engineering (WIE) – Rede global voltada para mulheres nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Oferece mentoria, networking e oportunidades de desenvolvimento de carreira.

  • Women Corporate Directors (WCD) – Organização global que reúne mulheres que atuam em conselhos de administração e posições de liderança corporativa por meio de eventos, networking e ferramentas de educação