Mais de 350 mulheres negras se reuniram em Santo Domingo, na República Dominicana, entre os dias 19 e 25 de julho de 1992. Este encontro foi uma resposta à omissão do debate racial nos Encontros das Feministas Latino-Americanas. O objetivo era discutir a realidade das mulheres negras da diáspora, dar visibilidade ao movimento e discutir estratégias para ampliar a participação das mulheres na política.

Foi este o marco histórico que deu origem ao Dia da Mulher Negra Latino-americana, Caribenha e da Diáspora, celebrado anualmente em 25 de julho. Neste julho das pretas, são celebradas a intelectualidade, a insubmissão e a capacidade das mulheres negras de gerar transformação social.

Mais do que uma data reconhecida pela ONU – Organização das Nações Unidas –, este dia revela a potência da mobilização de mulheres de 32 países. Entre elas, destacamos Sueli Carneiro, por quem nutrimos profunda admiração e carinho. Sua participação, como bem descreve a querida Bianca Santana em seu livro “Contínuo Preta”, contribuiu ativamente para o avanço dos direitos da população negra.

Pioneira na luta pelos direitos das mulheres, Sueli publicou o primeiro estudo no Brasil a expor os números que refletiam as desigualdades entre mulheres negras e brancas, abrindo caminho para uma nova forma de analisar a realidade brasileira.

Outro legado é o Geledés – Instituto da Mulher Negra –, fundado por ela há 36 anos, que tem contribuído enormemente para a institucionalização do debate racial, ensinando várias gerações de mulheres a serem insubordinadas e a se organizarem politicamente.

Mulheres seguem na vanguarda da inovação, atuando em diversos setores e ousando na criação de soluções para os desafios complexos da sociedade. Com sabedoria e criatividade, são protagonistas nas ações que estão moldando futuros mais justos.

Jurema Werneck lembra que nossos passos vêm de longe e fundamentam caminhos. Sob essa perspectiva apresentamos duas conterrâneas soteropolitanas talentosíssimas que, com brilhantismo, rompem com a mentalidade colonial, materializam o presente e constroem pilares para sociedades antirracistas: Bárbara Carine e Carla Akotirene.

Bárbara Carine Soares Pinheiro, conhecida como uma intelectual diferentona, é mãe, doutora, escritora, professora e finalista por dois anos seguidos do prêmio Jabuti com as obras “História preta das coisas: 50 invenções científico-tecnológicas de pessoas negras” e “@Descolonizando_saberes: mulheres negras na ciência”, publicadas pela LF Editorial. Com um trabalho consistente e inovador nas redes sociais, Bárbara desafia estereótipos e lança novas perspectivas para questões do cotidiano.

Em 2017, fundou a Escola Maria Felipa em Salvador, primeira escola afro-brasileira do país, que valoriza o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Uma segunda unidade está sendo projetada no Rio de Janeiro, com previsão de inauguração em 2025. Em sociedade com Maju Passos, propõe uma visão disruptiva no campo educacional. A missão é formar adultos críticos e dispostos a atuarem em prol da construção de sociedades menos desiguais e mais abertas à diversidade.

Quem também admiramos por fazer a diferença na vida de muitas mulheres é Carla Andrade da Silva Santos, a encantadora Carla Akotirene. É doutora em estudos feministas, consultora em políticas antirracistas e escritora.

Coordenou a primeira Campanha Nacional contra o Extermínio da Juventude Negra e, em 2016, criou o “Opará Saberes”, junto com outras intelectuais e pesquisadoras, com o objetivo de oferecer ciclos de formação para quem deseja ingressar no mestrado e doutorado.

Seu livro, “É fragrante fojado dôtor vossa excelência”, publicado pela editora Civilização Brasileira, finalista do prêmio Jabuti 2024, é a primeira obra que propõe intervenção nas audiências de custódias, como dispositivo jurídico, para o desencarceramento da população negra. Carla é uma importante liderança feminista e antirracista da atualidade.

Inspire-se em mulheres como Sueli, Bárbara e Carla que atuam para materializar a diversidade nos espaços, sejam públicos ou privados, escolas ou empresas. Apoie projetos dessas mulheres e engaje em outras práticas antirracistas.

Esse artigo foi escrito de forma colaborativa e em parceria com Sara Araujo, cientista social que atua na área do direito familiar e é sommelier de cerveja.

Ao pegar o bastão oferecido pela Sueli, com afeto e respeito, saudamos todas as mulheres negras que pavimentaram caminho que percorremos hoje e outras que seguem esse lindo trabalho coletivo.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.