Monique Henriques amplia a presença feminina na infraestrutura aeroportuária

À frente da operação da concessionária Motiva, ela fortalece políticas de inclusão, expande rotas e abre novas oportunidades para mulheres no setor

A executiva Monique Henriques, responsável pela operação dos aeroportos administrados pela Motiva no Brasil
A executiva Monique Henriques, responsável pela operação dos aeroportos administrados pela Motiva no Brasil Foto: Divulgação

Com mais de duas décadas dedicadas aos setores de varejo, indústria e aviação, Monique Henriques tornou-se uma voz influente no ambiente historicamente masculino da infraestrutura aeroportuária. Diretora de Negócios Aéreos da Motiva, responsável por 16 aeroportos no Brasil e integrante do conselho do BH Airport, ela conduz uma reestruturação estratégica que combina expansão operacional, políticas de diversidade e programas de mentoria voltados para mulheres e mulheres negras.

Desde o início de sua atuação na companhia, em 2021, período em que a concessionária assumiu a gestão dos aeroportos do bloco, a presença feminina nos quadros da empresa passou de 32% para 41%, e a participação de mulheres em posições de liderança chegou a 46%. “Assumi essa posição e consegui perceber o poder de inspirar outras pessoas”, afirma. “É um mercado que tradicionalmente é muito masculino. Então, para mim, tem sido um desafio pessoal e assumo com muita responsabilidade esse papel”, diz.

Contudo, a trajetória profissional de Monique começou longe das pistas e hangares. Formada em engenharia química nos anos 1990, quando turmas de engenharia mecânica e eletrônica “tinham duas mulheres numa sala de 60”, iniciou sua carreira na indústria de higiene e limpeza, ainda em um mercado dominado por homens. O salto para áreas de maior complexidade operacional veio no varejo de shopping centers, setor que ela descreve como “o mais igualitário em termos de homens e mulheres”. O passo seguinte consolidaria sua entrada definitiva no universo aeroportuário: o Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde assumiu a área de varejo e, posteriormente, toda a receita não tarifária, incluindo publicidade, real estate e estacionamento. A experiência ampliou sua visão sobre negócios, operações e rotas, preparando o terreno para um movimento maior.

A profissional foi então convidada para compor a equipe que estruturaria a gestão dos aeroportos recém-vencidos, em 2021, pela Motiva na sexta rodada de concessões. No início, assumiu a área de receitas não tarifárias; depois, tornou-se diretora comercial; e, por fim, diretora de Negócios dos Aeroportos Brasil, posição que hoje a coloca à frente da operação completa dos 16 aeroportos nacionais e das articulações estratégicas do BH Airport via conselho. “Respondo por todo o negócio de aeroportos do Brasil”, diz. “Manutenção, engenharia, operações, área comercial, comunicação: todas essas áreas reportam a mim”, explica. A Motiva soma cerca de 750 colaboradores no país, além de ser o terceiro maior grupo aeroportuário em número de passageiros e o segundo em número de aeroportos administrados.

Mudança de cultura

A transformação da empresa passou, antes de tudo, pela reformulação cultural. Desde a concessão, a Motiva ampliou significativamente a presença feminina em posições-chave, promovendo gestoras a postos antes exclusivamente ocupados por homens e implementando ações afirmativas em áreas técnicas, operacionais e estratégicas. “Tínhamos aeroportos que nunca tinham tido uma supervisora mulher”, relembra Monique. Em Bagé, município do Rio Grande do Sul, por exemplo, a primeira supervisora assumiu apenas após a chegada da empresa. Outros casos foram ainda mais simbólicos: posições de fiscal de pátio, tradicionalmente masculinas, passaram a ser ocupadas por mulheres; e o terminal de cargas farmacêuticas recém-inaugurado em Goiânia é administrado integralmente por uma equipe feminina. “Não porque a gente incentiva só mulheres, mas porque elas se prepararam e estavam prontas para assumir”, explica.

A agenda de diversidade, porém, não se limita ao recorte de gênero. Monique destaca que a empresa iniciou um movimento estruturado para ampliar a representatividade racial, sobretudo entre as mulheres negras. O programa Impulsione, lançado recentemente, oferece mentoria individual para colaboradoras negras que atuam como especialistas ou coordenadoras e que buscam ascender às posições de liderança sênior. “O objetivo é formar as mulheres negras para que ocupem essas posições”, explica. O fato de a diversidade não estar equilibrada em todos os níveis mostra por que as ações precisam ser intencionais. “A nossa diversidade contribui, mas não reflete necessariamente o setor. A gente tem desafios nessa pauta e consciência do nosso papel de transformação”, diz.

Impacto nas comunidades

Além da dimensão humana, a estratégia aeroportuária conduzida por Monique passa por crescimento operacional, aumento da conectividade regional e padronização de experiências considerando a realidade do entorno e das populações locais. Segundo Monique, a Motiva pesquisa o perfil dos passageiros e das comunidades aeroportuárias — como ela chama funcionários das companhias aéreas, lojistas e prestadores — e adapta cada terminal ao contexto cultural. Murais de azulejos em São Luís, elementos do cangaço em Petrolina, cuia na entrada de Bagé, souvenires de capivaras em Curitiba: pequenas narrativas visuais que funcionam como marcos de pertencimento. “Quando você é da cidade, você chega e tem aquela sensação de ‘estou em casa’. Quando é de fora, já entende que está entrando em um lugar diferente.” Ao mesmo tempo, a empresa fortalece o turismo local em parceria com secretarias e entidades regionais e investe na ampliação do número de rotas, estratégia que, segundo ela, tem impacto direto na economia dos municípios atendidos.

A sustentabilidade é outro eixo estruturante. A empresa recebeu pelo segundo ano consecutivo o reconhecimento Green Airport do Conselho Internacional de Aeroportos (ACI), graças a ações que vão do reaproveitamento de materiais metálicos em obras — aumentando a vida útil e evitando descarte desnecessário, à adequação das centrais de resíduos, com maior capacidade de triagem e descarte ambientalmente correto. Também atua na proteção da biodiversidade: é parte do programa Amigos da Onça em Foz do Iguaçu, orienta equipes sobre prevenção à exportação ilegal de animais silvestres e apoia iniciativas ligadas ao capim-dourado no Tocantins. Em Belo Horizonte, destaca a eletrificação de aeronaves em solo por meio do sistema 400 Hz, que reduz a emissão de combustíveis. “O mercado está cada vez mais atento a isso”, afirma.

Embora reconheça o avanço da presença feminina na infraestrutura aeroportuária, Monique observa que ainda existe uma distância significativa entre a realidade da Motiva e o padrão do setor. A experiência pessoal resume esse contraste. “Participei como painelista recentemente, em um evento focado no segmento aeroportuário, e entre oito pessoas eu era a única mulher.” O episódio, diz ela, reforçou simultaneamente orgulho e responsabilidade. “Era um painel que não reflete a Motiva Aeroportos e sei que também já não reflete as demais concessionárias, mas ainda tem muito para evoluir”…“É um orgulho estar nessa posição, mas também uma responsabilidade enorme. Nosso papel é fazer com que outras mulheres acreditem que elas possam ocupar a posição que elas querem ocupar.”