Mulheres negras têm a pior renda anual média do Brasil, aponta relatório da Fazenda

O documento revela que desigualdades estruturais colocam mulheres negras na base da pirâmide de renda, apesar de avanços em inclusão e políticas sociais

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Entre todos os recortes possíveis, as mulheres negras concentram os piores índices. Foto: Envato

As mulheres negras seguem sendo o grupo mais afetado pela desigualdade econômica no Brasil. Um novo relatório divulgado pelo Ministério da Fazenda nesta segunda-feira, 1, mostra que elas possuem a menor renda anual média do país.

O documento, chamado Relatório da Distribuição Pessoal da Renda e da Riqueza da População Brasileira, cruzou dados do IRPF (Imposto de Renda de Pessoas Físicas) com informações da Pnad Contínua. Em todas as faixas analisadas, as pessoas brancas apresentaram rendimentos maiores do que a média nacional, enquanto pretas, pardas e indígenas permaneceram recebendo salários mais baixos.

Um retrato da desigualdade

Segundo o levantamento, brasileiros brancos têm renda anual média de R$54,8 mil, valor acima da média nacional (R$39,1 mil). Já as rendas de pessoas pretas (R$26,6 mil), pardas (R$26,2 mil) e indígenas (R$24,4 mil) ficam muito abaixo desse patamar.

Entre todos os recortes possíveis, as mulheres negras concentram os piores índices. No espectro inverso, os grupos mais ricos seguem dominados por pessoas brancas, com apenas 4% de pessoas pretas entre os 2% mais ricos do país.

A concentração de renda também é outro fator reforçado pelo relatório. Os 1% mais ricos detêm 37,3% de toda a riqueza declarada à Receita Federal em 2023; já os 10% concentram 64,2% de toda a renda captada no ano.

Fonte: DIRPF 2023 e PNADC 2023 (quinta vista). Elaboração do Ministério da Fazenda

Trabalho, raça e gênero

O relatório reforça que as mulheres negras acumulam mais camadas de vulnerabilidade no mundo do trabalho. Elas são maioria nos empregos informais, nos vínculos mais precarizados e nas atividades com menor proteção social. 

Consequentemente, estão mais expostas ao subemprego e ao impacto direto das crises econômicas. Segundo a pesquisa, não se trata apenas de renda, mas de acesso desigual a oportunidades, redes profissionais, herança patrimonial e políticas de mobilidade.

Mesmo quando possuem escolaridade equivalente à de outros grupos, elas continuam ganhando menos, dado a dificuldade de ascensão a cargos de liderança, vieses raciais e a distribuição desigual de tarefas domésticas e de cuidado não remuneradas. 

Segundo o Ministério da Fazenda, para enfrentar esse cenário é necessário políticas públicas permanentes, intersetoriais e monitoradas, incluindo ações de inclusão no mercado formal, revisão tributária, ampliação de programas de transferência de renda e incentivo à educação de qualidade.