Para Maria Eduarda Camargo, menstruar nunca foi apenas rotina. As alergias provocadas pelos absorventes descartáveis tornavam o período ainda mais difícil. Em busca de alternativas, ela percebeu que quase não havia opções no mercado. Foi então que surgiu a ideia de criar a primeira calcinha absorvente lavável da América Latina.
Ao lado da tia, e hoje sócia, Emily Ewell, Eduarda fundou a Pantys, marca de calcinhas absorventes que podem ser usadas em diferentes fases da vida da mulher, do ciclo menstrual à incontinência urinária. “Passei a minha adolescência inteira acreditando que existia um padrão, sem possibilidade de mudança, como se fosse algo imposto pela sociedade”, conta.
A visão da empresária começou a mudar quando percebeu que não era a única a sentir essa pressão. Formada em administração de empresas pelo Insper, em São Paulo, ela iniciou uma série de pesquisas para entender o contexto ideal para lançar o novo produto.
A experiência da família de Eduarda com manufatura de lingerie e pijamas acabou influenciando o caminho das duas sócias. A união da formação acadêmica de Emily, engenheira química, com o histórico de Eduarda proporcionou a base para que ambas cofundassem a Pantys, transformando uma necessidade pessoal em um negócio inovador.
“Precisávamos ser assertivas pela responsabilidade que tínhamos sobre a categoria. Mas também era preciso agir rápido para aproveitar o novo mercado que surgia”, detalha.
Hoje, quase dez anos depois, Eduarda, aos 29 anos, acompanha de perto a relação das mulheres com a Pantys e reflete sobre os aprendizados acumulados entre erros e acertos na sua trajetória empreendedora.
Nesse período, a marca cresceu, deixou de ser apenas uma loja online para conquistar pontos físicos e aprimorou suas coleções para atender às demandas das clientes sem perder sua essência original. Para ela, a evolução foi constante: “Ao longo dos anos, desenvolvemos tanto em tecnologia quanto em design”, descreve.
Além do produto, um movimento
Mas o que Eduarda não esperava era que a marca fosse além do produto, abrindo espaço para discussões relevantes sobre o universo feminino. “Começar um negócio em um mercado tão cheio de tabus fazia o risco parecer ainda maior, e, quando decidimos seguir para o mercado de menstruação, ficou claro que precisávamos nos aprofundar de verdade nesse tema”, relembra.
Desde o início, as sócias decidiram trabalhar com a realidade, usando cores, formatos e símbolos que remetem ao corpo e ao ciclo menstrual. Na época, “outros players evitavam dizer menstruação diretamente, usando expressões como naqueles dias ou líquidos azuis e roxos para representar o fluxo”, conta.
Esses detalhes, pensados e projetados para compor a linha de produtos, refletiam as características da Pantys, mas, mesmo com o sucesso de público, Eduarda precisou enfrentar desafios típicos de um mercado ainda marcado pelo machismo.
Em reuniões com fundos de investimento, a empresária chegou a ouvir que a empresa teria mais chances de prosperar se um homem fizesse parte do quadro societário. “Contamos tudo sobre a marca, a estratégia e os números, e ele disse que a empresa teria mais alcance se tivesse um homem no ‘equity’, e não apenas nós duas”, relembra.
Apesar dessas situações, ela não recuou. Pelo contrário, decidiu expandir o portfólio, incluindo produtos com tecnologia para incontinência urinária, um tema ainda mais delicado. “Quando fomos para esse mercado, encontramos muitas mulheres que convivem com o problema e se sentem inferiores, achando que são as únicas passando por isso, justamente porque o assunto não é discutido”, explica.
O grande aprendizado foi deixar de lado a preocupação com a opinião alheia e apostar em sua própria convicção. O resultado, uma empresa brasileira com estoque planejado para cinco meses que se esgotou em apenas três semanas. “A experiência reforçou a importância de acreditar no negócio, confiar na intuição e valorizar o time que está construindo o trabalho com você”, diz.
Eduarda também acredita que a Pantys tem potencial de se consolidar como uma marca de vanguarda, capaz de antecipar tendências e pensar no próximo passo sem perder a conexão com o real. A estratégia é expandir para novos mercados e oferecer soluções que acompanhem diferentes fases da vida da mulher.
“Queremos ampliar o portfólio com produtos têxteis e complementares, tornando a experiência com a marca cada vez mais completa, mas sempre com foco no bem-estar feminino”, finaliza.