Mulheres dedicam quase 10 horas a mais por semana ao cuidado não remunerado

Novo estudo da OIT e do MDS expõe como a sobrecarga de cuidados afasta mulheres do mercado de trabalho e amplia desigualdades de gênero

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Globalmente, as mulheres realizam 76,2% de todo o trabalho de cuidado não remunerado. Foto: Envato

Enquanto o tempo define o rumo da vida profissional, ele não pesa da mesma forma para todas as pessoas. No Brasil, mulheres dedicam em média 9,8 horas a mais por semana ao cuidado não remunerado do que os homens, uma carga invisível que acaba por impactar suas carreiras, rendimentos e oportunidades. Entre mulheres negras, o número é ainda maior: 22,4 horas semanais.

Os dados integram o estudo “Políticas para a Corresponsabilidade no Mundo do Trabalho”, lançado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) em parceria com o MDS (Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome). O levantamento oferece um panorama sobre como o trabalho de cuidado permanece distribuído de forma desigual.

O peso do cuidado e suas consequências às mulheres

Além da diferença no tempo dedicado às tarefas domésticas e cuidados familiares, o estudo aponta que metade das mulheres deixa o mercado de trabalho até dois anos após o nascimento do primeiro filho. O mesmo período marca, para muitos homens, um aumento de rendimentos.

Nas áreas rurais, o quadro se agrava. Ali, mulheres realizam mais que o dobro de horas de cuidado em comparação aos homens, e a diferença é maior do que nas zonas urbanas,  chegando a 12,4 horas semanais a mais.

O cenário brasileiro acompanha a tendência mundial. Globalmente, as mulheres realizam 76,2% de todo o trabalho de cuidado não remunerado, dedicando 3,2 vezes mais horas que os homens, segundo a OIT. São 606 milhões de mulheres fazendo cuidados em tempo integral, frente a 41 milhões de homens.

Licenças equitativas e corresponsabilidade

O estudo aponta como possíveis caminhos a ampliação e equiparação das licenças de maternidade e paternidade, sendo uma das medidas mais eficazes para reduzir penalizações às mulheres e estimular a divisão de responsabilidades.

A pesquisa também reforça a importância de o Brasil avançar na tramitação da Convenção nº 156 da OIT, que trata de trabalhadoras e trabalhadores com responsabilidades familiares,  documento que cria diretrizes para evitar discriminação e garantir tempo digno para o cuidado.

Entre as propostas apresentadas estão a ampliação de serviços públicos de cuidado, como creches, centros de convivência, serviços para idosos e pessoas com deficiência e a flexibilização da jornada de trabalho. 

Além disso, é defendido o incentivo à corresponsabilidade entre os gêneros, programas como o Empresa Cidadã, que ampliam licenças mediante incentivos fiscais, e políticas integradas que garantam o direito ao cuidado como função social, e não como responsabilidade isolada das mulheres.

O relatório foi apresentado na Academia de Cuidados, evento internacional realizado pela OIT em parceria com o MDS, o Ministério das Mulheres, a Enap e o Cinterfor. O encontro reuniu especialistas, gestores públicos e organizações latino-americanas para debater o futuro das políticas de cuidado.