Marcele Oliveira, da periferia carioca à liderança jovem na COP30

Marcele Oliveira, 26, foi escolhida pelo presidente Lula (PT) como a Campeã de Juventude da COP30
Marcele Oliveira, 26, foi escolhida pelo presidente Lula (PT) como a Campeã de Juventude da COP30 Foto: Gabriel Della Giustina/Audiovisual Cop30/Secom-PR

Marcele Oliveira, 26, é uma ativista climática que, no dia 6 de maio, foi escolhida pelo presidente Lula (PT) como a Campeã de Juventude da COP30. Pela primeira vez, a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas será realizada no Brasil. O encontro está marcado para acontecer no mês de novembro, em Belém do Pará.

Com a nova função, Marcele quer desenvolver um mandato atuante e colaborativo, incluindo a participação de outros jovens. “Agora, tenho uma posição de liderança dentro da presidência [da COP], mas vale lembrar que o Brasil tem seis biomas e não há como falar de representação climática sem pelo menos seis pessoas diferentes para [detalhar] cada um deles”, explica a ativista.
Selecionada por meio de um edital público, Marcele conta que enfrentou um processo seletivo antes de conquistar a nomeação. A iniciativa, inédita, foi realizada pelo Governo Federal em parceria com a Secretaria Geral da Juventude e com o apoio da presidência da COP.

“Foram mais de 100 inscrições, sendo 24 pessoas habilitadas. A fase final envolveu uma série de entrevistas. Quando fui escolhida, fiquei extremamente feliz, mas também senti a responsabilidade que o cargo exige”, destaca a produtora cultural.

Durante os próximos dois anos, a Campeã de Juventude da COP30 tem a tarefa de construir metodologias que possibilitem o acesso de crianças, adolescentes e suas famílias à presidência da COP, além de criar diálogos que evidenciem a importância da preservação dos recursos naturais e do combate às mudanças climáticas.

“Não é um cargo que fala apenas sobre representatividade, como se o fato de eu estar em um espaço significasse representar todas as juventudes do mundo, ou mesmo todos os jovens do Brasil. É um trabalho de condução, que envolve participação, escuta e posicionamento para trilhar um caminho em conjunto”, diz Marcele.

De Realengo para o mundo

O caminho até esse reconhecimento não foi nada fácil. Para ter acesso aos estudos, a produtora cultural Marcele Oliveira, 26, cruzava de ônibus da Zona Oeste até a Zona Sul do Rio de Janeiro. Todos os dias, durante anos, ela atravessava a cidade e observava, pela janela do transporte público, as desigualdades que encontrava pelo caminho.

Nome conhecido na comunidade onde nasceu e cresceu, Marcele tem um forte histórico de atuação em projetos socioambientais. Entre as iniciativas de maior destaque da ativista está a mobilização que levou à criação do Parque Realengo Jornalista Susana Naspolini, o primeiro parque verde do bairro.

A área de lazer, inaugurada no ano passado, ganhou destaque internacional por sua arquitetura regenerativa, sendo considerada uma inovação urbana. “O parque era uma luta antiga do povo de Realengo, marcada pelo racismo ambiental e pela ideia de que um território periférico não podia ter uma área de lazer. Mas o movimento ‘Parque Realengo 100% Verde’ ousou pensar e conseguiu [realizar]”, afirma a ativista.

Ainda em 2024, Marcele decidiu trabalhar com uma agenda de cultura e clima, a ‘Realengo 2030’, em formato técnico, com o objetivo de criar uma ponte entre o debate global sobre as mudanças climáticas e as ações locais. “Foi através da PerifaLab e da ‘Coalizão: O Clima é de Mudança’, organizações que eu faço parte e que estão me emprestando para COP30, que percebi quanto mais usávamos ações culturais para falar das urgências climáticas, mais adesão recebíamos”, detalha.

Para a ativista, temas que impactam diretamente a população estão ganhando cada vez mais relevância entre os brasileiros: “Está todo mundo inquieto. Se você ainda não está, é porque não percebeu o que está acontecendo. Por isso, falar de cultura, mutirão e clima é extremamente necessário, afinal, a gente não protege aquilo que a gente não conhece”, diz.

Rompendo com padrões antigos sobre o que é o desenvolvimento econômico e social, Marcele acredita que sua missão durante a COP30 é fortalecer a agenda de ação e implementação, ampliar o mutirão global contra as mudanças climáticas e garantir que a juventude tenha voz nas negociações e também na presidência.

“Sou uma mulher negra, periférica, com a vivência do racismo ambiental no meu território. Mas busquei soluções locais por meio do ‘Parquinho Verde’ e da ‘Agenda Realengo 2030’, que resultaram na construção de políticas públicas que hoje promovem qualidade de vida para a população na cidade”, ressalta Marcele antes de completar “no entanto, não fiz nada sozinha e agora não vai ser diferente. Nunca existiu um ‘time champions’ da juventude na COP, porque decidi que não vou ser campeã sozinha”, finaliza.