Meditação. Políticas públicas. Sustentabilidade. Direitos humanos. Terremoto. A sexta-feira, 8, foi uma mescla de emoções. A IstoÉ Mulher acompanhou o segundo dia de evento das lideranças brasileiras, o Desert Women Summit, organizado por Janaína Araújo, do Instituto Leke, e o Grupo Xaluca. 

Muita coisa aconteceu na sala de convenções do hotel Kasbah Xaluca, começando pela chegada de mala e cuia das empresárias Luiza Trajano e de Chieko Aoki, palestrantes do dia. Após o almoço, servido pontualmente no restaurante do hotel, ocorreram as palestras inspiradoras sobre políticas públicas com Iza Arruda, Priscila Gama, Milena Pedrosa e Alexandra Segantin e mais tarde com Núbia Lentz, Julia Freixo, Anália Belisa Ribeiro e Rogéria Pinheiro que falaram sobre o desenvolvimento sustentável e autonomia financeira. 

O terremoto chegou ao final do dia, com tremores leves no local do evento, por estar mais ao sul do Marrocos.

Quais os destaques deste segundo dia? 

  • Meditação Chakra do Coração – Dirce Katayama

O Núcleo Ser é responsável pelas vivências de bem-estar e saúde integrativa, e essa foi a primeira experiência do evento: uma meditação guiada em meio a um salão aberto com tapetes e um som bem leve ao fundo. 

“Essa meditação tem como objetivo expandir nosso amor para todas as direções e receber amor de todas as direções, uma prática muito simples e intensa”, complementa a proprietária do Núcleo Ser.

  • Avanços e desafios da participação política das mulheres – deputada federal Iza Arruda 

“Sou a primeira e única mulher a ser deputada federal do interior do estado de Pernambuco, uma cidade linda e acolhedora, assim como esta (Arfoud, Marrocos), claro, com suas diferenças sociais e na qualidade de vida das pessoas” começa Iza, depois da atriz Luciana Vendramini passar a palavra a deputada. 

Iza contou um pouco sobre seu trabalho na cidade em que nasceu e viveu até se tornar deputada. “Cresci sonhando com um mundo mais justo, igualitário, com mulheres em cadeiras de destaque. Imbuída nesse desejo entrei na política”, afirma.

Durante sua fala, Iza trouxe nomes de diversas mulheres que são inspirações na luta a favor das políticas públicas, uma delas sendo Khadija Riyadi, fonte de inspiração a favor dos direitos humanos. Complementando que sua presença se faz necessária para falar sobre os desafios da mulher na política e o que efetivamente muda quando uma de nós tomamos esse espaço.   

“Precisamos dar cor ao Parlamento, precisamos de mais mulheres, mais negros, mais indígenas. Precisamos de diversidade de pessoas entre homens e mulheres, ocupando esse espaço!”, diz.

  • As mulheres na política pública – Milena Pedrosa

“Sou servidora pública, acho esse nome tão bonito, minha vida hoje é servir o estado de Minas, os 22 milhões de mineiros que estão lá e eu acho isso muito bonito porque hoje em dia eu entendo que o estado não é mais soberano, é bonito poder ver e construir as políticas públicas de uma maneira coletiva”, explica a Secretária Adjunta de cultura e turismo de Minas Gerais.  

Milena comentou sobre o que tem feito pelo estado de Minas, atuando com as políticas públicas, a cultura, colocando o feminino à disposição da sociedade. “Eu entendo que a transformação social e econômica do nosso Brasil é a cultura, porque ela humaniza, sensibiliza e tem esse lugar do cuidado, do ser feminino. Eu desejo que a gente possa estar mais empoderada, para construir as políticas públicas, porque todos nós somos seres políticos, pensando nessa rede do bem”, complementa. 

Com Milena, Minas Gerais tem trabalhado com a economia da criatividade, e um trabalho lindo com as mulheres da agricultura. 

  • Mulheres no poder – Priscila Gama 

Vindo de uma família que a ensinou a seguir os sonhos de seus ancestrais, Priscila conta em sua palestra que decidiu que seria também a estratégia de seus antepassados, não somente os sonhos.

“Eu sou fruto das pessoas que lutaram para que eu estivesse aqui, e digo nós porque sempre que uma mulher negra senta diante de pessoas, especialmente de pessoas não negras, a gente carrega muita gente conosco, pessoas que não teriam esse acesso”, conta.

Nascida no Espírito Santo, a estrategista de inovação e tecnologia social explica que passou a vida toda vendo os aviões passarem e não terem escala em sua cidade. “Mesmo que em Espírito Santo tenha um percentual de pessoas negras bem substancial, com 63% das pessoas. Ainda há poucas políticas feitas para a população negra e periférica.” 

De acordo com a CEO das Pretas, laboratório de inovação social, o Brasil por muito tempo achou que o social era filantropia. “Eu sou uma mulher negra da periferia e o futuro é uma coisa que foi pautada, mas pouco vista por nós. Diziam pra eu me levantar pra garantir o futuro, estudar para garantir o futuro e o futuro não chegava.”

Priscila conta como foi sua criação, com piadinhas por ela estudar muito quando criança, trazendo ao foco que seus pais lutaram para que ela tivesse o acesso que conquistou hoje. E que “é importante que eu possa inspirar e motivar a transformação social, com as políticas públicas que de fato fazem a diferença para que as pessoas não precisem mais das cestas básicas. Eu acho que meu papel aqui, como mulher negra, diante de todas as mulheres não negras fabulosas, incríveis e cheias de canetas para assinar mudanças é fazê-las refletir que sim, deveriam ser todas iguais, mas não somos… deveríamos ter os mesmos direitos, mas não temos”, encerra. 

  • Necessidade da inovação – Alexandra Segantin 

Destacada pelo cargo de CEO do Grupo Mulheres Brasil, Alexandra começa sua palestra com a reflexão sobre a importância do grupo.

Como pensar um grupo que vai ser político, para movimentar políticas públicas, mas com as mulheres sendo protagonistas. Nós não estávamos nesse contexto, faz só 90 anos no Brasil que a mulher começou a poder votar, temos apenas 18% de presença feminina na câmara”, afirma.

Alexandra falou sobre a tecnologia não ser responsável pela inovação e sim uma ferramenta para a humanização, esta é a verdadeira inovação. Comentando sobre a necessidade das mulheres terem gosto pela política, já que hoje a política não pode mais ser comandada só por homens brancos, de meia idade. “Precisamos de mais mulheres na política, não deixem mulheres sozinhas, porque é muito solitária estar nesses espaços só. Então essa inovação social é o grupo mulheres do Brasil, como um grupo político que faz políticas públicas voltadas a mais mulheres nos espaços de decisão. Eu acho que isso é ser inovador…” 

Em meio ao painel, Luiza Trajano pede licença e entra na conversa, aproveitando para comentar que desde pequena seu ideal sempre foi transformar o País, e que se espelha nos Estados Unidos em relação a essa temática. “É assim que os Estados Unidos funcionam, foi através das políticas públicas e da interferência da sociedade civil. Lógico que a gente quer priorizar a causa negra, a gente quer diversidade, mas principalmente queremos acreditar que podemos!”, afirma. 

  • O papel das mulheres na promoção da igualdade de gênero – Núbia Lentz 

“Se em SP, uma das maiores cidades da América do Sul, já é difícil ser mulher, imagina no Amazonas”, começa Núbia, refletindo sobre seu estado de origem, onde claramente a fundadora da startup Carbon Stake rompeu barreiras para se destacar e crescer profissionalmente. 

Núbia, também colunista da IstoÉ Mulher, contextualiza as mulheres sobre seu intuito, falando sobre as 5 ODS, metas da ONU para os países englobados alcançarem até 2025, visando eliminar todas as formas de descriminação. 

“E o que as mulheres podem fazer para ajudar a atingir essas metas? António Guterres, Secretário Geral da ONU, deu uma declaração falando que “para as mulheres alcançarem a igualdade de gênero como estão hoje, demoraram cerca de 300 anos”. Para Núbia, isso é triste, mas não se o objetivo for melhorar a sociedade para as próximas gerações. 

Lembrando que anos atrás, o chá das cinco eram só mulheres com suas melhores roupas, se juntando para falar sobre as temáticas que antes não podiam trazer ao público. Enquanto hoje, há eventos como o Desert Women Summit ressaltando a importância da presença feminina nas políticas públicas e ações de sustentabilidade. 

  • Empoderamento econômico e autonomia financeira das mulheres – Julia Freixo 

Empresária, advogada brasileira, nascida em Pimenta, Minas Gerais, Julia teve uma jornada incrível de superação. Desde cedo trabalhava para ajudar a família e nunca deixou de estudar. Atualmente, é diretora jurídica na Entre Investimentos e tem uma trajetória inspiradora de sucesso no mundo empresarial e jurídico.

Julia comenta ser sua primeira vez falando para um público tão grande. Já com lágrimas nos olhos ela conta como foi o processo de sair de sua cidade natal. “Todo mundo tem uma história aqui, seus percalços… Eu não lembro com tristeza da minha vida em Pimentas, eu lembro com orgulho, eu não podia dar errado, porque eu queria que a minha mãe desse certo. Então eu lembro dessa fase das nossas vidas, dela costurando por necessidade, enquanto eu ia lavar cabelos e fazer as unhas nos salões, essa foi a profissão que pagou meu primeiro curso, que não foi uma faculdade pois o dinheiro não dava pra algo mais caro.” 

Julia complementa que saiu de sua cidade com 19 anos para ir a São Paulo, como manicure, onde teve muita ajuda para conseguir entrar nos serviços e conhecer as melhores pessoas, que lhe deram oportunidade. “Me formei em advocacia, fui mãe solo, apesar de ter sido casada”, conta.

“Um dia minha filha me viu conversando sobre tudo isso e muito nova, ela me disse que tinha orgulho de mim. Pra mim eu já ganhei tudo e isso impulsiona a gente”, comemora. 

A palestra de Julia foi uma inspiração e falou de forma indireta sobre a liderança feminina, sobre a capacidade de cuidar e poder contribuir para quem está ao seu lado, seja em casa ou no trabalho. “Mulheres lideram com coração, lideram sendo cuidadosas e fazendo as coisas com força de vontade.” 

Júlia explica como a empresa de investimentos Entre Pay e a holding Cactus vêm alinhando seus objetivos ao microcrédito orientado para mulher de baixa renda, contribuindo para a fala da próxima painelista: Anália Belisa Ribeiro. 

  • Autonomia financeira para mulheres em situação de vulnerabilidade – Anália Ribeiro 

Psicóloga, pesquisadora, mestra e doutora pela Universidade de São Paulo (USP), a consultora sênior do Freedom Fund sabe tudo sobre temas como tráfico de pessoas e direitos humanos, um dos mais relevantes para quem pensa em entender a sociedade pós-Covid, pós-tudo. Indo de encontro ao objetivo do evento Desert Women Summit, Anália visa contribuir para outros ecossistemas de mulheres utilizando o microcrédito orientado junto a Entre Pay. 

“Mulheres se multiplicam em biomas, e esses biomas desenvolvem e efetuam as ações necessárias.” Ela completa que “se não garantirmos leis e políticas públicas que assegurem a construção de empresas do quarto setor será um desastre”, diz. 

Anália fala que sem foco, sem saber o que estamos fazendo, não adianta termos acesso. “No projeto com a Julia, vamos atender sobretudo mulheres sobreviventes da violência doméstica, de processos de exclusão e marginalização.”

Ela finaliza sua fala dizendo que a coragem nos move e que estarmos unidas aqui é exatamente o significado dessa frase. 

  • Turismo no futur0, com Rogéria Pinheiro

Mulher preta, empreendedora no setor de turismo, e ao longo de duas décadas, tem focado seus esforços na criação de experiências significativas no âmbito das viagens. 

“Eu sou filha de Inara, copeira da prefeitura de São Paulo e João, ex-presidiário do Carandiru. Mãe solo de um adolescente de 14 anos, que a desejou boa sorte, e isso quer dizer que é um desafio ser uma mulher preta onde eu estou hoje, considerada uma referência em capacitação e experiência em turismo de luxo no Brasil”, afirma. 

Depois de 23 anos de experiência na estrada do turismo, Nina falou sobre as mulheres que empreendem por necessidade. “Eu já fui CLT, mas nessa época me vi grávida, sem planejamento, seguindo o conselho da minha avó, que queria que eu clareasse minha família.” 

Rogéria fez sua carreira como vendedora de viagens de alto padrão, sem ter acesso a essas viagens que vendia. Aos 22 anos conseguiu a oportunidade de ir à França de classe executiva, o que ela diz ter mudado sua vida. 

A forma de empreender de Rogéria é com uma escola de mentoria para o segmento. “Quero que minhas alunas possam ampliar a visão, entendendo o quão é possível elas se posicionarem como empresárias e pouco a pouco iremos assumindo outras cadeiras, colocando a importância da mulher da empreendedora nas posições de decisão, de poder. A serem convidadas a eventos como este, a aprenderem a fazer políticas públicas e como o turismo também pode ser ferramenta de expansão de cultura, de história, de conhecimento”, finaliza.