Maria Cândida desafia o etarismo e amplia debate sobre saúde emocional das mulheres

Jornalista investe em novos formatos e lidera conversas sobre menopausa, autonomia e bem-estar feminino

Maria Cândida usa sua trajetória para ampliar o diálogo sobre menopausa e bem-estar feminino
Maria Cândida usa sua trajetória para ampliar o diálogo sobre menopausa e bem-estar feminino Foto: Rachel Guedes

No Brasil, onde o envelhecimento é pauta, mas a maturidade feminina ainda segue invisibilizada, Maria Cândida faz o movimento contrário. Aos 54 anos, a jornalista e apresentadora transformou sua experiência pessoal em um projeto de vida que hoje inclui livros, eventos e conteúdos audiovisuais sobre menopausa, saúde emocional e autonomia das mulheres.

Com uma linguagem direta e sensível, Maria não apenas informa, ela abre espaço para conversas acessíveis e necessárias. Entre reflexões e relatos, aborda assuntos que ainda carregam tabus e inspira outras mulheres a olharem para o envelhecer com naturalidade e respeito.

Autora de uma trilogia iniciada em 2011 com ‘Mulheres que Brilham’, a escritora encerra o ciclo com o livro ‘Menopausa como Jornada’, lançado este ano. A obra combina depoimentos, entrevistas com especialistas e orientações práticas voltadas a mulheres a partir dos 40 anos.

Segundo ela, a vontade de escrever surgiu da escuta, ao conversar com outras mulheres e se reconhecer nas histórias. “Muitas diziam que não tinham tempo para cuidar de si, que haviam se abandonado. Aos 45, 50 anos, já não tinham vontade nem de passar um batom. Eu também vivi isso. Passei por processos muito parecidos”, afirma.

A identificação veio das próprias vivências. Em 2009, ainda na TV Record, Maria enfrentou uma crise de pânico no camarim antes de entrar no ar com o Programa da Tarde. “Não imaginei que fosse perder o controle do corpo e da mente. Pensei que estava morrendo. Tentava respirar e, naquele momento, todo mundo foi lá para me ajudar”, relembra.

Mas não era apenas o trabalho que interferia na saúde da comunicadora. Questões pessoais também afetaram o seu emocional. “Era uma época em que não se falava de saúde mental, muito menos sobre o quanto ela poderia nos adoecer”, diz.

Com a decisão de dar uma pausa na rotina, Maria assumiu o comando do programa 12 Mulheres, programa que ela ajudou a idealizar. “Foi um projeto quase independente dentro da Record, desenvolvido em parceria com uma produtora”, explica.

A iniciativa levou a jornalista a viajar por 12 países ao longo de quatro meses. Em cada destino, ela entrevistava mulheres de idades, profissões e realidades distintas para entender como enfrentavam desafios e enxergavam a própria história.

“Esse período me mudou profundamente. Foi uma imersão real no universo feminino, ao todo mais de 144 entrevistas. Por isso digo que ali virei a chave, percebi qual era o meu propósito e o que eu realmente queria fazer.”

Em paralelo, na TV, Maria recebeu o convite para integrar o ‘Domingo Espetacular’, um dos principais programas da emissora, mas recusou a proposta e preferiu seguir no caminho que começava a construir. “Eu queria fazer um programa com mulheres brasileiras, e esse passou a ser o meu foco.”

A vontade de empreender

Com um currículo interessante, incluindo trabalhos de grande destaque em emissoras como Globo e SBT, Maria decidiu tirar um tempo para empreender, enquanto escrevia o primeiro livro. A pausa, que parecia apenas um respiro, acabou se transformando em um período de autodescobertas.

Durante três anos, ela se autofinanciou, criou projetos e se dedicou a estudar diferentes assuntos. “A internet ainda engatinhava. O Facebook estava começando, não existia essa troca instantânea que temos hoje. Então meu trabalho foi, de fato, me aprofundar em temas”, relembra.

Após essa imersão no empreendedorismo e em novos estudos, a apresentadora decidiu voltar à televisão aos 43 anos, mas o retorno foi mais difícil do que imaginava. O mercado, que antes ela dominava, agora se mostrava fechado. “Vieram negativas sucessivas, algumas diretas, outras silenciosas, mas todas carregavam a mesma mensagem implícita de que não havia mais espaço para mim”, diz.

Etarismo disfarçado

A jornalista sentiu, pela primeira vez de forma tão evidente, os efeitos do etarismo, muitas vezes velado. Para ela, ficou claro que a idade, mais do que sua competência, estava ditando portas que se fechavam: “Cheguei a ouvir que o meu tempo já tinha acabado na TV.”

Maria insistiu. Tentou outros canais, enviou currículos, se candidatou a novas vagas e trabalhou como assessora de imprensa por um tempo. Até que, em 2017, surgiu uma oportunidade na TV Aparecida. “Era um programa diário, com pautas voltadas ao universo feminino”, explica.

Com apoio de um celular, a apresentadora começou a compartilhar pequenos recortes de conteúdos nas redes sociais. Dois anos depois, foi convidada pela Globo para integrar o programa É de Casa, onde passou a comandar um quadro fixo. “A internet me salvou do etarismo”, afirma.

Novos formatos

Hoje, após encerrar sua trajetória de três décadas na televisão, Maria se dedica a construir novas linguagens e ampliar o debate sobre o envelhecer feminino através de sua produtora audiovisual, a Indira Filmes. É por meio dela que lidera o ‘Menopausa Summit’, evento que reúne especialistas e mulheres de diferentes gerações para discutir saúde, autonomia e longevidade, e também desenvolve o documentário ‘Menopausa sem Fronteiras’, previsto para o primeiro semestre de 2027.

Em paralelo, desenvolve uma série e um podcast que aprofundam o tema. Projetos que, juntos, confirmam a nova fase da jornalista. “Estou em uma fase muito bonita da minha vida, vivendo sonhos e me realizando em tudo o que acredito”, conclui.