Mulheres na tecnologia sentem retrocesso na igualdade de gênero, aponta relatório

Mesmo com mais preparo e confiança para liderar, profissionais afirmam que a redução de programas de diversidade e o cenário global têm dificultado avanços na área

Envato
Mesmo com avanços individuais, quase metade das profissionais ouvidas (49%) relatou ter sofrido sexismo ou discriminação no último ano. Foto: Envato

Seis em cada dez mulheres que atuam no setor de tecnologia acreditam que a igualdade de gênero retrocedeu no último ano. O dado vem da nova edição do relatório State of Gender, elaborado pelo programa Women in Tech, do Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. 

Realizada com 671 mulheres de diferentes continentes, o contraste é evidente: 81% das entrevistadas afirmam se sentir prontas para liderar equipes, mas mais da metade (56%) acredita que o cenário geopolítico atual, marcado por cortes em programas de diversidade e instabilidade econômica, tem minado os avanços conquistados nas últimas décadas. 

Retrocesso nas políticas de gênero

Em 2024, a percepção era oposta: 51% das mulheres acreditavam que a equidade estava em progresso. Agora, 60% enxergam um recuo, impulsionado pela redução de investimentos em iniciativas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão). A pesquisa aponta que 61% das profissionais não veem ações efetivas para corrigir a desigualdade de gênero.

Para muitas delas, o “clube dos meninos”, expressão usada por uma das entrevistadas, voltou a dominar os espaços de poder. O chamado “clima de guerra”, com tensões políticas e cortes orçamentários, teria contribuído para despriorizar pautas de gênero e reduzir o financiamento de projetos voltados à capacitação de mulheres.

Mesmo com avanços individuais, quase metade das profissionais ouvidas (49%) relatou ter sofrido sexismo ou discriminação no último ano. A maioria descreve o preconceito como sutil, porém persistente, com interrupções em reuniões, ideias ignoradas ou explicadas novamente por colegas homens, e constantes dúvidas sobre competência técnica.

Mais de 80% afirmam que precisam se esforçar mais que os colegas para provar seu valor, o índice mais alto desde 2022. E o equilíbrio entre carreira e vida pessoal ainda é um dilema: 56,5% dizem ter de escolher entre crescer profissionalmente ou formar uma família, um aumento de sete pontos em relação ao ano anterior.

IA como ferramenta de igualdade

Apesar do cenário desafiador, o estudo mostra a tecnologia como uma potencial aliada. Três em cada quatro mulheres acreditam que a inteligência artificial pode ampliar oportunidades, estimular a criatividade e facilitar a conciliação entre trabalho e vida pessoal.

O uso das ferramentas também é alto: 77% das entrevistadas afirmam utilizar IA todos os dias. Ainda assim, uma em cada quatro teme que os próprios algoritmos acabem reproduzindo perspectivas de gênero que tentam combater.