Ladies in Tech conecta mulheres e transforma o ecossistema de tecnologia

Comunidade já reúne 350 integrantes, promove mentorias, eventos e dá visibilidade a startups lideradas por mulheres

Daniel Schinoff/ Divulgação
Ladies Summit, evento anual promovido pelo Ladies in Tech Foto: Daniel Schinoff/ Divulgação

O Ladies in Tech nasceu de uma amizade e de um propósito compartilhado. Marceli Branderburg, advogada e empreendedora, e Aline Busch, administradora, se conheceram em um MBA de Gestão Estratégica Econômica de Negócios na FGV. Ali, entre estudos e debates sobre empreendedorismo, chegaram a uma percepção similar: a tecnologia era, e ainda é, um universo predominantemente masculino, com poucas mulheres participando e no comando de startups, pelo menos em primeira instância.

Durante suas experiências em acelerações, ambas se depararam com a mesma realidade: eram poucas as mulheres presentes nesses espaços, e, quando estavam, enfrentavam cobranças diferentes e mais rigorosas. Marceli havia criado startups na área jurídica, a Smart Judice e a EZ Docs, enquanto Aline, após anos à frente de uma rede de lavanderias familiar, a Softsec, fundou um serviço inovador de armários inteligentes, a Colocker. E a constatação era clara: havia uma lacuna de acolhimento, visibilidade e capacitação para mulheres empreendedoras no setor de tecnologia.

Aline Busch e Marceli Brandenburg, sócias-fundadoras do Ladies in Tech

Do grupo de WhatsApp à rede nacional

O ponto de partida do Ladies in Tech foi um simples grupo de WhatsApp. Inicialmente, quatro mulheres compartilhavam experiências e aprendizados. Em poucos meses, a rede cresceu para 50, depois 100, e hoje reúne 350 integrantes em 17 estados, tendo participantes até em Portugal e na Alemanha. A partir desse crescimento orgânico, a ideia se consolidou: criar um instituto sem fins lucrativos, que desse palco e visibilidade a todas as mulheres da rede, funcionando como um espaço de network e troca de experiências. 

“Abrimos uma comunidade aberta no WhatsApp justamente para conectar todo mundo, porque não adianta levantar a bandeira que queremos ocupar os mesmos lugares se nós criamos um espaço separado. Então, temos esses dois vieses: a comunidade aberta para todas as pessoas e tem o grupo do Ladies”, explica Marceli. 

O Ladies in Tech, além de maior visibilidade, oferece capacitações com workshops mensais, mentorias e eventos que abordam desde liderança e gestão até vendas e marketing, oferecendo oportunidades para que mulheres apresentem seus conhecimentos e testem suas habilidades em público.

Entre os eventos que elas organizam estão o Beer Pitch, encontro mensal que já chegou a acontecer em várias cidades, e o Ladies Summit, que acontece anualmente em Porto Alegre (RS) e é dedicado a fortalecer o protagonismo feminino na tecnologia, oferecendo palestras e networking com profissionais referência no setor. 

Voluntariado e as embaixadoras locais 

Atualmente o projeto funciona como uma organização sem fins lucrativos, com atuação totalmente voluntária. As co-fundadoras, junto com um conselho de dez mulheres, se dividem em grupos de trabalho com foco em administração, eventos e comunicação. Cada conselheira tem metas e estratégias próprias para o desenvolvimento do instituto ao longo do ano. 

Além disso, as fundadoras contam com embaixadoras locais, mulheres que representam o Ladies em suas cidades, promovendo eventos e acolhendo as novas integrantes. “Claro que algumas decisões acabam caindo na gente, mas o objetivo das embaixadoras é justamente isso, mostrar que existem outras caras. Então, criar representantes que espalhem a palavra e aí aquela pessoa que mora em São Paulo, ou enfim, outra cidade, veja aquela embaixadora como carinha do Ladies também. Para que as integrantes se sintam pertencentes, embora não estejam em Porto Alegre”, conta Marceli.  

O futuro do Ladies in Tech 

Os próximos passos do projeto estão focados na implementação de dois programas: o Ladie Focus, que é pensado para atender de forma personalizada às dores específicas de cada empreendedora. Cada participante irá relatar, em um formulário, quais desafios enfrenta no seu negócio. A ideia é selecionar três mentoras com experiência na área em questão, como vendas, por exemplo, para ajudá-la a solucionar o problema identificado.

Durante o programa, a empreendedora irá expor suas dificuldades às mentoras, que irão analisar o caso, apresentando soluções e ajudando a elaborar um plano de ação. Após o término do programa, haverá um acompanhamento periódico para verificar como as estratégias estão funcionando e ajustar o que for necessário. 

“Uma coisa é trazer um workshop geral que trata sobre assunto. Outra coisa é conseguir trazer essa empreendedora para o foco do espaço. E montar uma solução para ela, porque uma coisa é eu ter o conhecimento teórico, que isso é o que trazemos no workshop. Às vezes é difícil para essa empreendedora saber como eu faço essas estratégias serem boas para o meu negócio”, explica Aline.

Outro projeto em desenvolvimento é a Aceleração Lift, que pretende oferecer uma abordagem diferente ao não segmentar as startups por estágio, em vez disso, cada empreendedora iria escolher os módulos mais adequados para suas necessidades específicas. Cada módulo contaria com uma mentora especializada, com experiência na área. 

“O Ladies tem startups em vários estágios, inicial, de ideação, de validação, de escalabilidade. Então estamos criando uma aceleração que um módulo é independente do outro, justamente para que elas consigam focar no que elas precisam para nesse momento”, diz.