A conclusão do último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que, a cada ano, o trabalho forçado em todo o mundo gera lucros ilegais de US$ 236 bilhões. Equivalente ao PIB da Suécia, esse valor representa um aumento de 37% em relação a 2014. Divulgado em 19 de março passado, o estudo revela que, na última década, os lucros provenientes da exploração de seres humanos cresceram 37%, ou seja, 64 bilhões de dólares a mais a cada ano. O índice representa um aumento significativo, alimentado pelo crescimento do trabalho análogo à condição de escravidão.

Em 2014, aliciadores lucravam cerca de US$ 8.270 por cada vítima de trabalho escravo – agora conseguem aumentar os seus lucros para quase US$ 10.000, conforme o relatório Lucros e Pobreza: Aspectos Econômicos do Trabalho Forçado (OIT).
Os lucros ilegais anuais provenientes do trabalho forçado são mais elevados na Europa e na Ásia Central (US$ 84 bilhões), seguidos pela Ásia e Pacífico (US$ 62 bilhões), pelas Américas (US$ 52 bilhões), pela África (US$ 20 bilhões) e pelos Estados Árabes (US$ 18 bilhões). Quando expressos por vítima, os lucros ilegais anuais são mais elevados na  Europa e na Ásia Central, seguidos pelos Estados Árabes, Américas, África, Ásia e Pacífico.

exploração sexual forçada, envolvendo crianças, adolescentes e mulheres, é a atividade ilegal que gera os maiores lucros para os exploradores: US$ 27.252 em lucro por vítima, representando mais de dois terços (73%) da economia ilícita. É seguida pelo trabalho forçado na indústria (US$ 35 bilhões), serviços (US$ 20,8 bilhões), agricultura (US$ 5 bilhões) e trabalho doméstico (US$ 2,6 bilhões).

Esses lucros ilegais são os salários que, por direito, pertencem aos trabalhadores e às trabalhadoras, mas que ficam nas mãos dos seus exploradores, como resultado das suas práticas de exploração. O trabalho forçado perpetua os ciclos de pobreza e a exploração e atinge o cerne da dignidade humana.
O relatório destaca que os lucros dos aliciadores, obtidos por meio da exploração sexual, contrastam com as receitas limitadas obtidas pelas vítimas, que recebem muito pouco ou praticamente nada. Em geral o pagamento é negado às vítimas porque devem liquidar uma dívida com o seu traficante, supostamente contraída em decorrência de terem sido objeto do tráfico de pessoas, como esclarece o estudo. As vítimas se submetem a um regime de servidão por dívidas, tem sua mobilidade reduzida e ficam confinadas em locais inóspitos.

O fato de a exploração sexual comercial ser considerada uma atividade ilegal, em alguns países, significa que as vítimas teriam pouco ou nenhum acesso à justiça, ainda como alerta o relatório.

A Organização Internacional do Trabalho aponta múltiplas formas de coerção que obrigam as vítimas a trabalhar em condições de escravidão. A primeira delas é a retenção sistemática e deliberada de salários, que atinge 36% de quem sofre esse tipo de agravo, seguida pelo abuso da vulnerabilidade por meio da ameaça de demissão, sofrido por uma em cada cinco vítimas.

O trabalho escravo não apenas perpetua a desigualdade e a exploração, mas também viola os direitos fundamentais e a dignidade humana. A cooperação internacional é crucial para implementar medidas eficazes e acabar com essa injustiça. O governo brasileiro precisa agir rápido e com muito vigor no enfrentamento desse tipo de prática criminosa, especialmente assegurando proteção integral às crianças, adolescentes e mulheres.

 

Referências

Disponível em: https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_920249/lang–pt/index.htm Acesso em: 23/03/24.

Disponível em: https://pt.tradingeconomics.com/sweden/gdp Acesso em: 23/03/24.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.