Eu sempre quis ser mãe. Uma das lembranças mais antigas de infância envolve minhas bonecas, carrinhos de bebê, bercinhos e eu aprendendo a fazer tricô, para garantir que cada uma tivesse seu próprio cobertor.
Cuidava delas. Dava banho, colocava para dormir, cobria.
Mal sabia que ali estava colocando em prática, de forma experimental, a Teoria do apego, desenvolvida pelo psicanalista inglês John Bolby (1907-1990). Estava praticando o cuidado, tão necessário ao desenvolvimento de toda e qualquer criança.
O apego, segundo os estudos de Bolby, é o vínculo que gera sensação de segurança e confiança da criança em relação a si mesma e aqueles que a rodeiam.
Mães sentem medo de tudo. Filhos também. E no fim das contas, o grande apoio que cada um dos dois tem é justamente o equilíbrio do outro.
Aquele sorriso que a gente dá e recebe, o contato visual e até o choro são comportamentos que retroalimentam o vínculo, sustentando a Teoria do apego, que vai muito além de qualquer ligação de DNA.
  Quando a maternidade bateu na minha porta, saindo da idealização da criança cuidadora de bonecas que eu fui, trouxe consigo medos. Muitos. E se eu não acordasse à noite? E se ele tivesse que ser levado às pressas para o hospital? E se acordasse com febre? E se chorasse sem parar? E quando ele me desobedecesse? E quando eu tivesse que dizer não?
Aplicando a teoria desenvolvida por Bolby na minha vida real, a partir daquele momento eu entrava no papel de cuidadora primária e verdadeiro espelho para desenvolvimento do meu filho, já que a criança desenvolve, ainda antes de ser capaz de racionalizar cada situação, expectativa sobre si mesma, relações sociais e o mundo em que habita a partir da observação desse cuidador, que primordialmente é a mãe.
Não são poucas as vezes que mães se dizem esgotadas com tanta demanda emocional, especialmente nas fases de ansiedade de separação vivida pelos filhos. Eles choram de um lado, a gente tem vontade (ou chora) do outro. Até que essa etapa é superada e chegam os novos desafios.
Comentamos com frequência como essa ou aquela fase da criança é difícil, mas vamos construindo, com base na teoria do apego, que talvez nem conheçamos, pontes para atravessá-las. E talvez seja exatamente aí que resida o tal paraíso da maternidade. No percurso.
São muitas as riquezas da maternidade escondidas nos detalhes do que muitas vezes deixamos passar, com uma vida extremamente atribulada.
São os sorrisos, os colos, os abraços. Os olhos brilhando quando os filhos nos encontram. O adormecer tranquilamente no nosso colo (e só no nosso, no de mais ninguém). E a magia que eles nos fazem acreditar que o nosso beijo tem de curar cada machucado, cada dor? No fundo, Bolby tem razão em afirmar que nós somos o solo firme do qual nossos filhos precisam para se desenvolverem.
Tem dias em que me pego tentando recordar como eram os meus dias antes da maternidade e simplesmente não consigo entender como eu não me sentia como se faltasse um pedaço de mim mesma naquele tempo.
Brinco com meu filho, hoje já migrando da infância para a adolescência, fazendo com que todos os dias eu me lembre do potinho dos medos e desafios, que ele é, desde sempre “a razão dos meus sorrisos e das minhas olheiras”. Talvez seja essa a minha versão do bom, velho e verdadeiro “padecer no paraíso”.
A maternidade é, sem sombra de dúvidas, um eterno medo e um emaranhado sem fim de clichês.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.