Mesmo com o avanço da diversidade nas empresas de tecnologia, a igualdade de gênero ainda está longe de ser uma realidade. As mulheres seguem em minoria, representando apenas 28% da força de trabalho global e enfrentam desafios que vão além dos números. O novo relatório da Acronis, “FOMO no trabalho: a lacuna de oportunidades entre homens e mulheres na tecnologia”, divulgado nesta terça-feira, 22, mostra que, enquanto os homens veem um mercado mais justo, as mulheres sentem que ainda precisam lutar por espaço.
O estudo ouviu mais de 650 profissionais de TI em oito países, entre eles Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Japão, e revelou as diferenças na visão entre homens e mulheres sobre o reconhecimento no setor.
A discrepância começa na forma como cada grupo enxerga as oportunidades. Três em cada quatro homens acreditam que há igualdade de acesso ao desenvolvimento profissional, mas só seis em cada dez mulheres concordam. A sensação de ter que se provar o tempo todo também é muito mais comum entre elas: 67% dizem que precisam trabalhar mais horas para avançar na carreira, contra 56% dos homens.
O desafio de equilibrar carreira e vida pessoal
Mais da metade das mulheres entrevistadas (52%) teme perder oportunidades por conta das responsabilidades familiares, uma preocupação que afeta apenas 42% dos homens. Entre os motivos para recusar promoções ou treinamentos, 48% das mulheres citaram justamente a dificuldade de equilibrar trabalho e vida pessoal.
É o que a Acronis chama de “FOMO no trabalho”: “fear of missing out” ou o medo constante de ficar para trás. Um sentimento que, para muitas mulheres, é alimentado pela falta de representatividade em cargos de liderança e pela persistência de estereótipos sobre o que significa “ser boa” em tecnologia.
“Lidar com essa disparidade de gênero requer mais do que boas intenções”, afirma Alona Geckler, vice-presidente sênior da Acronis. “As organizações precisam reconhecer isso e criar programas que ampliem as oportunidades de liderança, enfrentem o preconceito de frente e criem ambientes onde o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal não apresente barreiras que possam potencialmente desviar as carreiras das mulheres.”
Os números ajudam a dimensionar o problema. 41% das mulheres afirmam que o preconceito e os estereótipos de gênero são o principal obstáculo para entrar no setor. Entre os homens, apenas 34% reconhecem o viés de gênero como uma dificuldade.
A rotina também pesa: 63% das mulheres dizem que o desequilíbrio entre vida pessoal e profissional impacta diretamente suas chances de crescer, percepção compartilhada por apenas 49% dos homens.
Lideranças femininas melhoram a cultura nas empresas
Apesar das barreiras, o estudo traz um dado encorajador: 82% das mulheres afirmam que ter líderes femininas melhora a cultura da empresa, tornando os ambientes mais colaborativos, empáticos e diversos. Entre os homens, 74% concordam.
Essa percepção reforça a importância de investir em formações voltadas para lideranças femininas, prioridade para 70% das mulheres entrevistadas. “Destacar modelos femininos, abordar diretamente o preconceito e fomentar culturas inclusivas pode beneficiar toda a indústria. A oportunidade agora é transformar esses insights em ações que possam impulsionar a inovação e criar um local de trabalho onde todos possam prosperar”, diz Melyssa Banda, vice-presidente sênior da Seagate Technology.
Apenas 37% dos entrevistados acreditam que suas empresas são realmente proativas em promover a igualdade de gênero na liderança e quase metade (46%) diz que os esforços existem, mas “muito mais poderia ser feito”.
Segundo a Acronis, muitas empresas já reconhecem a importância da diversidade, mas ainda falham em transformar discurso em estrutura. As mudanças, quando existem, costumam ser superficiais, focadas em campanhas e treinamentos pontuais, e não em políticas sustentáveis a longo prazo.
Segundo o levantamento, as ações mais eficazes passam por mentorias consistentes, redes de apoio, recrutamento inclusivo e políticas familiares mais equilibradas, com licenças de paternidade igualitárias e horários flexíveis.