Maternidade aumenta o risco de burnout pela sobrecarga de tarefas

A junção de trabalho, cuidados domésticos e expectativas irreais eleva os índices de cansaço entre as mães brasileiras, segundo pesquisas

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Levantamento mostra que 9 em cada 10 sofrem de esgotamento parental Foto: Envato

A conciliação entre trabalho e tarefas domésticas tem criado uma sobrecarga para milhares de mulheres, e essa condição se alavanca ainda mais quando adiciona-se a essas demandas a maternidade. O chamado “burnout parental” é cada vez mais comum e, segundo uma pesquisa realizada pela B2Mamy em parceria com a Kiddle Pass, cerca de 90% das mães trabalhadoras relatam esgotamento mental no Brasil. 

O problema não se restringe à maternidade. Segundo a Anamt (Associação Nacional de Medicina do Trabalho), 30% dos trabalhadores brasileiros apresentam sintomas ou diagnóstico de Síndrome de Burnout. Em 2023, o país registrou 288.865 afastamentos por transtornos de saúde mental, tornando-se o segundo com mais casos de burnout no mundo, de acordo com a ISMA (Associação Internacional de Controle do Estresse).

No entanto, entre as mães, essa taxa é muito maior. O levantamento da B2Mamy mostra que 9 em cada 10 sofrem de esgotamento parental, entre estágios graves e moderados, e mais de 50% já receberam algum tipo de diagnóstico relacionado à saúde mental. Entre as mães solos, o risco é 2,5 vezes maior.

O que leva ao burnout materno

A principal origem do burnout está na acumulação de papéis. A mulher, além de dar conta das demandas profissionais, precisa assumir o cuidado com os filhos e do lar, muitas vezes sem apoio e em jornadas que se estendem pela noite ou pelos fins de semana.

Essa sobrecarga com a chamada “dupla jornada”, pode acarretar na perda de produtividade no trabalho e em problemas de saúde mental. Uma pesquisa de mestrado em Ciências Biomédicas da Universidade Federal Fluminense mostrou que 42% das mães cientistas apresentaram sintomas de depressão, quase o dobro do índice entre pais na mesma carreira (22%).

Outro fator é o peso das expectativas, muitas vezes irreais, em que há a idealização da “mãe perfeita”: produtiva, amorosa, disponível e incansável. Essa figura inatingível alimenta a culpa, a autocobrança e a sensação de fracasso, sentimentos que ampliam a exaustão emocional e podem levar a quadros mais extremos caso não sejam devidamente tratados.

Além disso, a ausência de políticas de apoio intensifica esse cenário: creches inacessíveis, jornadas rígidas, licenças insuficientes e baixa flexibilidade nas empresas tornam a conciliação impossível para muitas mães. 

O que caracteriza o quadro

O burnout materno não se resume ao cansaço comum. Ele é marcado por exaustão emocional persistente, em que a mulher sente-se “acabada” ao final do dia, sem energia para cuidar de si mesma, dos filhos ou para realizar qualquer atividade.

Outros sintomas também incluem irritabilidade, insônia, culpa excessiva, dificuldade de concentração, alterações de apetite ou peso, isolamento social, medo constante de falhar e sentimentos de inutilidade. 

Esses sintomas, originalmente ligados ao burnout ocupacional, acabam por se aplificar no contexto da maternidade. A eles, somam-se o distanciamento emocional, tanto da rotina doméstica como dos próprios filhos, sensação de insuficiência e diminuição na realização pessoal e profissional.

A pressão para constantemente “provar” sua competência no trabalho contribui para que 60% delas estejam fora do mercado de trabalho atualmente, segundo pesquisa da Catho, um índice 35% menor do que o das mulheres sem filhos.