O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico que tem início na infância, podendo persistir na vida adulta. Segundo os estudos científicos, a sua prevalência em todo mundo é de 5% a 8% da população – e assim, seguindo os dados que foram atualizados pela Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), pode-se calcular que 10 milhões de pessoas possam sofrer de TDAH no Brasil. Com uma forte carga genética, estima-se que 30% das crianças diagnosticadas têm um dos pais, quando não os dois, diagnosticados com o transtorno. Um dos assuntos mais populares na internet, nos últimos tempos, o tema tem despertado interesse na população e certa preocupação na comunidade médica e científica.

Essa preocupação está embasada em pesquisas: de acordo com levantamento do Google, nas pesquisas pelo termo TDAH, houve altas superiores a 100% ao ano, nos últimos anos, no Brasil, enquanto a média mundial ficou na casa dos 60%. Em outra pesquisa, realizada pelo The Canadian Journal of Psychiatry, descobriu-se que, nos 100 vídeos mais vistos no mundo sobre TDAH, no Tik Tok, pelo menos 50% deles continham informações falsas ou enganosas. Apenas 21% dos conteúdos analisados apresentavam informações cientificamente comprovadas.

Para quem, como eu, trabalha na indústria da saúde, tais dados paradoxais, realmente, chamam atenção. Sim, porque se por um lado é excelente que estejamos falando mais sobre o transtorno, por outro temos visto uma infinidade de pessoas sem qualquer conhecimento abordando um tema que precisa ser levado a sério!

Em recente entrevista, a presidente da ABDA, Iane Kestelman, fez um excelente paralelo para ilustrar o que estamos vivendo em relação ao TDAH. “Uma pessoa que tem diabetes não está apta a tratar diabetes. Quem faz isso é um endocrinologista. Isso deveria acontecer também com os transtornos mentais. Vemos muita gente que, por ter TDAH, se coloca como autoridade no tema e fala inúmeras bobagens. O transtorno precisa ser diagnosticado por um médico e tratado de forma multidisciplinar”, revela.

E diagnosticar e tratar o TDAH o quanto antes é essencial, para que o paciente possa ter uma vida plena; mas há um problema nesta questão: identificá-lo. O TDAH em adultos é uma extensão do transtorno em crianças, mas a maior parte dos pacientes não é diagnosticada na infância e, portanto, não recebe tratamento. Logo, quando esses indivíduos chegam à vida adulta continuam carregando a condição. Estima-se que dois terços das crianças com TDAH sigam com os transtornos na vida adulta por não terem recebido tratamento.

E os sintomas do TDAH no indivíduo adulto pode promover um verdadeiro caos em todas as esferas da vida do paciente, em especial, na profissional.

Os adultos com TDAH frequentemente enfrentam dificuldades com a organização, o cumprimento de prazos e a realização de tarefas. Eles podem se distrair facilmente, ter dificuldade em manter o foco, e isso pode levar à procrastinação e ao desempenho abaixo do esperado, independentemente da capacidade intelectual. Além disso, o TDAH pode resultar em instabilidade no emprego e altos índices de desemprego, devido à dificuldade de seguir rotinas e cumprir compromissos. Esses desafios podem contribuir para um ciclo de frustração e baixa autoestima, impactando negativamente a trajetória profissional.

Por isso, é essencial identificar e tratar o transtorno, razão pela qual precisamos levar o tema com mais seriedade, buscando opiniões embasadas e auxílio profissional.

Renomadas personalidades como Bill Gates, Simone Biles, David Neeleman, Sabrina Sato, entre outros, foram diagnosticados com TDAH e receberam tratamento, o que comprova que o paciente com o transtorno pode, sim, ter resultados excepcionais, se tratado de forma correta.

Precisamos falar cada vez mais sobre TDAH, mas, antes de tudo, é necessário estarmos atentos para que o TDAH seja levado a sério!

Entre os dias 29 e 31de julho, o Congresso Nacional esteve iluminado na cor laranja para marcar a Semana Nacional de Conscientização sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). A campanha é realizada desde 2022 e reforça que o tratamento precoce é o ponto- chave para uma vida mais saudável e produtiva.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ