Mulheres enfrentam exclusão nos cursos de tecnologia da informação

Estudo revela que só 18% das estudantes de TI são mulheres e aponta exclusão e baixa permanência como desafios estruturais no ensino superior

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Com baixa representatividade e ambiente hostil, mulheres ainda enfrentam grandes barreiras para se formar em cursos de tecnologia da informação no Brasil Foto: Freepik

Apesar do crescente incentivo à entrada de mulheres no setor de tecnologia, a presença feminina nos cursos universitários de TI no Brasil ainda é drasticamente baixa. Um estudo publicado este ano por pesquisadoras da Universidade Federal de Sergipe (UFS), intitulado Overcoming Obstacles: Challenges of Gender Inequality in Undergraduate ICT Programs (“Superando Obstáculos: os desafios da desigualdade de gênero em cursos de graduação em TIC”), mostra que apenas 17,8% das pessoas matriculadas nos cursos da área são mulheres. E mais do que números, o levantamento revela um ambiente que ainda é percebido por elas como hostil, competitivo e solitário.

A pesquisa foi conduzida por Angelica Pereira Souza, Flávia Ribeiro Nóbrega e Camila de Almeida Silva, com base em entrevistas, questionários e análise de evasão em instituições públicas e privadas. Um dos achados mais contundentes é que muitas estudantes relatam desistir do curso por não se sentirem acolhidas ou por enfrentarem discriminação direta de colegas e professores.
“A hostilidade não está só em comentários machistas, mas também no isolamento. Em muitos grupos de trabalho, elas são deixadas de lado ou têm que provar o tempo todo que merecem estar ali”, aponta o estudo, disponível no repositório arXiv.

Outro ponto abordado é a cultura de competição extrema, comum em graduações de engenharia e computação, que tende a favorecer estudantes com histórico prévio em lógica e programação, o que, segundo o estudo, muitas vezes está mais acessível a meninos desde a infância, pela forma como são socializados.

Além da baixa representação, o estudo destaca que as taxas de evasão entre mulheres são mais altas do que as de seus colegas homens. Em alguns cursos, elas representam até 30% dos ingressantes, mas apenas 10% dos concluintes.

Mesmo entre as que permanecem, há menor participação em projetos de pesquisa, grupos de extensão e eventos científicos, o que reduz suas chances de inserção em programas de pós-graduação ou no mercado de trabalho com salários competitivos.

Caminhos para reverter o cenário

O relatório não apenas denuncia, como também propõe caminhos possíveis para ampliar a permanência e o sucesso acadêmico de mulheres na área de TI. Entre as recomendações:

  • Criação de redes de apoio e mentoria entre alunas e profissionais da área;
  • Oferta de projetos introdutórios em lógica e programação voltados ao público feminino;
  • Formação de professores com foco em equidade de gênero e identificação de microviolências;
  • Avaliação institucional de práticas discriminatórias, inclusive nas metodologias de avaliação e dinâmicas em sala.

A baixa presença feminina nos cursos de TI tem reflexos diretos no mercado de trabalho. Em áreas como ciência de dados, engenharia de software e cibersegurança, onde há alta demanda por profissionais, a sub-representação das mulheres significa menos diversidade de pensamento, inovação limitada e reprodução de vieses nos sistemas que impactam milhões de pessoas.