Certa vez terminei uma palestra e fui abordada por várias pessoas, que me agradeceram ou fizeram elogios. Até que um homem veio a mim e disse que havia gostado da apresentação. Depois, deu sua opinião sobre como eu poderia melhorar.

Claro que sempre é possível melhorar, mas me ocorreu que ele estava sentindo necessidade de me educar a respeito de minha própria área de especialização, sem sequer se preocupar em perguntar sobre minha formação. Ele foi falando tudo na “melhor das intenções” e de forma bem didática, para que eu pudesse compreender…

Sim, ele estava praticando o chamado mansplaining. Esse termo, que ganhou destaque em 2018 com sua inclusão no dicionário Merriam-Webster, descreve a tendência de alguns homens falarem com mulheres, de maneira condescendente, sobre assuntos nos quais elas têm conhecimento igual ou superior, presumindo, erroneamente, que sabem mais do que elas.

Como executiva, empreendedora e defensora incansável da igualdade de gênero no ambiente profissional, gostaria de aprofundar este problema que é persistente no ambiente de trabalho.

Para muitas mulheres, o mansplaining é mais do que apenas uma irritação ocasional; é um obstáculo significativo que pode minar a confiança e prejudicar a progressão na carreira. Quando um homem assume que precisa explicar algo de forma mais detalhada para uma mulher, mesmo que ela já tenha um profundo conhecimento sobre o assunto, tal postura não apenas desvaloriza as habilidades e a inteligência dela, mas também reforça estereótipos de gênero prejudiciais.

Um dos problemas mais graves do mansplaining é o impacto que tem sobre as mulheres no ambiente de trabalho. Quando uma mulher é constantemente interrompida, corrigida ou ignorada por seus colegas masculinos, não apenas sua autoestima pode ser prejudicada, mas também pode sua credibilidade e capacidade de avançar na carreira. Estudos mostram que as mulheres são interrompidas com mais frequência do que os homens e, muitas vezes, têm suas ideias menosprezadas em reuniões e discussões profissionais.

Como as mulheres podem lidar eficazmente com procedimentos assim no trabalho e reivindicar o respeito e reconhecimento que merecem? Aqui estão algumas estratégias que podem ser úteis:

Dê um toque sutil para traçar uma linha

Quando uma mulher se depara com uma situação de mansplaining, ela pode fazer pequenas verificações sutis para mostrar que reconhece a condescendência, sem ser confrontadora. Isso pode incluir afirmar seu conhecimento sobre o assunto de forma educada e assertiva.

Uso do humor

O humor pode ser uma maneira eficaz de desarmar situações desconfortáveis de mansplaining. Uma resposta bem-humorada pode transmitir a mensagem de que a mulher não está disposta a aceitar a condescendência, ao mesmo tempo em que mantém o ambiente leve e acessível.

Redirecionamento

Quando uma mulher é interrompida ou ignorada em uma discussão, ela pode redirecionar a atenção para outra mulher presente na reunião, dando-lhe a oportunidade de contribuir e ser ouvida.

Uso da voz

Às vezes, as mulheres precisam falar mais alto do que seus colegas masculinos para garantir que suas vozes sejam ouvidas. Isso não significa ser agressiva, mas sim reivindicar seu espaço e assegurar que suas ideias sejam levadas a sério.

Confrontação direta, se necessário

Se todas as outras estratégias falharem e o mansplaining persistir, uma mulher pode optar por abordar a questão diretamente com o indivíduo envolvido. Isso pode ser feito de maneira respeitosa, mas firme, para destacar o comportamento problemático e buscar uma mudança de atitude.

Em última análise, o mansplaining é um sintoma de desigualdade de gênero persistente no local de trabalho e combatê-lo requer esforços contínuos, para promover a conscientização e a mudança de comportamento. À medida em que mais mulheres se unirem para desafiar essa postura desagradável e reivindicar seu espaço no ambiente profissional, estaremos construindo um futuro mais igualitário e inclusivo para todos.

Ah, querem saber como lidei com o caso que ocorreu comigo mencionado no início deste artigo?

Como eu era bem mais jovem do que sou hoje, e o termo mansplaining nem havia ainda ganhado a popularidade que hoje conhecemos, eu demorei para perceber o que estava se passando e fiz o que nós, mulheres, fomos ensinadas a fazer. Sentar-se pacientemente, ouvir, sorrir e depois seguir em frente. Certamente, hoje eu agiria de forma diferente! Oh, se agiria…!

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.